Uso da força na Escola

Professores britânicos podem fazer uso “razoável da força” contra estudantes

“Podia ser anedota mas não é.

O que andamos a fazer? Quem andamos a escolher para nos representar?”, comenta a especialista parental Magda Gomes Dias.

A polémica estalou em Agosto, quando o jornal britânico The Guardian divulgou o documento a que teve acesso, com medidas de educação propostas pelo primeiro-ministro Boris Johnson, para as escolas do Reino Unido. Entre as principais medidas do pacote, destacam-se as seguintes: “uso razoável da força” por parte dos professores, como forma de melhorar o comportamento em sala de aula; aumento dos salários dos professores; encorajamento aos professores para confiscar ou banir telemóveis.

“Este governo”, segundo constava no documento, “apoia os professores no sentido de melhorar o comportamento e irá apoiá-los na criação de ambientes escolares seguros e disciplinados”.

“Vamos apoiar o uso de poderes para promover o bom comportamento, incluindo sanções e recompensas; como usar força razoável; confiscar objetos dos alunos (incluindo telemóveis); (…) suspender e expulsar os alunos; proibir telemóveis”.

Faz sentido?

“O uso da força, como princípio, não faz sentido nenhum”, comenta Magda Gomes Dias, autora do blogue Mum’s the boss.

Com certificação internacional em Inteligência Emocional, em Educação Positiva e em Coaching, a também mãe de duas crianças não nega o efeito de uma palmada. “Funciona. Não me vão ouvir dizer nunca que uma palmada não funciona”.

Mas Magda prefere abordar o assunto da disciplina por outro ângulo: “sou uma apologista de medidas preventivas” que, ao contrário da palmada, possam ensinar. A especialista na área comportamental destaca algumas: “aprender a defender-se; trabalhar o respeito em sala de aula; aprender a ouvir as outras crianças; aprender a ouvir opiniões diferentes, percebendo que quem tem uma opinião diferente da minha, não está contra mim”.

Às escolas, refere a fundadora da Escola da Parentalidade Positiva, cabe definir as regras, mas também envolver os alunos: “as salas de aula têm que ser mais participativas, os alunos têm que agir com autonomia mas com responsabilidade”.

E onde é que se aprende tanta lição? “Há quem considere que a escola ensina e é em casa que se educa. Acontece que estamos perante uma nova dinâmica, os empregos são mais exigentes, há famílias novas e em construção. E a escola é uma excelente oportunidade, nomeadamente para as crianças encontrarem adultos de referência que, por vezes, não têm em casa”.

E a palmada funciona mas não é referência. 

“A declaração das nações unidas, a maior parte das leis dos Estados membros proíbe os maus tratos a qualquer pessoa (as crianças são pessoas pequenas!) e defende a criação de instrumentos de apoio à parentalidade mas também dos próprios educadores e outros profissionais que precisam de novas estratégias e respostas. O uso da força, de castigos e sanções  poderá funcionar no curto termo mas será que é assim que queremos que os nossos governantes tratem os nossos?”, questiona Magda Gomes Dias.

A especialista recorda o facto de a lei britânica sobre violência doméstica não incluir expressamente os mas tratos a crianças, ao contrário da lei portuguesa, que pune a violência infantil.

Professores britânicos podem fazer uso "razoável da força" contra estudantes Magda-Gomes-Dias

Magda Gomes Dias

Foto destaque: Photo by JESHOOTS.COM on Unsplash

 

By Paula Santos

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