Existem técnicas usadas pelas forças especiais que nos ajudam a perceber uma provável mentira.
Chama-se linguagem corporal. Há quatro sinais que indicam nos primeiros quatro minutos de uma conversa uma probabilidade de se estar a falar com um mentiroso. Alexandre Monteiro, mestre em decifrar pessoas, conta-nos tudo.
Manual para decifrar gestos e detetar mentiras
Durante a última década, aprendeu como decifrar pessoas com os maiores especialistas do mundo. Desde peritos em linguagem corporal, inteligência não verbal, ex-agentes do FBI e da CIA, espiões, terapeutas, neurocientistas e investigadores do comportamento humano. Chama-se Alexandre Monteiro e acaba de publicar Os segredos que o nosso corpo revela, da editora Manuscrito.
“Quem não olha nos olhos está a mentir.” Afinal não é bem assim, segundo revela no seu livro. Pode explicar-nos melhor porquê?
Durante muito tempo, acreditou-se que desviar o olhar era sinal de mentira. Ainda hoje há quem acredite que quem não olhar olhos nos olhos não é de confiança. Esta ideia é errada, no sentido em que o olhar olhos nos olhos é como uma luta invisível de domínio e submissão. As pessoas não olham nos olhos porque normalmente sentem algum desconforto ao fazê-lo, revelam alguma timidez e insegurança. Hoje, os mentirosos sabem que não olhar olhos nos olhos pode denunciá-los. Por isso têm a tendência contrária, olham demasiadamente nos olhos e de uma forma fixa.
Não olhar olhos nos olhos poderá revelar, sim, falta de confiança, timidez ou baixa autoestima.
De que forma é que os movimentos dos ombros de uma pessoa podem ajudar-nos a perceber se ela está a mentir?
Os movimentos dos ombros têm de ser interpretados em conjunto com o verbal, pois indicam a certeza ou a incerteza do que diz. Os que lhe dão muita informação útil são a elevação de ambos os ombros, a elevação de um só ombro e a não elevação. Sim, não elevar os ombros também é uma pista, tudo depende do que está a verbalizar.
Quando não está certo daquilo que está a dizer ou não se quer comprometer, levanta ambos os ombros. Quando tem certeza e conhecimento sobre o que diz, não movimenta os ombros. Para interpretar da melhor forma a mensagem, terá de observar a congruência entre os movimentos dos ombros e as palavras.
No seu livro, no capítulo “Aprenda a desvendar a mentira” fala de pistas para detetar… “um mentiroso”. Pode dar-nos algum exemplo para testarmos nas nossas relações pessoais… ou até mesmo lá em casa?
Conhecer os sinais e técnicas de detetar a probabilidade de mentira irá dar-lhe uma maior consciência de que alguma coisa poderá não estar de acordo com o esperado. Isto permite-lhe ficar alerta e ter a necessidade de investigar mais sobre o assunto, conseguindo prevenir mais tentativas de engano ou de dissimulação. Para detetar a mentira, não pode colocar-se no lugar de juiz, terá de se colocar no lugar do polícia investigador. Assim pode procurar pistas de alerta que indiquem o melhor caminho de investigação e fazer com que confessem.
Não existe nenhum sinal, máquina ou técnica que confirme a mentira a 100%. O que pode fazer é aplicar várias técnicas e observar determinadas pistas, também utilizadas pelas forças policiais, que o ajudam a perceber uma provável mentira. Assim pode saber qual o caminho do interrogatório a seguir, se deve pressionar a pessoa no sentido de saber a verdade ou se deve acreditar nela.
Descreverei como deve proceder a um interrogatório e algumas técnicas para ajudar a detetar mais rapidamente indícios de mentira.
O normal é querer ficar frente a frente e confrontar a pessoa, acusá-la para obter uma confissão, mas isso terá o efeito contrário. Quanto menos confrontar o possível culpado, mais facilmente irá obter a confissão. Faça perguntas do tipo “Como…”.
Existem profissões que já usam esta técnica para facilitar as confissões, como por exemplo os psicólogos e os padres.
Se a pessoa quer confessar, o frente a frente gera um maior sentimento de punição ou vergonha, o que torna mais difícil para a pessoa confessar. Pode usar esta técnica naqueles amigos que sabe que necessitam de falar mas que têm mais dificuldades em fazê-lo. Com casais que estejam chateados, o melhor é irem passear, pois lado a lado será mais fácil retomar a comunicação.
Tente entender as crenças da pessoa fazendo perguntas referentes ao tema pelo qual está a interrogá-la. Imagine que se trata de um roubo. Pergunte-lhe o que acha das pessoas que roubam, qual o castigo que deveriam ter. Quanto mais benevolentes forem nas respostas, maior o indício de culpabilidade.
Criar empatia cognitiva é fundamental. Tem de perceber os possíveis motivos de a pessoa ter feito ou dito aquilo pelo qual a está a interrogar. Mesmo que não concorde, não o refira, diga à pessoa que até acha compreensível a ação e que não faz mal confessar. Porque todos erramos na vida – estará, assim, a dar-lhe uma oportunidade de saída, apesar de ser tudo uma perceção falsa.
Criada a confiança e a empatia, e dada uma oportunidade de saída, se mesmo assim não confessar, terá de começar a pressionar e a usar técnicas de confusão.
Peça à pessoa para contar o que se passou e de seguida pergunte novamente, no sentido de a pressionar. Para dar-lhe detalhes e de verificar se surgem pistas de alerta.
- “Você disse…, fale-me mais sobre isso.”
- “O que quer dizer com isso?”
- “Pode explicar novamente?”
Se a pessoa está comprometida, tem tendência a exibir mais pistas de alerta. No entanto pode confirmar a veracidade da história pedindo-lhe para a contar do final para início. Se falhar nos detalhes em relação à história contada do início para o fim, desconfie.
A técnica de interrogatórios mais eficaz é fazer duas ou três perguntas diferentes para obter o mesmo resultado. Quem diz a verdade facilmente irá responder sem hesitar, sem demonstrar um aumento de raciocínio, e as respostas serão congruentes. Se estiver a mentir, haverá um aumento de raciocínio, revelado pelo aumento do tempo de resposta, e de tensão emocional. Revelado também pelo lamber do lábio, por piscar mais os olhos. Além disso, as respostas não serão congruentes.
Quais são os sinais de mentira que transparecem mais facilmente na cara e no corpo das pessoas?
A técnica mais simples que conheço refere-se a um estudo de uma universidade no Nordeste dos EUA. Revela que, se durante os primeiros quatro minutos de uma conversa, surgirem quatro sinais específicos, existe uma grande probabilidade de se estar a falar com um mentiroso. Se nos primeiros quatro minutos a pessoa toca na cara, esfrega as mãos, afasta-se e cruza os braços, há uma maior probabilidade de estar a mentir.
Quatro minutos − quatro sinais
- Tocar na cara
- Esfregar as mãos
- Afastar-se para trás
- Cruzar os braços
Não confirmo que seja a técnica mais eficaz, mas se observar estes sinais nos primeiros quatro minutos fique atento.
A linguagem corporal treina-se facilmente?
Lembra-se dos gestos que fez há cinco horas? Há dez minutos? E há dez segundos?
Provavelmente não se lembra, porque 90% da linguagem corporal é inconsciente.
O cérebro inconsciente gere 90% de tudo o que faz, sem lhe dar conta disso, quer esteja acordado, quer a dormir. Grande parte do que fazemos é inconsciente: as decisões, os gestos, a maneira de falar, de andar, as expressões faciais e a postura são-nos como ditadas pelo inconsciente, e a sua influência está presente em tudo o que fazemos e no modo como o fazemos, no entanto podemos treinar. Tal como nas artes marciais, não precisa de saber mil técnicas ou diversos estilos, basta saber dez técnicas eficazes e treiná-las mil vezes.
Para usar a linguagem corporal a seu favor, e atingir melhores resultados no seu dia a dia, não precisa de saber os significados de mil gestos, posições e expressões faciais para captar as mensagens mais importantes, basta aprender a interpretar os mais simples gestos, posições e expressões faciais para aplicar nas diversas situações do dia a dia, e treiná-los vezes sem conta.
A leitura da linguagem corporal está acessível a todos, e com a prática tornar-se-á mais fácil e natural. Este é objetivo do livro, simplificar a compreensão e a otimização da linguagem não verbal.