O sonho de Cândida

Que a Cândida continue a sonhar, aos 56 anos 

O sonho de Maria Cândida Valdez fecha o ciclo da iniciativa “Não há idade para o sonho”, que começou a ser idealizada há precisamente um ano, em agosto de 2020.

Desde então, praticamente todos os meses, é divulgado um sonho para ser apoiado ou são partilhadas notícias sobre os sonhos que temos vindo a apoiar, com entusiasmo, esperança e dedicação.

O sonho de Maria Cândida Valdez é, em si, também especial. Além de reunir os critérios de seleção, do regulamento – sonhos concretos, pertencentes a pessoas com ou mais 40 anos -, está relacionado com um tema que merece a minha atenção e paixão: livros.

Cândida, uma jovem de 56 anos, escreveu um livro de poesia entre os seus 15 e 20 anos. Um livro escrito com o fulgor da adolescência e o rigor dos mestres – foi aluna de Lídia Jorge, premiada escritora portuguesa, com quem Cândida conta ter aprendido os segredos e as mestrias das quadras.

Licenciada em Sociologia, também ela, tal como Lídia Jorge, foi professora do ensino secundário. Mas depressa descobriu a sua verdadeira vocação: era nas bibliotecas que Cândida gostava de passar o seu tempo. E assim foi, bibliotecária, até reformar-se. Não sem antes sentir o orgulho de ver o seu livro de poesia no acervo de duas bibliotecas: a Biblioteca Municipal Central e a Biblioteca Nacional de Portugal. Foi, contudo, uma edição de autor – a edição possível face aos custos e à logística implicada na edição de livros.

Mas Cândida nunca perdeu a esperança de fazer chegar as suas palavras a um público maior, através de uma editora ou de um meio de comunicação de massas. Entende que este acontecimento faria a diferença na sua vida e iria inspirar muitas outras pessoas e jovens que alimentam a vontade (e o talento) de escrever.

Por isso, foi a segunda vez que Cândida me escreveu, pedindo ajuda para inspirar a escrita nos jovens, fazendo-os acreditar que nunca é tarde para começar e publicar os seus sonhos. A primeira vez que Cândida me contactou foi há 24 anos: “a Júlia apresentava um programa de televisão e eu enviei um email à equipa a dar conta do que se tinha passado comigo, como forma de alertar os espectadores. Eu tinha ido passar férias às Canárias com a minha irmã e o meu filho. Durante a noite, quando estávamos já na cama, eu acordei e vi um homem com uma almofada a aproximar-se de mim. Gritei o mais alto que consegui. A minha irmã e o meu filho não acordaram, pois estavam sob o efeito de alguma substância. Mas os empregados do hotel vieram em meu auxílio e o presumível raptor escapou. Viemos a saber que tinham acontecido raptos de menores e que o alvo eram crianças louras de olhos claros, como o meu filho. Desde esse momento, nunca mais dormi num hotel com as janelas abertas. O homem tinha saltado varandas. Julgamos que esse homem teria sido o mesmo que nos observara antes, nos espaços comuns do hotel”.

Felizmente, tudo acabou bem. A criança de 4 anos tem hoje 28 anos e é engenheiro informático.

A mãe, Cândida, é uma vencedora da edição “Não há idade para o sonho”. 
Através dos contactos da minha equipa, vamos dar-lhe a oportunidade de as maiores editoras nacionais conhecerem a sua obra. Uma mulher que dedicou toda a sua vida aos livros e a inspirar hábitos de leitura merece este miminho, não acham?
Que aos 56 anos a Cândida continue a sonhar.

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