A saúde é um luxo?

Quando pedimos um desejo, falamos em dinheiro, trabalho, amor, paz… mas o primeiro de todos os pedidos será, por norma, saúde.

E a minha equipa “Júlia – De Bem Com a Vida” foi perguntar a quem de direito se a saúde, esse bem fundamental, ainda é um luxo para parte da população.

 

“As consultas no dentista são um luxo?”

Orlando Monteiro da Silva, Bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas responde:

Se considerarmos como luxo “um bem ou atividade que não é considerado necessário mas que gera conforto ou prazer e que origina despesas supérfluas”, conclui-se que a saúde oral:

  • é necessária,
  • gera conforto, prazer e,
  • não origina despesas supérfluas, portanto não é um luxo.

É uma componente fundamental da saúde, assim como do bem-estar físico e mental. A saúde oral “é multifacetada e inclui, mas não se limita, à capacidade de falar, sorrir, cheirar, saborear, tocar, mastigar, engolir e de transmitir um sem-número de emoções através de expressões faciais com confiança e sem dor nem desconforto, bem como sem doenças do complexo craniofacial”.

Segundo o Barómetro de Saúde Oral da Ordem dos Médicos Dentistas, 46,7% dos portugueses não consultam um médico dentista há mais de um ano, e quando questionados sobre a regularidade com que vão a consultas de medicina dentária há 9,5% que respondem “nunca”.

Existem ainda 7,7% de portugueses que não vão ao médico dentista há pelo menos cinco anos e 34,3% nunca visitam o médico dentista ou apenas o fazem em caso de urgência.

O principal motivo para esta realidade reside, ainda segundo o estudo, nas questões monetárias (59,4%).

Tal deve-se, não ao preço das consultas e procedimentos de uma forma geral praticados em Portugal, fundamentalmente no setor privado, refletindo necessariamente os custos envolvidos, mas sim à escassez de políticas de financiamento público, de comparticipação dos tratamentos e da oferta de medicina dentária no Serviço Nacional de Saúde, ao contrário de outras áreas da saúde, fundamentais para ajudar as pessoas, em particular as de menores recursos, a terem acesso a cuidados de medicina dentária.

 

“As consultas de nutrição são um luxo?”

− Alexandra Bento, Bastonária da Ordem dos Nutricionistas, responde:

A má resposta pública, a falta de resposta da maioria das seguradoras e o preço, para muitos, elevado da alternativa privada vedam o acesso à consulta de nutrição para a maioria da população, em particular aos grupos mais suscetíveis, como os economicamente desfavorecidos e os desempregados, grupos estes que mais necessitariam do apoio de nutricionistas, visto as doenças crónicas não transmissíveis, como a obesidade, serem mais prevalentes nesta população.

Lembremo-nos de que em Portugal metade da população sofre de excesso de peso, 12% é diabética e 40% é hipertensa. Trata-se de doentes que beneficiariam do apoio numa consulta de nutrição.

Mas o Serviço Nacional de Saúde não consegue dar uma resposta eficaz a indivíduos portadores destas doenças, e que necessitam do apoio de nutricionistas, devido a falta de recursos. Há somente 293 nutricionistas nos hospitais e 123 nos centros de saúde, um número muito insuficiente para fazer face aos problemas de saúde atuais em Portugal.

É necessário que o Serviço Nacional de Saúde integre mais nutricionistas, em especial nos cuidados de saúde primários. Se não houver um investimento a este nível, corre-se o risco de tratar de forma adequada apenas quem tem dinheiro.

Atuar precocemente nestas doenças relacionadas com a alimentação permite poupar mais tarde com ganhos em saúde e redução de custos com tratamentos.

 

“As consultas de Psicologia são um luxo?”

− Duarte Zoio, responsável pelo Gabinete de Comunicação da Ordem dos Psicólogos, responde:

Não, muito pelo contrário. As consultas de psicologia são fundamentais para muitas pessoas e extremamente úteis para todos, e deveriam ser acessíveis a todos e não discriminativas (por alguém não as poder pagar no privado ou por viver em locais de difícil acesso às mesmas, por exemplo).

Mas colocando a questão do “luxo” num outro ângulo, quanto custa uma baixa médica de um mês por problemas psicológicos? Quanto custa uma criança com problemas de aprendizagem? Quanto custa uma depressão? Todas estas situações, e muitas outras, poderão ser intervencionadas e muitas vezes prevenidas por um psicólogo, cuja relação “custo-efetividade” da sua intervenção está devidamente fundamentada.

De facto, um psicólogo pode ajudar qualquer pessoa, independentemente do género, da idade, etc., a promover mudanças nos comportamentos que determinam algumas das principais doenças de comportamento, como a obesidade e a diabetes, assim como a resolver perturbações da saúde mental, como a depressão, a ansiedade, as fobias, a perturbação de pânico, as perturbações alimentares, problemas relacionados com o stress, problemas nas relações com os outros, adições ou perturbações mentais graves.

Por outro lado, também não é necessário ter um “problema” para procurar a ajuda de um psicólogo, uma vez que este também pode ajudar quando queremos construir uma boa autoestima, alterar traços e características psicológicas em nós próprios ou simplesmente conhecermo-nos melhor.

Portanto, as consultas de psicologia não são um “luxo”, mas uma necessidade para muitos e uma mais-valia para todos.

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