Crónica da Advogada Magda Fernandes
Há uns bons anos a esta parte, sou advogada de direito da família. Terreno muito constrangedor para alguns, e fértil na descoberta do lado mau do ser humano. Aquele ser humano que em tempos jurou amar na saúde e na doença, jurou cuidar e respeitar. É esse mesmo. Esse mesmo ser humano é aquele que, anos volvidos, perante os normais problemas da vida, jura infernizar a vida do outro ser humano com quem se uniu. Na hipótese, muito provável, de existirem seres humanos mais pequenos gerados por estes dois, melhor ainda. Começam então o chorrilho de acusações nunca antes ditas, pretensas violências domésticas nunca antes reveladas – e quantas vezes inventadas – , lutas pela custódia, processo atrás de processo, intervenção de juízes e Ministério Público, e técnicos, psicólogos, psiquiatras, muita medicação e calmante, muita terapia e muita, mesmo muita, mentira em prol da obtenção de objetivos ou financeiros, ou pessoais, e poucas vezes razoáveis. É esse mesmo ser humano. Fica menos humano, que isto de se mexer com os nossos dinheiros leva-nos a uma desumanização do ser.
Um conselho que dou: vão lá aos confins, ao baú dos vossos princípios. Remexam cuidadosamente no baú e encontrem o que vos uniu. Vejam o que criaram e perguntem-se se verdadeiramente merece a pena. Na grande ordem das coisas, os vossos filhos vão crescer. Vão saber que dois seres humanos a quem olhavam com orgulho e em busca de proteção andaram a esbofetear-se com palavras e atos.
Vão parecer menos heróis aos olhos deles, e mais frágeis, mais desumanos. É essa a herança que querem deixar aos seres humanos que criaram? Se é, então este discurso foi em vão. Se há uma pequena dúvida, comportem-se como seres humanos. Para o bem e para o mal, na saúde e na doença, na união e sobretudo no divórcio.