José Eduardo Agualusa

“Em português nunca tive um bom professor. Em contrapartida, tinha uma boa biblioteca”, José Eduardo Agualusa

A propósito do novo romance “Os vivos e os outros”, trocámos dois dedos de conversa com o autor, José Eduardo Agualusa, um dos mais importantes escritores em língua portuguesa da atualidade. 

"Em português nunca tive um bom professor. Em contrapartida, tinha uma boa biblioteca", José Eduardo Agualusa Os-Vivos-e-os-Outros

Os Vivos e os Outros

O romance passa-se na Ilha de Moçambique, onde decorre um festival literário com vários escritores que ficarão aqui isolados e sem notícias do mundo, na sequência de uma forte tempestade. Logo nas primeira páginas surge Daniel Benchimol, personagem de ‘A Sociedade dos Sonhadores Involuntários’ e ‘Teoria Geral do Esquecimento’. Este livro estava previsto ser lançado em abril mas o confinamento atrasou a publicação.

O José Eduardo Agualusa esteve na Feira do Livro de Lisboa, em sessões de autógrafos, num contexto de pandemia e com regras de segurança. Foi desconfortável? 

Já tinha estado antes em eventos com leitores, em Portugal e em Moçambique, durante a pandemia. Acho que não me causa tanta estranheza. Na feira aparece muita gente conhecida, amigos e leitores, isso não mudou. Tirando as máscaras, foi uma feira como as outras.

Numa entrevista que deu em 2014, à Anabela Mota Ribeiro, contou sobre uma professora que teve, que dava poesia angolana mas que era muito violenta. O Zé era considerado “um mau aluno. Estava na chamada fila dos burros irrecuperáveis”. E eu lembrei-me deste episódio há dias, a propósito do Dia Internacional da Literacia. Como é que se passa de “mau aluno” a escritor premiado nacional e internacionalmente?

Provavelmente exagerei um pouco. Não era bom aluno na escola primária, só no secundário fui um pouco melhor. Em todo o caso, em português nunca tive um bom professor. Em contrapartida tinha uma boa biblioteca em casa e lia muito. Tornei-me escritor lendo outros escritores — não há nisso novidade alguma. Quem forma um escritor são os escritores que vieram antes dele.

Como é que se aprende a escrever bem?

Lendo. Observando. Estando disponível para o imprevisto. E depois escrevendo, escrevendo, escrevendo.

Como lhe surgiu a ideia deste seu novo livro, Os Vivos e os Outros?

A partir de um conto, um pouco estranho, sobre a ideia do Purgatório. E a partir de uma certa tarde, na Ilha de Moçambique, contemplando uma tempestade no continente.

Sobre José Eduardo Agualusa
Nasceu na cidade do Huambo, em Angola, em dezembro de 1960. Estudou Agronomia e Silvicultura. Viveu em Lisboa, Luanda, Rio de Janeiro, Berlim — e, atualmente, divide o seu tempo entre Lisboa e a Ilha de Moçambique. É romancista, contista, cronista e autor de literatura infantil. Os seus romances têm sido distinguidos com os mais prestigiados prémios nacionais e estrangeiros; O Vendedor de Passados ganhou o Independent Foreign Fiction Prize, em 2004, e Teoria Geral do Esquecimento foi finalista do Man Booker International, em 2016, e vencedor do International Dublin Literary Award (antigo Impac Dublin). José Eduardo Agualusa recebeu também na categoria de literatura, o Prémio Nacional de Cultura e Artes (PNCA), edição 2019. Este prémio foi atribuído pelo conjunto das suas obras. Os seus livros estão traduzidos em 25 idiomas.

 

 

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