Ana Lopes Enfermeira COVID 19

“Eu acredito nesta vacina. Espero-a com esperança, desde março”, Ana Lopes, enfermeira e uma das primeiras pessoas a ser infetada com Covid-19 em Portugal

A 2 de março registaram-se os primeiros casos de Covid-19 em Portugal. Ana Lopes, enfermeira no Hospital de Ovar, consta destas estatísticas. “Comecei a sentir dores de cabeça que se prolongaram por vários dias. O cansaço também aumentava. Depois, alguma tosse e dores de garganta. Enquanto profissional da linha da frente, e ainda sem certezas nem muitos conhecimentos sobre a doença na altura, tal como a maioria das pessoas, partilhei com a equipa e fiz o teste.” Ana Lopes recorda-se do medo e da ansiedade que acompanharam o resultado positivo. O marido testou negativo. Mas o filho de seis anos também estava infetado. “Esperava-vos um isolamento de 44 dias e, em Março, as regras da DGS definiam que o regresso à normalidade só poderia acontecer após dois testes negativos”, lembra.

A família passou assim a dividir a casa. Na parte de cima do duplex, Ana e Lourenço. Na parte de baixo, o pai. Era ele que confecionava as refeições. Mas uma vez que estavam todos em isolamento, a tarefa das compras cabia à família e aos vizinhos – elementos muito importantes nesta fase pandémica.

A mãe e os sogros de Ana acompanhavam a doença à distância, mas com imagem,  graças às novas tecnologias do skype e zoom. Mas Ana passou a, determinada altura, a precisar de algo mais especializado que o bom apoio e conforto da família: “é preciso não ter vergonha nem receio de pedir ajuda psicológica. Em março, a pouca informação que existia sobre a doença antecipava-nos muitos receios. Eu estava muito assustada. A dado momento, deparei-me com pensamentos como: ‘e se eu nunca mais negativar?’. Foi então que, além da médica que me assistia, passei a ter o acompanhamento de uma psicóloga. Foi muito importante para manter a calma. É fundamental pedir ajuda”.

O Lourenço apresentava igualmente sintomas, desde febre a problemas gastrointestinais. Apenas Ana tomava conta do filho, uma vez que o pai continuava negativo e a cumprir o distanciamento de segurança da família. “Ele foi o nosso suporte, ainda que convivêssemos com ele à distância”.

Às tantas, tiveram necessidade de recuperar alguma normalidade: “como o Lourenço joga basquetebol, o pai montou-lhe um mini campo na sala”, destaca. E depois ainda inventou uma área de futebol. Todos os materiais eram entretanto desinfetados e os rituais eram para cumprir: além dos hábitos regulares de higiene, a família vestia-se como se fosse sair para o exterior.

“Apesar de termos conseguido controlar os sintomas em casa e nunca termos sido hospitalizados, foram momentos muito difíceis, de muita ansiedade”, refere Ana.

Ao fim de 44 dias, vieram os dois testes negativos e… “uma enorme sensação de liberdade. Julgo que experienciei uma sensação semelhante à dos prisioneiros que obtêm ordem de libertação. Recordo ainda a recuperação do olfato, um sentido do qual já não tinha memória”.

Após uma prova familiar que entende superada e depois de vivenciar o cerco sanitário imposto ao seu município durante 31 dias (a DGC colocou Ovar em quarentena, em Março, na sequência do ritmo a que a doença se disseminava na comunidade), Ana sente agora uma esperança pela qual aguardava desde março: “eu acredito nesta vacina. E quando chegar a minha vez, estou pronta para ser vacinada. Eu acredito. Temos que acreditar”.

Um dos testemunhos que marcam o ano de 2020.

“Eu acredito nesta vacina. Espero-a com esperança, desde março”, Ana Lopes, enfermeira e uma das primeiras pessoas a ser infetada com Covid-19 em Portugal campo-basquetbeol

O Campo de Basquetebol improvisado em casa

 

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