As Férias do Meu Pai

As férias do meu pai e o Serviço Nacional de Saúde, Por Ema Pires

Hoje, o dia que assinala os três anos da morte do pai, a professora universitária Ema Pires partilha em Júlia, de Bem com a Vida, uma carta aberta. Sobre adoecer em tempos de troika.

“Mas o Júlio teve também muito azar por ter ficado doente durante os anos da troika”

Esta é uma mensagem para os amigos/as do Júlio Dias Pires.

Faz hoje três anos que o meu pai tirou bilhete para a Eternidade.

Os seus amigos e família guardam dele as memórias privadas que ficam de fora deste texto. Mas há memórias públicas que devem ser dadas neste dia:

Nos últimos dois anos e meio de vida, a sua condição humana levou-o a conhecer por dentro o Serviço Nacional de Saúde. Fez novos amigos entre o pessoal de saúde e os bombeiros que (em Torres Novas e em Lisboa) o acompanharam sempre, em momentos de emergência e em momentos de calmaria.

O Júlio teve muita sorte por encontrar esta gente no seu caminho. Equipas médicas incríveis, enfermeiros e bombeiros dedicados (entre eles, a Liliana e o Fernando) e técnicos dedicados (como a Susana Santos).

Mas o Júlio teve também muito azar por ter ficado doente durante os anos da troika: o seu tratamento oncológico foi interrompido porque o hospital de Lisboa onde fazia tratamento deixou de ter dinheiro (as tranches do ministério das finanças para a saúde vinham a conta-gotas). Ele nunca soube disto, porque a sua filha única lhe mentiu dizendo que lhe estavam a dar uns meses de férias.

Talvez por isso, sempre que oiço políticos e comentadores fazerem críticas ao Serviço Nacional de Saúde, e advogar sobre a necessidade do seu desmantelamento, lembro-me sempre das ‘férias’ do meu pai…

 

Photo by Bruno Martins on Unsplash

 

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