As finanças podem ser difíceis de gerir. Os pedidos de ajuda à DECO por motivo de sobre endividamento bateram recordes em 2016, com 29 530 pedidos de ajuda.
A recente crise e aumento do desemprego afetaram muitas famílias, mas a situação não é de agora.
De acordo com Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira da DECO, “Portugal assistiu a um rápido crescimento do endividamento das famílias que passou de pouco mais de 18%, em 1990, para 130% do rendimento disponível em 2007”.
Apesar de os níveis de desemprego estarem a diminuir, as famílias portuguesas mantêm a dificuldade em reequilibrarem-se financeiramente e, no primeiro trimestre de 2017, os pedidos de apoio são semelhantes aos registados no período homólogo do ano passado. Em entrevista a Júlia – De Bem com a Vida, a responsável da DECO explica que «a precariedade e os rendimentos reduzidos estão entre as principais causas para as situações de sobre-endividamento».
Primeira causa de endividamento
O desemprego é, de longe, a maior causa do sobre endividamento, com 22% dos casos. Foi o que aconteceu a uma cidadã que recorreu ao Gabinete de Apoio ao Sobre-Endividado (GAS) da DECO no início de junho: foi despedida em fevereiro e, depois de se ter inscrito no centro de emprego, ficou a saber que iria receber mensalmente 660 euros, sendo que, só em encargos de crédito, tinha um montante mensal de 350 euros.
Além do desemprego, os principais motivos de sobre-endividamento são os cortes salariais, com 11%. A doença (10%), o divórcio ou separação (9%), o aumento do agregado familiar (7%) são algumas das restantes causas para viver com menos dinheiro do que o necessário. O rendimento médio do agregado familiar diminuiu de 1300 em 2008 para 1070 euros em 2017 e «as famílias que pedem ajuda têm em média 5 créditos, face aos 7 registados em 2008.»
Está sobreendividado? Tome medidas ou peça ajuda!
O Gabinete de Apoio foi criado no ano 2000 e logo no primeiro ano ajudou 152 famílias. Esta ajuda é dada gratuitamente e aberta a sócios e não sócios. Natália Nunes explica que “qualquer consumidor de boa-fé que não consiga pagar as suas dívidas não profissionais pode pedir ajuda aos gabinetes da DECO.” Estas devem ter por base uma relação de consumo, não podem estar em tribunal, nem pode haver dívidas ao Fisco nem à Segurança Social. Também devem ser “situações de cariz involuntário, tais como desemprego, cortes salariais ou quebra de rendimentos, doença prolongada ou acidente, alteração do agregado familiar, entre outras”.
O GAS analisa a situação da família, ajuda-a a traçar um orçamento familiar e a contacta as entidades credoras. O objetivo é procurar uma restruturação de crédito mais acessível. Infelizmente, a vergonha continua a ser um entrave à busca de soluções.
Cuidado com o crédito fácil
“Perante dificuldades financeiras, os cartões de crédito são muito utilizados. Mas acabam por ser dos primeiros a não serem pagos”. Apesar de serem “ótimos instrumentos, o consumidor tem que saber utilizá-los”. Algo que muitos milhares de portugueses não sabem. Pagar a dívida do cartão de crédito de forma faseada acarreta juros sobre o capital que não foi pago, e o resultado pode ser desastroso. A média de mensalidades dos cartões de crédito dos portugueses é de 380€. Como em regra cada família sobre endividada tem dois, a dívida mensal ascende aos 760€.
Outro caso que chega à DECO é o de uma cidadã. Apesar de auferir o salário mínimo, acumulou uma dívida de 12 000 euros a uma entidade financeira. As dificuldades começaram em 2013, quando se divorciou, e ficou apenas com o seu salário (mínimo nacional). Depois de um ano sem conseguir pagar nada, em 2015 fez um acordo de pagamento. Começou nos 20 euros mensais, mas foi aumentando até aos 40 euros. Era um valor já incomportável para esta mãe divorciada, com uma filha com problemas de saúde, e prestes a ficar desempregada em novembro próximo.
Por vezes, são os imprevistos da vida que geram problemas financeiros. Também há casos de má gestão de dinheiro e gastos excessivos com o cartão de crédito. Nestes casos a DECO não ajuda.