Eve Ensler by Paula Allen

A Desculpa, por Eve Ensler

“Já não vou esperar mais. O meu pai está morto. Ele nunca me dirá as palavras. Ele não pedirá desculpas. Por isso, preciso de imaginar o pedido de desculpas.” 
Eve Ensler, autora de A Desculpa

Eve Ensler, 65 anos. Mundialmente conhecida pelos Monólogos da Vagina, a peça baseada nas centenas de entrevistas que fez a mulheres acerca da sua sexualidade e imagem corporal, e que 23 anos depois, continua um texto atual e feminista, aclamado em palco, em 140 países.

Eve Ensler, cuja peça inspirou o Dia V, um movimento internacional para acabar com a violência de género, sobre mulheres e raparigas, decidiu abordar o assunto que tem evitado, em entrevistas, nos últimos anos.

Trinta e um anos após a morte do pai, Eve Ensler publica A Desculpa. É um pedido de desculpas escrito por Eve, na voz do pai. É o pedido de desculpas que Eve nunca ouviu do seu pai, tal como, refere, nunca ouviu dos homens predadores às suas vítimas. Eve esperou uma vida inteira por um pedido de desculpas. E decidiu que não iria esperar mais: o pedido de desculpas teria que ser imaginado, por ela e para ela.

“Alguns homens perdem o emprego, alguns são presos, perdem status. Mas quando é que ouvimos um homem, acusado de abusos, a fazer um autêntico e público pedido de desculpas à vítima?”, pergunta Eve Ensler

 

Sabemos tanto sobre Eve. E tão pouco. A Desculpa é um livro perturbador. Poderoso. Marcante. Nas palavras de Eve à imprensa, A Desculpa é um livro libertador. Eve equacionou viver com o drama ou sair da caverna. “E foram precisos 65 anos para chegar aqui”, recorda a escritora. Eve precisou de escrever A Desculpa para libertar-se.

Eve foi violada pelo pai quando tinha 5 anos. Aos abusos sexuais, somaram-se os episódios de violência física. Eve tinha 10 anos. Recorda-se de o pai a estar a sufocar, dar-lhe socos no rosto, com ameaças de morte, e espancando-a com um cinto. A mãe de Eve olhou-os em silêncio. O pai nunca pronunciou até ao dia da sua morte uma única palavra de arrependimento.

A cronologia da autora recua mais  longe e traça-nos o perfil de um homem com um infância infeliz, marcada por um pai rigoroso e um irmão agressivo e buller, cujo sadismo poderá estar refletido na violência de Arthur contra a filha Eve.

A narrativa mostra-nos este monstro dissecado em formato humano. O pedófilo é também o frustrado vendedor de (falso) charme e de gelados numa loja, nos subúrbios dos Estados Unidos da América.

Mas A Desculpa não é um perdão para o violador, salienta a autora. É uma libertação para a vítima. Através de A Desculpa, Eve encontrou um novo caminho para si e uma possível estrada para outros sobreviventes de abuso que, desta forma, possam descobrir como se libertarem.

 

Foto Instagram Eve Ensley, by Paula Allen

 

 

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