Nunca é tarde. O João começou a fazer exercício (Asthanga Yoga) aos 50. E aqui está ele!

A fadista Cuca Roseta apresenta hoje um livro sobre yoga (Asthanga Yoga), da autoria de Vera Simões. E eu fui espreitar umas páginas, motivada por alguns estudos que de vez em quando me saltam à vista.

Quando leio resultados como estes, publicados no Jornal de Oncologia Clínica  (acerca do impacto positivo da prática de yoga na auto-estima, na fadiga e na dor, em mulheres com cancro de mama e em tratamento de radioterapia), confesso que deixo de parte a ideia (ou o preconceito) de que para ser yogui é preciso ter espíritode  acrobata.

E lá continuei a folhear o livro até me deparar com estes dois (bons) alunos, os quais partilho convosco, em Júlia – De Bem com  a Vida. 

Nunca é tarde. O João começou a fazer exercício (Asthanga Yoga) aos 50. E aqui está ele! João-yoga

João Vitorino, 60 anos, praticante de Ashtanga Yoga

João Vitorino, 60 anos, Analista Informático

“A minha prática regular de Ashtanga Yoga começou em 2007, aos 50 anos de idade. Até aos 45 anos, nunca tinha praticado nenhuma atividade desportiva, e decidi inscrever-me num ginásio para inverter o rumo da vida sedentária que levava, e perder algum peso, que na altura considerava excessivo.
A prática dedicada e disciplinada foi-me moldando ao longo destes 10 anos. Sinto que tenho hoje mais foco e controlo nas minhas atividades diárias, sou menos fundamentalista, mais tolerante, mais confiante e tranquilo. Nunca é tarde para começar algo na nossa vida, e para aproveitar e desfrutar dos benefícios desta prática. E, considerando a minha experiência pessoal, estou convicto de ter encontrado uma ferramenta que, com as modificações necessárias, me acompanhará para o resto vida.”

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Rosário Carneiro, 59 anos, Praticante de Ashtanga Yoga

Rosário Carneiro, 59 anos, Artista Visual 
“A grande inspiração para a minha prática regular são os benefícios que dela retiro. O Ashtanga Yoga faz-me sentir muito bem a vários níveis, nomeadamente o físico, o mental e o emocional. A prática transmite-me simultaneamente uma grande calma e também, o que poderá parecer contraditório mas é assim mesmo, uma grande energia. Para mim, é a melhor maneira de começar o dia. Costumo sair do shala com um sorriso nos lábios. E, não sendo dia de praticar, se acordo com uma disposição mais sombria, faço algumas posturas e sinto-me logo melhor. A prática regular de Ashtanga Yoga foi, pouco a pouco, transmitindo-me uma maior paz de espírito e um maior equilíbrio, o que teve repercussões positivas em vários aspectos da minha vida.”

5 Perguntas à professora de Ashtanga Yoga, Vera Simões

  1. Ashtanga Yoga é considerado forte, do ponto de vista físico. Mas estará ao alcance de avós… como eu?

Esta prática de Yoga tem realmente uma forte componente física, mas a sua aprendizagem é gradual porque o ensino respeitas as particularidades, capacidades e necessidades de cada um dos alunos. Por isso qualquer pessoa o pode fazer, e as avós são muito bem-vindas!

2. Em 2007, decidiu ir estudar Yoga para a Índia, o berço do Yoga. Fale-nos um pouco dessa sua experiência. O que mais a impressionou na Índia?

Em 2007 fiz finalmente a minha primeira viagem a Mysore, no Sul da Índia, para estudar no reconhecido Shri K. Pattabhi Jois Ashtanga Yoga Institute (KPJAYI). Foi uma viagem marcante e muito especial porque tive a oportunidade de ainda conhecer e praticar com o próprio Shri K. Pattabhi Jois, e de conhecer aquele que se tornaria o meu professor direto, Sharath Jois (o seu neto). O que mais me impressionou na Índia foi as aulas dentro desta escola, onde encontrei praticantes de Ashtanga Yoga dos quatro cantos do Mundo, pessoas de várias idades, homens e mulheres, com histórias de vida e profissões distintas, pessoas da China, do Japão, dos EUA, do Brasil, do Chile, da Suécia, da Finlândia, e de muitos outros países. Todos praticavam focados nas respirações sincronizadas com os movimentos e posturas, recriando um ambiente intenso, de foco, de calor humano, onde o corpo tem a oportunidade de viver um processo perfeito de limpeza física, mas senti que todos estavam ali à procura de algo para lá do físico.

 

3. É verdade que a Índia está cheia de cheiros, cânticos e lugares maravilhosos para fazer yoga?

Sim, é verdade, a Índia é uma terra de intensidade. Há constantemente cheiros de flores, incenso, comida, observa-se e escuta-se com recorrência as pessoas a viverem uma espiritualidade traduzida em muitos rituais e práticas nos templos, e há lugares incríveis para se praticar Yoga. Mas é preciso recolher informação sobre quem são os professores, com quem aprenderam e há quantos anos praticam.  Antes de se inscreverem em aulas, workshops, retiros e cursos de Yoga, na Índia, aqui em Portugal, ou noutra parte do mundo, é necessário saberem quem está do lado de lá a ensinar. Porque infelizmente o mundo do Yoga virou um mercado, uma indústria de milhões, onde qualquer pessoa pode ensinar, faz um curso de um mês no Norte da Índia ou até aqui em Portugal, pessoas que nunca praticaram Yoga na vida e que no final deste tempo limitado recebem um certificado a dizer que são professores.

4. Vinyasa é um grande desafio. Pode explicar-nos melhor? Ou seja, mesmo no dia a dia, quem não coordena os seus movimentos com a respiração, pode acontecer cansar-se mais, está correto?

Vinyasa significa a sincronização da respiração com os movimentos e posturas, e é uma das características principais do Ashtanga Yoga.

É importante termos consciência de como respiramos enquanto executamos todos aqueles movimentos e posturas, de modo a criarmos energia e não o contrário, exaustão física. E é igualmente muito importante, sabermos respirar no nosso quotidiano, respirar pelo nariz e usar um dos músculos principais da respiração, o diafragma. Se respirarmos corretamente estamos já ajudar o nosso corpo e a nossa mente a estarem estáveis.

Faça o teste, a próxima vez que se sentir nervoso, ansioso, stressado, repare como está a respirar, pela boca? De forma rápida, superficial, usando apenas a zona do seu peito? E pelo contrário, quando estiver na praia, a caminhar descalço, a sentir-se sereno, vivo, presente, tome nota de como está a respirar, vai começar a fazer ligações importantes para compreensão sobre a influência da forma como respiramos e como sentimos o nosso corpo e a nossa mente.

5. Uma boa postura para a Menopausa, existe? 

A menopausa está associada a muitas mudanças hormonais, físicas e mentais, que influenciam o dia-a-dia da mulher, podendo tornar-se numa fase de vida mais complicada. Uma das posições que ensinaria seria BADDHA KONASANA (uma postura que faz parte da Primeira Série de Ashtanga Yoga).

Procure respirar apenas pelo seu nariz.
Encha e esvazie os pulmões de ar sem paragens.
Quando terminar a sua inspiração, continue para a expiração, mantendo uma respiração contínua e fluída.

Baddha Konasa (postura da borboleta)

Sente-se no chão e traga os seus pés  juntos para perto da sua região pélvica,  dirigindo as solas uma para a outra, e os joelhos para os lados. Coloque cada uma das suas mãos a agarrar os pés, como se estivessem a abrir um livro, ajudando que as solas rodem ainda mais para o tecto, aumentando o movimento de abertura das suas ancas, e conduzindo os joelhos para baixo e para os lados. Com a coluna direita, acomode bem os seus glúteos no chão e recolha o cóccix para baixo. Liberte os ombros, e mantenha cabeça e a face para a frente. Permaneça aqui um minuto, se necessário comece por menos tempo, entre 10 a 20 respirações, para soltar, relaxar tensão e incómodos físicos, mentais e emocionais. Caso sinta desconforto nos joelhos, leve os seus pés para mais longe da região pélvica, ou pode ainda colocar um bloco ou um livro grande de capa dura debaixo do joelho que sente reacção, e desta forma estará mais confortável. Não fique na postura se sentir dores nos joelhos.

A próxima fase do exercício é flectir o seu tronco para a frente.

Ou seja, mantenha as nádegas no chão e as mãos a agarrarem cada um dos pés ajudando a rodar as solas para o teto. De seguida traga o seu tronco para a frente, com a intenção de colocar o seu queixo no chão, bem à frente dos seus pés. Quando iniciar este movimento, não se esqueça de manter os ombros para trás, garantindo espaço entre estes e as suas orelhas, de respirar continuamente, e de focar o seu olhar num ponto à frente dos pés, de modo a ajudar a conduzir o seu queixo até lá. Respire com calma, sinta o que está a fazer, aprenda a usar a expiração e a soltar qualquer tensão e incomodo. Use a consciência no seu corpo para identificar onde deve parar, e permanecer com conforto. Este segundo exercício ajudará também a quem passa muitas horas de pé, é uma ótima postura para permanecer e relaxar as pernas e enviar livre circulação sanguínea e de energia para toda esta área do corpo.

Para desfazer a postura, bastará retirar o queixo do chão, subir o tronco, juntar devagarinho cada um dos seus joelhos, colocando as solas dos pés no chão, abraçar as pernas e permanecer aqui algum tempo, sentindo-se presente no seu corpo, na sua respiração e observando como se sente.

 

 

Nunca é tarde. O João começou a fazer exercício (Asthanga Yoga) aos 50. E aqui está ele! vera-simoes

Parar. Sentir. Respirar.

 

 

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