O fotógrafo italiano é o co-autor de Alma às Cores, a exposição que abre hoje as portas ao público, no Mundo do Vino, em Lisboa. Um projeto que desenvolveu com a designer francesa Odile Dardenne. Em comum: a amizade de ambos e a paixão por Portugal.
Sérgio Pagano, fotógrafo italiano, tem trabalhos de arquitetura, música e gastronomia publicados na Casa Vogue, Abitare, Elle. Tem ainda dezenas de livros publicados. E uma vivência em cidades como Paris, Milão, Rio de Janeiro. Lisboa é agora a sua cidade. Por enquanto.
Um dia, o diretor da Elle Brasil propôs-lhe fotografar gastronomia. Hoje, diz obrigado. Porquê?
Digo-lhe obrigado, porque ele soube ler no meu trabalho (que até então em nada estava relacionado com gastronomia) a possibilidade de fotografar gastronomia. São poucas as pessoas que sabem ler o trabalho dos outros, sem usar sempre a mesma etiqueta. Eu encontrei algumas importantes no meio, quando comecei a fotografar espectáculos de Rock Internacionais em Paris e depois na moda… Há que conhecer a história das pessoas e não apenas o último trabalho.
Gastronomia portuguesa, fale-nos do que mais gosta?
Esse é um projeto que criámos, eu e a Odile, após tantas conversas. Além da amizade, tínhamos a vontade de um dia fazer algo juntos, a partir do nosso trabalho. Assim surgiu a exposição Alma às Cores, a partir de uma entrevista sobre nós, feita por uma escritora francesa que soube traduzir os nossos pensamentos e o que nós pretendíamos.
Em Paris já fotografou Bob Dylan, Van Morrison e outros grandes nomes. Fale-nos da foto. A foto que mais o marcou.
Tenho feito muito trabalhos de fotografia de interiores, em Milão, Paris e no Brasil. Os mais desafiantes foram os primeiros em Milão, quando chegavam as peças ao estúdio, de quartos, cozinhas, banheiros entre outras, para os catálogos e para as publicidades, nas revistas.
Na altura, não havia digital. Não se podia errar, porque o camião estava à espera para levar de volta a mercadoria. O importante de tudo, além da técnica, é perceber o que é que o cliente quer de nós e acrescentar o nosso olhar, que será sempre o nosso olhar. A câmara não faz a foto sem um pensamento por detrás dela, que dirige o olhar particular e da vida a toda estaticidade das imagems, criando um movimento na imagem, quase um cinema. É isso que eu tento passar, no meu trabalho fotográfico.
Portugal – O que me gosta neste país? O que ainda gostaria de fotografar?
Sim, em Portugal, país que amo de paixão, com a sua luz, com a sofisticação entre o antigo e moderno: um livro sobre gastronomia e arquitectura, juntos e misturados… Todas as imagens possuem uma arquitetura, quer seja uma azeitona, uma paisagem ou um prédio. Um pouco como um dos meus livros de gastronomia, chamado Sabor do Brasil, que conta a história do país .
A minha estadia aqui não tem um prazo definido. Como aconteceu nos outros países em que vivi. Gosto do país como um todo, porque acho que é um país solar e cinza, aconchegante, tranquilo, charmoso. Tudo me encanta, até os pequenos detalhes. Tem excelentes artistas em todas as áreas culturais. Conheço Portugal desde 1977 e fiquei fascinado por este piccolo Paese, mas nunca tinha pensado em morar um dia aqui. Mas aqui estou, a começar do zero. Carrego somente a vivência espiritual e as minhas lentes e câmara fotográfica. O resto está nas nuvens eletrónicas. Muito material já se perdeu, mas não importa. Nós conhecemos o que fizemos e os nossos erros.