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“No primeiro dia pensei: ‘Anabela estás infetada'”, Anabela Brilha, Mãe, filha, esposa e Técnica Superior de Radiologia

Por Anabela Brilha
Mãe, filha, esposa e Técnica Superior de Radiologia❤️😷

O pior dia desde que estou a trabalhar? O primeiro. Foi horrível. Estávamos preparados, mas nunca se está preparado para isto. Eu tinha que fazer RX do tórax no serviço de infeciologia, mas cada vez chegavam mais doentes, e alguns eram funcionários do hospital… Eram colocados em salas, e ficavam à minha espera, para lhes fazer o RX que o médico iria ver e que seria determinante para irem para casa ou permanecerem no trabalho. No primeiro dia, senti-me tão exposta, e como eu, também a enfermagem, os auxiliares. Todos queríamos ajudar, mas ainda estávamos a assimilar os procedimentos, e os imensos protocolos que recebemos via email acerca de como executar as tarefas. Nesse dia, pensei: ‘Anabela, estás infetada. Já cometeste tantos erros, por stress e pelo cansaço acumulado debaixo destes fatos… ‘.

Perguntam-me muitas vezes o que faz um técnico de radiologia. Fazemos o exame radiológico do tórax, e é através dele que conseguimos perceber a evolução abismal desta doença. Também fazemos TAC, tendo sempre presente que os doentes com COVID-19 não podem cruzar-se com outros doentes. Tudo atualmente é uma dinâmica muito complexa, desde a preparação de uma sala para um doente com coronavírus à sua desinfeção, após a saída. São procedimentos demorados e agressivos, onde a ajuda auxiliar é fundamental.

Estou forte agora… E durante todas as horas consecutivas de trabalho, estou focada. Mas no final de cada turno, chego a casa de rastos. Na viagem de carro, do hospital para casa, procuro estar em contacto telefónico com amigos e familiares. O meu pai está a perder a vista. Costumo ligar-lhe em videoconferência para acompanhar o seu pequeno-almoço. Porque já não podemos tomar o pequeno-almoço juntos, como habitualmente.  Que saudades de andar a trocar turnos só para ir tomar o pequeno-almoço com o meu pai.

Resguardem-se. Fiquem em casa. Aproveitem quem têm em casa para abraçar, beijar. É dura esta batalha, mas basta ficarem em casa em isolamento, reduzirem as saídas, usar luvas nos supermercados, de preferência as que são ou deveriam ser fornecidas pelos supermercados, e não as que trazemos de casa e que já mexeram em tanta coisa. É importante chegar a casa, descalçar os sapatos que trazemos da rua. Fazer uma zona de sujos à entrada de casa, para colocar os sapatos e casacos que andaram na rua, os sacos das compras, e desinfectar as mãos. Tudo isto é tão importante quanto abraçarem quem têm em casa.

 

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