No Reino Unido, país que ontem registou um novo recorde de mortes por COVID-19, a linha da frente está esgotada, por cansaço e falta de recursos.
Tiago S. é português e trabalha como médico num hospital de Inglaterra, desde Janeiro de 2019. Conta-nos que tem assistido ao “aumento de mortes e a um aumento de pessoas em situações graves, nomeadamente grupos de risco e idosos”. As consequências desta pandemia são enormes, revela: “não conseguimos cumprir os tempos para cirurgias que estão marcadas nem conseguimos dar resposta no tratamento de doenças agudas, como cardíacas, neurológicas. Tudo isto porque o sistema está sobrelotado, há mais doentes e menos staff. Alguns departamentos deparam-se com baixas de staff na ordem dos 50%. E os recursos estão praticamente alocados à pandemia. Estamos cansados, o ambiente é de desgaste, de emoções negativas, e mais propício ao erro. O cansaço é generalizado em todas as valências do hospital. Basta olhar para as estatísticas e comparar março de 2019 com dezembro de 2019 ou mesmo janeiro de 2020. Estamos, sem dúvida, com muitos mais casos de infeção. Acresce a falta de camas para receber doentes. Em Portugal, também já se verificou o que se passa aqui: estão 12, 15 ambulâncias à porta dos departamentos de emergência médica porque não temos capacidade de receber todos os doentes no hospital”.
No que respeita à recente medida de encerramento das escolas em Portugal (recorde-se que, no Reino Unido, as crianças não voltaram à escola após o Natal), o médico defende: “tudo o que for possível fazer neste momento para reduzir a taxa de infeção, deve ser implementado. Eu sei que o ensino à distância não é uma decisão simples, sobretudo porque há famílias que não têm acesso facilitado às novas tecnologias, mas entre atrasar a educação 4 ou 5 meses e salvar vidas, não tenho dúvidas e a escolha parece-me simples de tomar”, conclui Tiago, a quem agradecemos o tempo e a disponibilidade para partilhar o seu testemunho.
De recordar que, segundo um novo estudo conduzido por vários especialistas no Reino Unido, quase um terço das pessoas que tiveram alta de um internamento por problemas de saúde relacionados com a covid-19 em Inglaterra regressam ao hospital pela mesma razão num espaço de cinco meses – e uma em cada oito morrem.