Uma deliciosa conversa com Zimler


O que terá sentido Lázaro quando ressuscitou?

Esta curiosidade está por detrás de O Evangelho Segundo Lázaro, o último romance de Richard Zimler, escritor que me conquistou desde O Último Cabalista de Lisboa.

Os seus livros foram o ponto de partida para uma conversa que passou por temas de morte, amor, Portugal, América e Trump.

“Ser escritor é como ser ator. Eu entro na pele de outra pessoa e vejo o mundo através dos olhos dessa pessoa. Quem não conseguir fazer isso não vai conseguir ser escritor”, conta Zimler.

 Sobre Richard Zimler e a forma como foi salvo por Portugal


O escritor de 60 anos, atualmente com dupla nacionalidade, nasceu em 1956 em Roslyn Heights, um subúrbio de Nova Iorque. Fez um bacharelato em Religião Comparada na Duke University (1977) − Zimler é um estudioso das religiões − e um mestrado em Jornalismo na Stanford University (1982). Trabalhou como jornalista durante oito anos, principalmente em São Francisco, nos Estados Unidos da América: “Fui jornalista, mas sempre tive em mente utilizar as técnicas de jornalismo na escrita”, conta. Em São Francisco, conheceu também o seu marido, o físico Alexandre Quintanilha, um dos cientistas portugueses mais conceituados no mundo, doutorado em Física Teórica e que em tempos liderou um laboratório na Universidade de Berkeley, nos EUA. Foi o atual deputado que sugeriu a Richard mudarem de país: “Nos anos 80, nasceu uma nova doença, a sida, e não foi fácil assistir à morte de jovens com 25, 30 anos. Um dos meus irmãos faleceu com 34 anos, em 1989. Todos tentámos salvar-lhe a vida mas não foi possível. Eu desenvolvi então uma doença mental − lavava as mãos 100 vezes por dia. Quando ele faleceu, a minha cara-metade sugeriu-me mudarmos para um local onde os temas não girassem sempre à volta da sida.” O facto coincidiu com o convite dirigido a Alexandre Quintanilha para lecionar no Porto e, em 1990, chegaram a Portugal, um país onde era finalmente possível falar sobre tantos outros assuntos. Richard já trazia consigo a ideia para O Último Cabalista de Lisboa, livro que publicou em 1996, enquanto dava aulas de Jornalismo na Universidade do Porto, e que rapidamente o tirou do anonimato. Desde que começou a escrever, já são dez os romances, além de uma coletânea de contos e dois livros infantis, que depressa entraram nas listas de best-sellers de vários países (Portugal, Brasil, EUA, Inglaterra, Itália, etc.). Entre os prémios, destacam-se o National Endowment of the Arts Fellowship in Fiction (EUA), em 1994, e o Prémio Herodotus (EUA) para o melhor romance histórico, em 1998. Continua a escrever em inglês. Mas recentemente tem abraçado o desafio de escrever os seus livros para crianças na língua do país que, segundo o próprio Zimler, o salvou.

Sobre O Evangelho Segundo Lázaro


O Evangelho Segundo Lázaro é, na verdade, a versão de Richard Zimler sobre o que se terá passado e o que terá sentido Lázaro (em hebraico, El’Azar) quando ressuscitou. O livro que nos traz a história pelos olhos de Lázaro é baseado no Evangelho Segundo São João e o autor aplica a sua criatividade para preencher as lacunas do episódio da ressurreição de Lázaro. Richard coloca Lázaro a falar com Jesus, seu amigo de infância (na obra), na perspetiva de encontrar respostas para o sucedido. É um trabalho que salienta as qualidades de Zimler na interpretação de textos bíblicos e que envolveu uma pesquisa árdua sobre os costumes e hábitos da população local à época. O escritor americano, naturalizado em Portugal, explica que leu cerca de 40 livros para se inteirar do quotidiano narrado no Evangelho Segundo São João.

 

Agradecimentos: Hotel do Chiado, Lisboa

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