Porquê voltar à rádio 25 anos depois?
A rádio é a minha pele, a minha origem, a minha família. Foi na rádio que dei os primeiros passos enquanto profissional de comunicação, foi onde cresci, onde me enamorei e conheci o homem com quem casei. O amor FM voltou a bater forte na segunda geração Pêgo e a rádio tornou-se genética. Tornou-se família. A rádio é família. Como sabem, o Rui Maria é filho da rádio. E ainda que esteja hoje numa outra estação, ele é um filho da Rádio Renascença.
Eu tinha 19 anos quando entrei na rádio. E sinto que o divórcio foi demasiado longo. É verdade que a minha paixão atual é a televisão, assumo. E durante muito tempo não considerei o regresso. Com um marido na direção da Antena 1, esteve sempre fora de questão propor um qualquer projeto. “Os Bons Rapazes” foi o último que apresentei na antena, ao lado da Conceição Lino e da Paula Moura Pinheiro. Um programa de entrevistas na Rádio Comercial, no qual apenas entrevistámos figuras masculinas. Álvaro Cunhal terá sido das entrevistas mais marcantes na altura.
A Hora da Júlia não é um programa de entrevistas. Também não é entretenimento. Nem humor, apesar de as vivências que iremos partilhar poderem trazer alegrias e gargalhadas. A Hora da Júlia, que começa esta segunda-feira, às 23 horas tem a mais simples de todas as equações que existem na área da comunicação: um host e os seus “convidados”, aqueles que quiserem pegar no telefone e marcarem o “meu” número. Eu vou estar em casa (o programa é todo feito a partir de casa), no meu reduto, para vos ouvir. Numa altura em que as pessoas estão confinadas, eu ouço-as. Eu escuto as suas histórias. Já recebi críticas por falar muito durante as conversas em televisão. Mas, honestamente, diria que é fama sem proveito. Honestamente, gosto muito de escutar.
E é daqui que parte A Hora da Júlia. Mais precisamente das muitas mensagens que tenho recebido neste últimos tempos, dizendo: “Se eu pudesse um dia falar consigo”. São esses anónimos também os responsáveis pelo meu regresso à rádio. A linha está aberta para essas pessoas que não encontram na televisão o aconchego e a intimidade para as histórias que gostariam de partilhar comigo. Serão os ouvintes os protagonistas da A Hora da Júlia. E eu sou o depósito, a gaveta das memórias, das preocupações e das dúvidas que enchem os nossos dias, em tempos de pandemia. Que bom vai ser receber-vos em minha casa na A Hora da Júlia. Basta “tocar à campainha” a partir das 23 h.