Mitch Albom - Foto Instagram

“Aprendi que carregar um filho ao colo é o trabalho mais nobre que se pode ter”, Mitch Albom

O Mitch é um escritor best-seller (os seus livros estão publicados em 47 línguas e a sua obra tem sido adaptada para filmes galardoados com o prestigiado Emmy Award). É também jornalista e músico norte-americano. E publicou recentemente aquele que considera ter sido o livro mais difícil de escrever em toda a sua vida. Agradeço ao Mitch esta conversa que tivemos via email. E agradeço-lhe o testemunho comovente de um homem que descreve tão bem a palavra família (abaixo).

Um Milagre chamado Chika parte de uma história real. Chika nasceu três dias antes do sismo catastrófico que abalou o Haiti, em 2010. Ao seu terceiro dia de vida, Chika ficou sem casa. E a mãe faleceu pouco tempo depois. Tinha três anos quando chegou ao orfanato de Mitch Albom e Janine Sabino, um casal que decidira sair dos Estados Unidos para abrir um espaço de acolhimento no Haiti. A criança depressa conquistou toda a equipa do projeto de acolhimento. Mas dois anos depois, chegou a notícia: uma pequena massa no cérebro assinalou a presença de um tumor cerebral, conhecido como DIPG (o glioma pontino intrínseco difuso é um tipo de cancro infantil, muito agressivo e para o qual não existe cura). Mitch e a esposa, que não tinham filhos, não se conformaram com a sentença e regressaram com Chika aos Estados Unidos, em busca de uma resposta. De Nova Iorque, partiram para a Europa, entre tantas outras passagens. Foi durante a viagem que se tornaram família. Chika morreu com sete anos. E o pai escreveu este livro para lhe prestar uma homenagem.

“As família são como obras de arte, podem ser feitas de muitos materiais. Por vezes são famílias desde o nascimento, outras vezes são misturadas, outras ainda são apenas tempo e circunstância que se unem (…). Contudo, independentemente de como uma família se une, e independentemente de como se afasta, a verdade é só uma: não se pode perder um filho. E nós não perdemos uma filha. Foi-nos dada uma. E era gloriosa.”, Mitch Albom

 

“É o livro mais difícil que eu já escrevi na vida – é o livro mais pessoal que eu já escrevi e, gosto de pensar, que é também o meu melhor livro. Ela (Chika) merece isso”. São declarações suas (à imprensa). Qual foi a parte mais difícil de escrever neste livro – Um milagre chamado Chika?

A parte mais difícil foi, provavelmente, ter sido tão honesto acerca da dor que sentimos, acerca dos momentos emocionais, e até mesmo quando escrevi sobre a minha vida no passado, o facto de ser ambicioso e de ter adiado a paternidade. Depois, é difícil recordar as conversas que tive com a Ckika, no dia a dia, sem ficar comovido. Esta é certamente a experiência mais comovente que já experienciei ao escrever um livro.

Este livro é sobre a Chika, uma órfã haitiana que aos 7 anos acabou por morrer na sequência de um tumor cerebral sem cura (DIPG). Mas o Mitch não se conformou com o diagnóstico e viajou pelo mundo em busca de um tratamento…  Quais os maiores desafios e descobertas desta “viagem” que pode partilhar no sentido de ajudar outros pais?

Nunca desista. Este seria o meu primeiro conselho. Aprendemos de forma rápida e triste que a comunidade médica, assim como outras esferas da vida, tem as suas limitações e fragilidades humanas. Existem médicos nos Estados Unidos da América que não estão disponíveis nem abertos para ouvir falar sobre outros tipos de tratamento fora do país e são críticos relativamente a isso. Então, quando saímos dos Estados Unidos e experimentamos novos tratamentos, perguntamo-nos por que razão não poderíamos ter essa oferta nos Estados Unidos. Você tem que ser o advogado do seu próprio paciente. O não pode presumir que os médicos ou os enfermeiros vão tratar de tudo para si, porque apesar de bem-intencionados, estão muitas vezes assoberbados de trabalho com outros pacientes. Ninguém cuidará do seu filho da maneira que você. E o seu filho depende de si para fazer exatamente isso.

Em entrevista à Oprah, sobre o livro Tuesdays with Morrie (Às terças-feiras com o Morrie), diz que todos nós tivemos (ou teremos) um professor na vida, que fará a diferença. Para quem ainda não leu o livro, muito elogiado pela Oprah, pode destacar uma grande lição que tenha aprendido com o seu professor de sociologia, Morrie Schwartz, com quem teve muitas conversas no hospital, onde ele “esperava o fim dos seus dias”.  

Diria que me marcou muito a expressão que ele usava: “dar a vida”. O professor Morrie não queria tirar nada às pessoas enquanto estava a morrer. Pelo contrário, o facto de dar fazia com que sentisse mais vivo. Tentei aplicar isso na minha vida. Dar aos outros traz-nos à vida de uma maneira muito diferente comparando quando compramos ou acumulamos coisas. Foi um espírito generoso que me trouxe ao Haiti e que me envolveu num orfanato. E em troca, fui abençoado com uma linda filha adotiva. Então, a Chika mostrou-me que o Professor Morrie estava certo.

E com Chika – a “lição” mais importante que aprendeu com ela?

Com Chika, aprendi que carregar um filho ao colo é o trabalho mais nobre que se pode ter. Eu tive que carregá-la ao colo nos últimos quatro meses da sua vida, onde quer que fôssemos. Foi o trabalho mais importante que eu já tive e um do qual mais sinto falta todos os dias.

O Mitch escreveu, no Detroit Free Press: “O nosso próximo ataque ao COVID-19 deve ser mais inteligente”. O que isso significa? Como considera que podemos ser mais espertos e vencer essa luta?”

Aqui na América, poderíamos ter sido mais inteligentes em muitos níveis. Poderíamos ter terminado as discussões acerca de quem estava certo ou errado, e admitir que tínhamos um grande problema. Certamente poderíamos estar mais bem preparados. No início, não tínhamos testes suficientes, nem espaço nem ventiladores suficientes nos hospitais. Acho que aprendemos muitas lições e certamente estaremos mais bem preparados se uma situação como esta acontecer de novo. Eu rezo para que não aconteça.

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Um milagre chamado Chika

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