Casa de Banho Diploma

“Isto só pode ser uma piada! Depois li o despacho…”, Crónica de Magda Fernandes

A minha privacidade é igual à tua, sobretudo na casa de banho, Crónica de Magda Fernandes

Magda Fernandes, Mulher, Mãe, Advogada. De Bem com a Vida.

"Isto só pode ser uma piada! Depois li o despacho...", Crónica de Magda Fernandes Magda-Fernandes-Cronica

Crónica de Magda Fernandes

Fui assistindo no período estival a esta discussão acesa relativamente ao despacho que prevê que nas escolas, em situações especiais, possam os menores de sexo feminino ou masculino em processo de transição ter o direito a escolher que casa de banho usar.

A primeira impressão com que qualquer pessoa criada sob os padrões ditos conservadores dos anos setenta e oitenta vislumbra – confesso – é: isto só pode ser uma piada! Depois pensei melhor, li o despacho, pensei novamente e mudei de ideias.

Vejamos: não se trata de permitir que os meninos que têm a sua cabeça feita quanto ao facto de serem meninos poderem agora ir espreitar as meninas nem vice-versa. Não será assim, se tudo correr com o respeito pelos casos especiais que a norma pretende proteger. Não será uma grande maluquice e não creio que tenha de temer pela minha filha ou pelo meu filho. Seja em que circunstância for. Até porque, imaginando que cada um se sente confortável com o sexo com que nasceu, que faria se assim não fosse?

Se um ele se sente uma ela, ou uma ela se sente um ele, podemos negar o direito à sua privacidade e autodeterminação obrigando-os a frequentar espaços tão privados como uma casa de banho junto daqueles que são, para eles, o sexo oposto? Isto para não ferir as susceptibilidades de quem teve a sorte de nascer com o sexo coincidente com o seu sentimento social?

O meu lado conservador deu rapidamente lugar a um lado mais humano. Os casos em que tal uso de casa de banho é permitido são precisamente os casos em que a criança/ jovem se encontra em reconhecido processo de transição sexual, em que pediu mudança de nome, em que é acompanhada por psiquiatras. Não é o caos. Se os meus filhos aprenderem a lidar com isso com respeito pelo próximo – até porque nada me garante que não venham eles a ser ‘o próximo’ – já me dou por satisfeita.

Admito que não foi fácil chegar a esta conclusão. Tive semelhante instinto imediato associado ao horror e a uma certa repulsa. Mas pensando melhor: e se fosse comigo? Com os meus filhos? A resposta está dada. As privacidades de cada um são isso mesmo, privacidades.

E que sítio mais privado, para além da nossa casa, do que uma casa de banho? Caminhamos lenta mas coerentemente no sentido de aceitar que a ninguém é lícito, por motivos de mera cultura social, determinar nem coarctar os direitos de outros. Isso chama-se evoluir.

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