Durante 16 anos, dedicou-se à enfermagem. Ao fim desse tempo, Patrícia Couteiro rendeu-se à paixão tardia que lhe roubou o coração: tornou-se cake designer e criou o seu próprio negócio.
Patrícia Couteiro só começou a cozinhar aos 27 anos, quando se casou. Antes disso, quem assumia o controlo da cozinha em casa era a avó. O gosto pela pastelaria surgiu, talvez por isso, mais tarde.
A enfermagem foi a sua primeira paixão. O desejo de seguir esta área surgiu muito cedo, alimentado pela ideia de que tinha de encontrar a sua vocação e escolher uma profissão para a vida. Assim, quando chegou a altura de escolher o que fazer no futuro, Patrícia não hesitou em tomar uma decisão que lhe parecia muito natural: licenciou-se em enfermagem e trabalhou durante 16 anos num hospital central em Lisboa. “Estes anos foram muito bons, com algumas realizações profissionais”, revela.
No entanto, pelo caminho, descobriu outra paixão: o cake design. Algo bem diferente da sua profissão de então e que surpreendeu não só todos os que a conheciam, mas sobretudo a ela própria. É que Patrícia não sabia que conseguia cozinhar. Quando se casou, começou a dar uns toques na cozinha, como nos conta, “mas sem grandes aventuras. Precisava apenas de desenrascar o jantar ao fim do dia de trabalho”. Por isso, qual não foi o seu espanto quando, há oito anos, fez o seu primeiro bolo decorado para a festa de aniversário das suas filhas e foi um sucesso. Desde então, Patrícia nunca mais parou na sua aventura pelo mundo dos doces.
Incentivada pela família e pelos amigos para continuar a fazer bolos, a enfermeira aceitou o desafio, mas achou que precisava de estar à altura para corresponder às expectativas − as suas e as dos outros: “Como não gosto de ser desafiada sem corresponder, comecei a pesquisar, a estudar, e, de forma autodidata, a crescer no mundo da pastelaria.”
Procurou ter formação mais especializada e, ao longo dos anos, participou em cursos que lhe permitiam ir melhorado as técnicas. A cada bolo feito, surgia a satisfação de tarefa superada; a cada bolo feito, o próximo começava a ganhar forma na sua cabeça. “Era um vício, uma descarga de adrenalina enorme. Dia e noite, só via bolos na minha cabeça. Procurava saber sempre mais, novos materiais, técnicas e formas de os concretizar.”
Novos e doces desafios
Patrícia nunca tinha sentido uma paixão assim por alguma coisa. O sentimento de superação e de concretização pessoal era fantástico, bem como o reconhecimento por parte das outras pessoas.
Em 2012, depois de a terem desafiado a ensinar aquilo que sabia na decoração artística de bolos, estreou-se como formadora. Durante dois anos, ainda manteve as duas ocupações em simultâneo: era enfermeira de segunda a sexta e aos fins de semana formadora de cake design. Mas o cansaço revelou-se demasiado e a paixão falou mais alto. Contra tudo e contra todos, em 2014 Patrícia abraçou a pastelaria a tempo inteiro.
No início, a mudança não foi fácil. A maioria das pessoas não compreendia a sua decisão. Ainda assim, Patrícia contava com o apoio da pessoa que mais importava e que esteve sempre ao seu lado, apoiando-a naquela que era a maior aventura da sua vida. “Aos 38 anos, contrariei o ‘destino’ e tomei eu as rédeas do meu caminho. Não nasci para ser isto ou aquilo profissionalmente. Estou aqui para ser feliz, e é na pastelaria que sou muito feliz”, confessa.
Ao mesmo tempo que escreveu o seu primeiro livro, O Meu Guia Prático – decoração de bolos com pasta de açúcar, abriu o seu ateliê Com Amor & Carinho, na Margem Sul do Tejo, onde até hoje dá formação em pastelaria e decoração artística de bolos, com chefs e cake designers de renome a nível nacional e internacional.
Mas o sonho, esse não termina. Este ano, criou o seu canal no YouTube, onde apresenta receitas deliciosas e práticas todas as semanas, e até dezembro irá publicar o seu segundo livro de pastelaria, com receitas de bolos decorados para ocasiões especiais. “Tem sido maravilhoso gerir a minha carreira seguindo o caminho que eu própria traço, embora sem grandes planos a longo prazo. É deixar fluir e tudo acontece.”
Quando lhe perguntam, em alguma ocasião, se tem saudades da enfermagem ou se se arrepende de a ter deixado, Patrícia tem a resposta na ponta da língua: “Saudades, sim, de algumas coisas, mas não da maioria. Arrependimento, nunca! Hoje sou muito mais feliz.” Às filhas, que se encontram numa fase em que começam a sentir pressão para tomar decisões sobre escolhas profissionais, Patrícia diz-lhes que devem seguir aquilo que o coração sente.
Para isso, procura dar-lhes oportunidades de experimentarem tudo o que elas gostam, na esperança de que descubram aquilo que as realiza. “Se neste percurso encontrarem uma verdadeira vocação, excelente. Se não encontrarem para já, seguirão aquilo que lhes parecer melhor, com a certeza de que a vida lhes mostrará um dia algo mais. O meu exemplo de vida é o melhor que lhes posso dar: não me acomodei, tive a coragem e corri atrás do sonho. Nunca é tarde!”
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