O abraço da Laura e do avô Manel

“Dois anos depois, abracei o meu avô. Chorámos entre soluços, emocionados”, Laura Nadais

Esta foto vai ficar na história da família. “O dia em que, vacinados e com testes negativos, pudemos finalmente abraçar-nos. Eu só dizia, entre soluços: “avô, eu sabia que precisava deste abraço. Só não sabia que precisava tanto.
Foi no domingo passado. Um momento muito emocionante. O meu avô estava muito comovido”.

Laura Nadais, 27 anos, habituou-se a visitar o avô à distância. Com a pandemia, a família decidiu proteger ao máximo o patriarca de 101 anos. E tal como a restante família, Laura passou a espreitar o avô Manuel atrás do muro, acenando e gritando palavras de saudade. Mas a saudade apertava muito. Noutros tempos, estariam todos juntos, como sempre o faziam enquanto família unida. Em tempos de Covid-19, decidiram, por questões de segurança, adaptarem-se a uma nova realidade. E Laura não abraçou o avô quando regressou a Portugal.

“Eu vivia há um ano e meio no Qatar, onde trabalhava na companhia aérea Qatar Airways. Perdi o emprego na sequência da pandemia. E não conseguia a regressar a casa. Passaram-se 6 meses desde a última visita. Até que finalmente, consegui viajar para Madrid (depois de 2 voos cancelados para Lisboa) e fazer o percurso até Aveiro de carro. Foi uma aventura. Com mais de 300 quilos de bagagem acumulada na península arábica. Voltei para a minha vila natal, próxima de Aveiro, e aqui moro muito próximo de toda a minha família, dos meus pais e do meu avô, que neste momento está ao cuidado de uma das minhas tias. Desde o início da pandemia, apenas ela e o marido retiram a máscara junto do meu avô. Entendemos que deveríamos protegê-lo ao máximo. As minhas tias dizem que querem protegê-lo pelo menos até aos 110”, conta Laura, com um sorriso aberto.

Acontece que o avô Manuel está bem e recomenda-se, como se costuma dizer. Atualmente vive com a filha, mas ainda assim mantém a independência. Todos os dias faz a sua caminhada (sempre acompanhado), troca uns dedos de conversa e vê uma das suas apresentadoras favoritas na televisão: Júlia Pinheiro. (Eu!!!!!!)

É verdade que já não conduz. Mas fê-lo até aos 98 anos de idade, no seu próprio automóvel. Quase a completar 100 anos e cortava a relva do seu jardim, pintava os muros, conta a neta. “O meu avô foi carpinteiro e músico. Tocava clarinete. Foi um dos fundadores da banda mais conhecida da Branca, em Albergaria-a-Velha, a ARMAB”, partilha com orgulho.

Sobre a foto: “por ocasião de um casamento de um primo, e embora já todos praticamente vacinados, combinámos fazer testes para… finalmente darmos um abraço em família. E o que antecedeu esta foto, no domingo passado, foi o seguinte: a minha mãe chegou a casa, comovida. Contou-me que os bisnetos já tinham ido abraçar o avô. Apercebi-me de que tinha chegado também a minha vez. Corri de ansiedade e, ainda com receio de me aproximar, perguntei: ‘avô, o meu teste também foi negativo. Posso abraçá-lo? Ele, meio confuso, meio comovido, disse que sim. Abraçámo-nos entre soluços. Chorei tanto. Eu precisava daquele abraço há tanto tempo. Só não sabia o quanto precisava”.

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