Diana Bastos Niepce, 32 anos, é bailarina profissional, empreendedora, e treinadora de Nina. Nina é uma cadela Weimaraner que a acompanha a todo o lado. A relação entre Diana e Nina é muito especial – porquê? Porque Nina é o cão de assistência de Diana.
Diz o ditado que estamos sempre a aprender. Umas vezes por vontade própria. Outras vezes, porque não temos alternativa. É o caso de Diana. Há quatro anos, uma queda de um trapézio deixou-a tetraplégica, e fez com que tivesse que reaprender quase tudo. Reaprendeu a viver. E neste desafio exigente teve uma ajuda à altura, chamada Nina.
Conheceram-se em 2015, quando a Associação Portuguesa de Cães de Assistência (APCA) encontrou Diana em Alcoitão. A Associação treina Cães de Assistência não só para pessoas como Diana, com mobilidade reduzida (ajudando-as por exemplo a ações do quotidiano como calçar ou descalçar meias), mas também para pessoas que sofrem de diabetes, autismo e epilepsia.
O treino de um Cão de Assistência pode ir de 1 ano e meio a 2 anos, dependendo da função a que se destina. “Mas é um treino muito comportamental. Consegue, por exemplo, prever epilepsia, apesar de não ser especificamente treinada para isso. Os cães adaptam-se muito facilmente,” explica Diana, que continua a dançar. “Só não levo mais vezes a Nina comigo porque ela depois quer dançar comigo,” explica, sorridente.
Apesar de, na altura, Diana ter enfrentado um diagnóstico pouco promissor, hoje já consegue andar em canadianas. E esta evolução foi acompanhada com o treino de Nina, uma cadela weimaraner.
“O treino da Nina foi passando por alterações ,” explica Diana, que hoje consegue ter uma certa autonomia. “A Nina agora é treinada para ser o meu suporte quando estou na rua, por exemplo.”
A dança como forma de aprendizagem
Sim, Diana continuou sempre a dançar. Mas teve que aprender novas formas de dança. Com cadeiras de rodas, andarilhos, canadianas. “De repente o meu corpo desligou, mas hoje já consigo comer sozinha, ir da cadeira para o sofá, dar um passo.” Cada pequeno momento é uma vitória. E a dança foi essencial no processo de recuperação. O reaprender da dança, a utilização da sua condição como um instrumento, como meio de comunicação e de arte, torna a sua arte “algo política”.
O aprender a assumir a diferença
Diana é uma defensora da diferença, ou até, da igualdade na diferença. “Ninguém é perfeito. E a sociedade está pouco preparada para lidar com as incapacidades de mobilidade. Ainda somos muito excluídos da sociedade”.
E a verdade é que, segundo Diana, há quem precisa de aprender a lidar com as limitações motoras dos outros. “Há uma certa intrusão que as pessoas têm de aprender a controlar. Chegam a forçar-me a receber ajuda, fazem-me perguntas sem me conhecerem. É uma intrusão na minha vida. Parece que as pessoas precisam de ouvir o outro como um igual” explica.
Receber, em troca, o papel de herói, de superação e inspiração dos outros também consegue ser “um discurso gasto,” conta. “Não somos diferentes dos outros porque continuamos a viver o resto da nossa vida. Nós adaptamo-nos, independentemente daquilo que a vida nos atira.”
“Sim, podemos ser uma fonte de inspiração, mas seria bom que essa inspiração desse frutos práticos,” como a criação de empregos, e de apoios a pessoas que enfrentam a mesma situação de Diana.
Diana não fica à espera que as iniciativas aconteçam. Neste momento, está a dinamizar um crowdfunding com a companhia de dança Plural, com a fundação LIGA e em parceria com a Escola Superior de Dança para a estreia de um novo espectáculo em Janeiro de 2018. Todos os que pretendam colaborar podem fazer a sua contribuição neste link: https://ppl.com.pt/causas/plural
Diana tem mobilidade reduzida. Mas quer continuar a dançar. E às vezes querer é poder. Parabéns Diana.
