Filipinas - Foto Philippine Star

“Nos hospitais públicos, faleceram pessoas à porta. Nos privados, deixaram dívidas de milhares de euros às famílias por tratamentos de COVID”, Ana, portuguesa a viver nas Filipinas

Nas Filipinas, onde o pico das infeções atingiu novos máximos (ontem, dia 25 janeiro, foram registados 17 590 novos casos), as pessoas não vacinadas correm o risco de prisão. O Presidente Rodrigo Duterte decretou que os cidadãos não vacinados serão detidos caso desobedeçam às ordens para permanecerem confinados em casa.

Ana*, portuguesa a viver neste país da Ásia há cerca de oito anos, ajuda-nos a entender o contexto filipino no combate à pandemia. Segundo Ana, o atraso das vacinas terá contribuído para uma situação caótica: “em 2014, houve uma campanha contra a vacinação obrigatória para o Dengue, alegando-se que a vacina produzida por um laboratório europeu estaria na origem da morte de crianças. O atual presidente juntou-se a esta causa e avançou com processo judicial. Parece-me que esta é a razão pela qual laboratórios europeus não terão enviado vacinas para as Filipinas. Apenas temos a vacina Sinovac, que nos foi enviada pela China. A única solução na altura foi o lockdown. Esteve tudo parado, havia poucas pessoas a circular. Somente profissionais de serviços essenciais de saúde, logística alimentar eram autorizados a sair de casa. Apenas uma pessoa por agregado familiar podia ir ao supermercado…”.

Ana explica-nos que a vacinação começou, por isso, tarde e lentamente. E a normalidade parece ainda um cenário longínquo: “as escolas continuam fechadas, desde Março 2020. Os alunos têm aulas online. Muitos negócios faliram. Muitas mortes e dívidas foram contraídas: como não existe cobertura de saúde pública face às despesas com a Covid, as pessoas deslocavam-se para os hospitais públicos. Mas a fila de espera era enorme. Chegaram a morrer pessoas à porta. Outras, que optaram pelos hospitais privados (onde o valor ronda os dois mil euros ao dia nos cuidados intensivos), deixaram dívidas de milhares de euros às famílias”. Foram tempos muito complicados nas Filipinas, assume Ana. “No início da pandemia, Duterte aconselhou as pessoas a lavarem as máscaras com gasolina, como forma de reutilização devido à escassez e elevado preço no mercado”, conta Ana.

Ana gosta do país em geral, sobretudo dos filipinos que são hoje os seus amigos. É apreciadora das praias e do facto de viver a poucas horas de distância de países como o Japão e Tailândia. Mas “a pobreza, o ruído e a comida cara” destoam na lista das suas preferências.

À semelhança de muitos outros países, também as Filipinas atravessam um período de grande número de contágios. “Acredito que os números sejam muito maiores. O número de mortes também. Conheci pessoalmente mais de 15 pessoas que faleceram – os números oficiais não batem certo. Os enfermeiros estão esgotados. Os ordenados são muito baixos (na ordem dos 200 euros por mês) e há milhares de enfermeiros a quererem emigrar para os EUA, Alemanha, etc.”.

Obrigada Ana* (Ana respondeu-nos por email e é um nome fictício), pelo testemunho. No Blogue Júlia, continuamos a “ouvir” portugueses pelo mundo.

Abaixo, um vídeo de 2021 que regista a fila de pessoas para a vacina, nas Filipinas.

Foto: Philippines star.com

 

Comentários

comentários