Almerinda recebe famílias ucranianas

Bravo Minda

Esta história comovente é com mulheres. Mas dedico-a aos homens. Aos pais que estão na guerra, com o coração junto das famílias. Com o coração na Paz. As mulheres da foto foram todas acolhidas em casa da portuguesa Minda. Sasha, 34 anos, com os dois filhos: Nazar, 9 anos, Yarema, 5. A irmã de Sasha chama-se Dasha, 28 anos. E a amiga, pedida em casamento dias antes da Guerra, é a Svitlana. O noivo e o pai das duas crianças ficaram a combater, pela Ucrânia.

Almerinda tem 70 anos. Estava em Portugal quando começou a ofensiva russa na Ucrânia. Vem com regularidade ao seu país natal, mas confessa que nunca passou tanto tempo na sua casa, no Carregado, como desta vez. “Estava a ver televisão quando me apercebi de um apelo para receber famílias ucranianas. E eu pensei: tenho uma casa que, quando regressar a Londres, vai ficar vazia. Por que não ajudar?”, conta-nos. Tentou de imediato contactar a organização, mas sem sucesso e com a rapidez que o assunto merecia. Decidiu então começar a seguir a página de facebook wehelpucrania. (plataforma criada por um português que reúne apelos e ofertas de ajuda). E no preciso momento em que Almerinda se torna seguidora, cai um pedido de abrigo. “Duas irmãs, cujas cidades tinham sido bombardeadas,  estavam a chegar à fronteira da Polónia e pediam um lugar temporário para escapar à guerra. Trocámos mensagens, expliquei-lhes que lhes oferecia alojamento a cerca de 40 km de Lisboa, numa terra tranquila. Iria buscá-las no primeiro voo Polónia – Lisboa. Entretanto, voltaram a contactar-me. Uma amiga que as tinha abrigado estava agora em risco. Perguntaram se haveria alguém que, nessa mesma terra, a pudesse receber. E eu disse: ela que venha também”.

Desde o dia 10 que a casa de Almerinda está cheia. Cheia de amor. “Criou-se aqui uma onda enorme de solidariedade”, revela. Os vizinhos receberam as famílias de braços abertos. A psicóloga do andar debaixo oferece todo o apoio. E os amigos de Almerinda desdobraram-se em contactos e mimos. “A minha sobrinha fez ontem uns bons quilómetros para vir trazer um aquário com peixinhos às crianças”, conta. E hoje, os meninos vão a Lisboa, conhecer o Pavilhão do Conhecimento, porque Almerinda conseguiu inscrevê-los nos escuteiros e garantir o primeiro passeio. Falta emprego para as mulheres da família (Almerinda também acredita que haverá novidades para breve). Faltam os pais, os homens da casa.

“Posso dar-lhe um abraço?, perguntou-me a Sasha. Claro. Mas senti aquele abraço de lágrimas… especial. E ela disse-me: este abraço é do meu marido. Ele pediu-me para lhe dar. E dizer-lhe obrigada”. Nas redes sociais, as famílias têm enviado mensagens a familiares e amigos, falando desta mulher milagre que as acolheu. Mas quem conhece Almerinda, comenta: “Isto é só a Minda a ser a Minda”.

Em breve, estará de regresso a Londres, onde se encontra a sua filha e netos. Mas até lá, Minda quer certificar-se de que deixa tudo em ordem: “estas mulheres são tão gratas, tão humildes. Quanto mais humildes e gratas, mais tenho vontade de ajudá-las”.
Bravo Minda.

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