Marion Beaton, a octogenária que sabe qual o segredo para enfrentar a solidão

O segredo para enfrentar a solidão

Marion Beaton, de 81 anos, explica qual o segredo para enfrentar a solidão, especialmente após o falecimento do seu marido. A solidão pode ser mais mortal do que a obesidade e o tabagismo. Em Portugal, mais de 45 mil idosos vivem sozinhos.

O Reino Unido criou um novo ministério: o da Solidão. Esta instituição governamental visa combater uma situação associada muitas vezes a problemas como a demência e a mortalidade precoce.

Marion Beaton, de 81 anos, está entre os 9 milhões de britânicos afetados pelo problema da solidão. “Fiquei encantada, é claro”, reagiu ela sobre a nomeação, pela primeira-ministra Theresa May, de uma ministra para enfrentar aquilo que considera ser uma epidemia. “Mas não podemos confiar apenas em iniciativas governamentais, temos de ser mais resistentes também”, avisa.

Depois de meio século juntos, o marido de Marion, o jornalista e autor Harry Scott Gibbons, faleceu. Marion descreve a sua perda como a de “um amputado que perdeu um braço mas que ainda sente o membro que perdeu”. “Tenho sempre a sensação de que ele está perto.”

Esta sua história inspiradora é a forma simples, e ainda assim eficaz, de Marion combater a sua solidão. Começou por ler. O objetivo é tornar um momento a sós num momento para refletir “de forma positiva”. “Graças a Deus, sou capaz de o fazer: dominar a solidão e recusar-me a deixá-la arrastar-me. É uma capacidade que garante que a minha vida continue a ser rica e cheia de significado.”

Afinal, Marion declara que se recusa a ser um estereótipo, o da “velha sozinha”. Escolheu o lar para quando não for capaz de cuidar de si própria.

Mais forte do que a obesidade e o tabaco

De facto, estudos apresentados em agosto de 2017 durante a 125ª Convenção Anual da Associação Americana de Psicologia indicam que a solidão e o isolamento são um perigo para a saúde pública. Chega a ser um risco maior do que a obesidade, por exemplo.

Julianne Holt-Lunstad, professora de Psicologia da Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos, declarou nessa convenção que os 148 estudos realizados, com mais de 300 mil pessoas analisadas, revelaram que uma maior relação e interação com a sociedade diminui em 50% o risco de morte prematura.

Outro estudo à escala global indicou que o isolamento social, a solidão ou facto de se viver sozinho têm grande influência na mortalidade. Holt-Lunstad avisou: “A magnitude do risco ultrapassa a de muitos indicadores de saúde”, como o tabagismo, e espera-se que o seu efeito venha a aumentar, devido ao envelhecimento da população.

A investigadora aposta na importância da preparação para uma reforma social e financeira, dado que a maior parte das relações está associada ao local de trabalho.

Quanto à situação em Portugal, a Operação Censos Sénior 2017, da GNR, contou cerca de 45 mil idosos a viverem sozinhos ou isolados.

Ser simpático prolonga a vida

A chefe de enfermagem inglesa Jane Cummings afirmou, no início deste ano, que a solidão poderia aumentar o risco de morte prematura. Principalmente durante os dias de inverno. “Alguns simples atos de companheirismo podem ajudar, e muito”, declarou a chefe nacional de enfermagem.

Marion Beaton explica que, “assim como as articulações precisam de exercício, o cérebro também necessita de treino”. Mas muitas vezes esse exercício não pode ser feito sem o apoio de alguém.

“A vida é um presente”, diz Marion. “Permitir que a solidão tire o seu brilho em qualquer das suas etapas é um crime que todos devemos tentar evitar.”

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