JJúlia Pinheiro entre as Mulheres mais Influentes

Júlia, menopausa! Menopausa, Júlia!

Acabámos de ser apresentadas.

A privacidade é um direito. Mas também entendo que na vida pública temos o direito e a obrigação de, publicamente, contribuir para a desmistificação e para o esclarecimento de temas importantes. Como a menopausa. Não tenham medo. Menopausa é mais um ‘pretexto’ para nos tornarmos mais fortes.

A menopausa é comum a todas as mulheres. Mas a experiência é sempre diferente. Cada uma de nós terá a sua história para contar. A minha é recente e semeou os seus primeiros sinais há cerca de sete, oito meses, com a quebra do ciclo menstrual. (É verdade: andamos nós, mulheres, a desejar que aqueles dias do mês terminem… e não é que um dia terminam mesmo?) Fui então surpreendida por uma maior dificuldade de resistência ao cansaço, o que acabei por descobrir naturalmente, durante aquelas longas jornadas de trabalho nas quais antes não me dava conta do passar das horas. Agora já não é o relógio (nem o senhor Rui Pêgo) que me manda para a cama. Tenho uns ponteiros internos que simplesmente ganham vida própria e começam a desligar-se. Digamos que a tecnologia está muito avançada e o processo é automático. Não vale a pena insistir, penso para mim própria. Amanhã há mais (trabalho). Dores? Algumas, nas articulações. E, embora nunca tenha sido pessoa de enxaquecas, a verdade é que nestes últimos meses a revolução hormonal tratou de me oferecer umas ligeiras dores de cabeça. Decidi combater este desconforto físico com exercício, mas as manhãs da SIC tramaram-me e (felizmente, pois estou absolutamente de acordo com este novo horário) comecei a chegar mais cedo ao ecrã. Alternativa: ténis e fato de treino à hora de almoço. E muitas caminhadas (que faço com o meu marido) para complementar a dose ideal de atividade física e atrasar as complicações diagnosticadas para esta etapa (osteoporose, etc.).

Menopausa tem tido, porém, outros sinónimos. Melancolia. O que, aqui entre nós, tem sido um alívio lá em casa. Partilhar o mesmo teto com uma pessoa que todos os dias é euforicamente alegre até parece divertido. Mas, acreditem, pelos testemunhos do meu marido e dos meus filhos, que não é pera doce. Mas calma e melancolia q.b. Digamos que de vez em quando sou uma nuvem ligeira num dia de sol.

Tolerância. É mais um adjetivo que gostaria de partilhar convosco, mulheres em plena fase de maturidade como eu. Aquelas situações que antes me aborreciam ao de leve tornaram-se verdadeiramente irritantes, absurdas, capazes de me virar do avesso e de me fazerem saltar os olhos das órbitas. A minha equipa e a minha família sabem do que falo. Mas, atenção, não é assim um traço tão desvantajoso como aparenta ser. Se não gosto, digo, não faço fretes. Convenhamos, é libertador.

Se aos 40 aprendi a dizer ‘não’, aos 50 aprendi a não fazer fretes quando não me apetece e me aborrece. A idade traz-nos esta sabedoria de fazer reposicionar o conforto. Antes, tudo tem prioridade – dos nossos filhos ao trabalho. Com os anos, deixamos de secundarizar o conforto e o ‘eu’. E eu? Lembramo-nos de nós. E a minha pele, para a qual nunca tive o tempo necessário de cuidar? E o meu cabelo, do qual me esquecia com regularidade? E as refeições, que vão precisar de mais cálcio e vitaminas, mais cozidos e grelhados…?

A menopausa também é um despertador. Acorda-nos para os nossos receios, frustrações, desejos, forças. E lembra-nos de que o ‘eu’ tem prioridade. Por isso, deixem passar a menopausa. Não tenham medo!

 

 

 

 

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