“Os tentáculos das caravelas-portuguesas têm 1 a 2 metros de comprimento e libertam toxinas que provocam queimaduras”, Sérgio Leandro, investigador do MARE
As buscas por terra e por mar não detetaram a presença de caravelas-portuguesas e, por isso, a bandeira verde voltou a ser hasteada hoje, sexta-feira, na praia de São Martinho, tendo sido levantada a proibição de banhos. Mas em entrevista, o investigador Sérgio Leandro, revela-nos que este cenário pode não ser definitivo.
As caravelas-portuguesas, que surgiram em várias praias da área da Capitania do Porto da Nazaré, nomeadamente nas praias de São Pedro de Moel (concelho de Marinha Grande) e Paredes da Vitória (Alcobaça) podem regressar. Primeira questão: por que razão deram à costa?
O subdiretor da ESTM-IPLeiria e co-gestor da Reserva da BiosferaBerlengas/Peniche (UNESCO) explica-nos que estas espécies gelatinosas “vivem à superfície do Oceano”. Porém, em algumas alturas do ano, por razões relacionadas com alterações climáticas (mudanças dos padrões de vento, por exemplo), estes organismos “atingem a linha de costa”.
Caravela em alusão aos Descobrimentos
O investigador apresenta-nos melhor as caravelas-portuguesas, cujo nome deriva do facto de o topo flutuante da caravela assemelhar-se à imagem do barco dos Descobrimentos. “Estes organismos coloniais” (deslocam-se em conjunto, lutando pela sobrevivência) caracterizam-se pelos seus “mecanismos de proteção e de autodefesa. As caravelas-portuguesas procuram ativamente as presas alimentares. E são indivíduos muito competidores, libertando toxinas através dos seus tentáculos”, alcançando assim as suas presas. Acontece que estas toxinas, quando atingem os banhistas, causam queimaduras, urticária, e “reacções que dependem da sensibilidade de cada um de nós. Pode registar-se até uma paralisia momentânea”. (Sintoma abordado pelo banhista Fábio Costa, na sequência do contacto com uma caravela-portuguesa na Praia de São Martinho do Porto).
Sérgio Leandro, especialista em Biodiversidade e Funcionamento dos Ecossistemas, explica que, inclusivamente a água do recipiente fechado em que é colocada a caravela-portuguesa, é tóxica.
Os mecanismos de defesa e proteção das caravelas-portuguesas justificam a sua presença desde há milhões de anos nos Oceanos: “são das espécies mais antigas no Oceano. São de facto muito persistentes”.
E estariam normalmente a viver em mar aberto, não fossem as alterações climáticas empurrarem estes organismos para a costa. “O problema não é exclusivo de Portugal. Também se avistaram espécies gelatinosas em Barcelona, o que tem impacto claro impacto no turismo. As praias fecham e os banhistas abandonam essas praias”, conta Sérgio Leandro, que é atualmente o investigador principal do projeto JellyFisheries, focado nos organismos aquáticos gelatinosos e nas respetivas consequências no turismo, indústria e pescas.
Tendo em conta os avistamentos de caravelas-portuguesas, tudo indica que seguem numa rota norte-sul, podendo estar a caminho de Peniche, Lourinhã. Mas é só uma hipótese a confirmar nos próximos dias.
Foto: Em alturas específicas da maré, as caravelas-portuguesas podem ficar retidas na areia, explica o investigador Sérgio Leandro.