Lídia Franco

“Tirem-me tudo menos a lucidez e o sentido de humor”, Lídia Franco

Numa altura em que a imprensa revela o nome de Lídia Franco como a selecionada para entrar no próximo filme de Michael Bay, um realizador que trabalha com a elite dos atores de cinema, como Nicholas Cage, Bruce Willis e Ewan McGregor, recordo um pouco do percurso desta fabulosa e belíssima atriz. Dois dedos de conversa com uma mulher a quem não faltaram antes convites para trabalhar em projetos fora do seu país e seguir uma carreira internacional.

Lá fora, a representação piscava-lhe o olho, mas houve sempre uma paixão mais forte a pesar na balança: a maternidade.  “Sim, realmente tive convites para seguir uma Carreira Internacional quando o meu filho precisava de mim em Portugal e por isso eu escolhi ficar. Claro que não me arrependo. Pelo contrário, ele é hoje um dos maiores Cientistas do Mundo!”.

Miguel Soares, filho de Lídia Franco, doutorou-se com 20 valores, esteve na Universidade de Harvard durante 10 anos e regressou a Portugal. O seu trabalho de investigação no combate à malária, no Instituto Gulbenkian da Ciência, mereceu, em 2015, um financiamento da Fundação Bill Gates.

Miguel Che Soares: “o meu filho nasceu quando morreu Che Guevara. Um filho é Esperança. Era o que na altura nos transmitia o Guerrilheiro”, conta-me Lídia.

Lídia engravidou na Bélgica, para onde foi com o pai de Miguel, enquanto refugiada política antes dos 25 de abril. “Os meus pais não tiveram nada a ver com essa minha decisão, pelo que fui eu que tive de acarretar com todas as consequências, incluindo a de passar alguma fome.” Arroz e ervilhas foi durante alguns meses de maternidade a sua principal e única refeição. “Foi mais um momento ‘complicado’ que me deu mais algumas lições de vida.”

A vida de Lídia dava um livro. E por isso, há quatro anos, aceitou o desafio da biógrafa Manuela Oliveira para contar “As Histórias de Vida”. Nestas páginas, recorda os seus tempos de bailarina e mergulha também nos episódios da condição feminina. Tempos em que não era permitido usar calças e sapatos altos. Tempos em que a etiqueta “bonita” a empurrava para papéis de segunda e a predispunha a predadores de assédio. À imprensa, Lídia já partilhou a vez em que, enquanto hospedeira de bordo, perdeu o emprego por ter recusado dar uma “voltinha com o chefe”.

A (matur)idade

Hoje, com 74 anos, muita coisa mudou em Lídia. “Com a idade fiquei mais serena e com muito mais aptidão para me pôr no lugar dos outros e poder assim compreender melhor as pessoas, e a mim própria”, responde. Com a idade, a beleza mantém-se firme no rosto, realçado pelos cabelos brancos que decidiu assumir. “Fazia alergia a todas as tintas”, conta.

Lídia confessa que “sempre gostei de viver. Adoro comer, mas sei que devo seguir algumas regras. Como fui bailarina clássica, fiquei com a coluna toda estragada, pelo que faço regularmente tratamentos de osteopatia, massagem, etc. Detesto ginásios, e por isso tenho uma passadeira em casa onde ando, pelo menos, 30 minutos por dia. Nunca me deito ( seja a que horas for) sem lavar o rosto, hidratar. Uma vez por mês, faço uma limpeza de pele do rosto. E tento dormir 8 horas”.

Lídia cumpre ainda os chek-up de saúde regulares e toma alguns suplementos alimentares. Mas… “o principal é nunca desistir de trabalhar no que se gosta! É o meu caso. Ou seja: Amar.”

“Amo o meu filho. E estou apaixonada pelo meu neto, preocupo-me muito mais com ele do que me preocupava com o meu filho!”, partilha.

No palco, atualmente, uma das suas paixões é “dar aulas, dirigir atores, encenar. É apaixonante poder contribuir para a descoberta do outro, para o ajudar a ‘voar’ artisticamente’.
É por isso que esta próxima formação que vou dar na Escola ACT chama-se: ‘Descobre a tua verdade’. A Arte existe para revelar  a Verdade que a Sociedade nos esconde.
Um Artista é um explorador do mundo onde ninguém esteve mas que todos reconhecemos.
Por isso, o trabalho do atores também pode ajudar o público a descobrir a sua verdade escondida.”

E a verdade de Lídia, qual é? “A minha verdade revela-se sempre que me aproximo de uma personagem e enfrento os meus medos e respetivas defesas.”

Sobre o passado, os anos de Casino Royal, de Tal Canal ou de Humor de Perdição, entre os mais de 50 trabalhos televisivos, Lídia costuma dizer: “Tirem-me tudo menos a lucidez e o sentido de humor!”. A atriz conta que adora trabalhar com o Herman: “Divertia-me muito a ver as cenas quando eram transmitidas. Não quando as interpretava. Não há nada mais sério que o humor!”.

Sobre o futuro, Lídia confessa que “gostava de viver mais anos. De acompanhar o crescimento do meu neto. E de fazer um bom texto de teatro. Bom cinema. Boa televisão. Dirigir atores.”

 

Foto: Telmo Pereira Photographer

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