O país vai voltar a fechar. E a decisão sobre as escolas deverá ser tomada amanhã. Em Inglaterra, na Irlanda, na Dinamarca, em alguns estados da Alemanha e em algumas regiões de Itália, rompeu-se o consenso anterior de manter o ensino presencial.
Em Inglaterra, esta mudança de atitude foi especialmente abrupta. Um dia depois de aparecer na televisão a pedir aos pais que mandassem os filhos para as escolas, insistindo de que estas se tratavam de locais seguros, o ministro britânico Boris Johnson ordenou o fecho de todos os estabelecimentos de ensino, em Inglaterra, até fevereiro.
O jornal inglês Finantial Times adianta um motivo para este recuo: a 22 de dezembro, o ministro ouviu um grupo de consultores do governo. Entre as conclusões partilhadas na reunião, os especialistas referiram que é “altamente improvável” baixar a taxa de reprodução desta nova variante coronavírus, sem fechar as escolas primárias e secundárias. “Continua a ser difícil identificar os locais onde acontece o contágio entre crianças, e é importante considerar os contactos fora da escola”, lê-se no documento.
A decisão das escolas em Inglaterra estará ainda sustentada num estudo que associa as taxas de infeção por COVID-19 entre alunos e funcionários, às taxas da comunidade mais ampla, nesta segunda onda de pandemia. O estudo sobre a infeção nas escolas, uma parceria da Public Health England (equivalente à Direcção-Geral da Saúde), e da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, testou cerca de 10 mil estudantes e funcionários em novembro passado. Os testes foram feitos independentemente de quaisquer sintomas. O estudo revelou que 1,24% dos alunos testou positivo. E que, tal como a percentagem dos alunos, a dos funcionários (1,29%) também foi mais elevada nas escolas secundárias do que nas primárias.
“Estes resultados parecem mostrar que a taxa de infeção entre alunos e funcionários que frequentam as escolas reflete o que está a acontecer fora dos portões dos estabelecimentos de ensino. É por isso que todos precisamos de assumir a responsabilidade de reduzir as infeções se quisermos manter as escolas abertas e seguras para os nossos filhos”, declarou Shamez Ladhani, investigador do estudo.
Patrícia é portuguesa e, não fosse a pandemia, seria ainda diretora de uma empresa em Londres, onde vive com o marido e as filhas. Primeiro veio o lay-off, depois o desemprego no verão. Conta-nos que as filhas, 11 anos e 6 anos, não regressaram à escola após as férias do Natal: “aqui as escolas fecharam dadas as previsões de um pico de infeções após a época natalícia, o que veio a confirmar-se. A medida também se deve ao facto de a nova estirpe do coronavírus ser mais contagiosa. E ainda pela perceção de que as pessoas, apesar de assintomáticas, trazem a doença para casa”.
As filhas, a frequentar uma escola privada, estão neste momento com ensino à distância: aulas durante o dia, uma sessão de dúvidas todas as tardes e algumas horas dedicadas à forma física e ao bom desenvolvimento psicológico e mental. No ensino público, as crianças têm também apoio, via televisão (equivalente à Telescola da RTP2), com cerca de três horas diárias e que contam com o contributo de “especialistas e apresentadores que os mais novos conhecem. É um trabalho muito importante que está a ser desenvolvido”, destaca Patrícia.
O marido está em teletrabalho, e o casal não conta com apoios do Estado. Patrícia destaca a grande campanha de sensibilização feita pela estrela do futebol do Manchester United, Marcus Rasford. Graças à sua voz, vários restaurantes e empresas têm oferecido refeições gratuitas às crianças, durante as interrupções escolares.
Sobre Portugal, o país que visitou nas férias do verão e onde fez teste à Covid-19 (resultado negativo)? “O que nós aprendemos aqui é que as crianças trazem, de facto o vírus para casa. E, em Portugal, onde o tecido familiar é muito forte e onde há mais contacto na família, talvez o fecho das escolas pudesse ajudar a diminuir a transmissão às pessoas com mais idade”, refere.
Patrícia conta que, durante o primeiro período escolar, não teve conhecimento de casos positivos na escola das filhas e que apenas foi partilhada uma infeção, durante as férias do Natal.
Em Londres, apenas as crianças dos chamados key workers (trabalhadores da linha da frente) e as de creches estão nas escolas. É o caso do Ben, 3 anos, filho da portuguesa Ana. Ana, 39 anos, é catering and events museum manager.
Está em teletrabalho, já teve COVID e a escola do seu filho já fechou por duas vezes, dados os casos de infeção. “Sabemos que as crianças quase nunca têm sintomas, mas são vetores do vírus. Por isso, concordo que as escolas tenham fechado em Inglaterra. Acho que foi essencial. Estamos a viver uma situação única e diferente daquela que vivemos no início da pandemia. Eu fiquei infetada através do meu filho, que foi contagiado por outra criança e que acabou por infetar quatro adultos. Em Portugal, as escolas também deveriam seguir este exemplo, é a minha opinião”.