A arquitetura é um curso e a música um percurso…

“A arquitetura é um curso e a música um percurso…”

Sempre gostou de desenhar, mas é no palco que se sente realizado e fiel a si mesmo. Quando perguntei ao músico e cantor Carlos Mendes qual era a sua vocação, ele não hesitou em dizer “sem dúvida, a música”.

Quando era pequenino queria… passar a vida a brincar, sempre, sem parar. Talvez pensasse, como todos os meninos, seguir a profissão do pai. No meu caso, médico. Mas esse sonho desfez-se muito rapidamente mal recebi os primeiros aplausos.

Descobri a minha vocação… Em finais dos anos 50, iniciei as minhas primeiras performances musicais, como cantor e músico, em sociedades recreativas e no colégio onde andava. Enquanto isto, ia fazendo audições de piano, que marcavam sempre os finais do ano. Foi, talvez, por esta altura (finais dos anos 50) que senti uma enorme alegria ao receber os primeiros aplausos vindos de gente, para mim, desconhecida. Não sei se esses aplausos eram o reconhecimento de uma vocação. Seriam? Talvez.

O gosto pelas artes surgiu… Em casa dos meus pais, vivia-se um ambiente muito propício ao nosso (meu e dos meus irmãos) desenvolvimento cultural. Quer o meu pai, quer a minha mãe tinham uma enorme paixão pelas artes. A minha mãe era uma senhora que tocava piano, adorava ópera, pintura, escultura, literatura e, talvez por isso, foi-nos transmitindo o gosto pelas artes. Foi a minha primeira professora de música. Tinha o costume de nos pôr a cantar e a representar pequenas peças de teatro nas festas lá de casa. Foi neste turbilhão que desenvolvi o gosto pelas artes. Todos lá em casa falavam da minha vocação para as artes, preferencialmente a música.

Arquitetura ou música…
As circunstâncias da vida, sobretudo a Guerra Colonial, fizeram mudar o rumo que estava traçado desde finais dos anos 50. Para fugir aos horrores da guerra, só tinha duas soluções: ou desertava ou entrava para uma universidade e ia pedindo adiamentos até acabar o curso. Optei pela segunda solução. Foi nessa altura que o gosto pelo desenho e pelas artes em geral me levou a enveredar pela arquitetura. Terminei o curso em 1973, mas durante o tempo que trabalhei como arquiteto nunca abandonei a música. Costumo dizer que a arquitetura é um curso e a música um percurso…

A minha vocação é… sem dúvida, a música. Agora, ao fim destes anos todos, sei com a certeza absoluta que era esta a vida que queria ter. Sempre envolvido com a música. Cantar, compor, escrever… Sinto uma enorme felicidade sempre que piso um palco. Recordo sempre o primeiro dia.

Do que mais gosto naquilo que faço…
Palco, palco, palco… o meu lugar sagrado. É aí que me sinto eu. É aí que me exponho. É aí que arrisco a novidade.
Cantar, cantar, cantar. Não passo um dia sem cantar.
Tocar, tocar, tocar. Não passo um dia sem tocar piano.
Ensinar, ensinar, ensinar. De há uns anos para cá, dou aulas de canto e sinto um prazer redobrado. Canto e ajudo os outros a cantar.

Aprendi com a arquitetura… a não ter medo do ‘papel em branco’, que é a grande angústia de quem parte do ‘nada’ para ‘alguma coisa’.

Do que menos gostava na profissão anterior…
Acho que o que gostava menos quer numa quer noutra profissão, era o negociar com os clientes. Tenho uma falta de jeito enorme para o negócio. E nestas profissões é preciso saber.

Um dos momentos mais felizes da minha vida profissional foi… a primeira vez que entrei num estúdio para gravar. Ainda me lembro do cheiro. Lembro-me de que não consegui dormir na véspera. Sabia que estava a jogar ali muito do meu futuro.

Diria a um adolescente que ainda não encontrou a sua vocação…
A vocação vem do latim vocare, que significa chamar. É uma competência, uma aptidão natural que as pessoas têm para fazer alguma coisa que lhes dá prazer. Escolham a profissão pelo prazer, pela aptidão natural, pelo talento que têm nessa matéria e nunca pelo que podem auferir dela. Todas as profissões são boas desde que sintamos por elas um amor verdadeiro.

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