A frase polémica foi proferida por Daniel Cardoso, professor universitário na área da comunicação e também conhecido por ser ativista da diversidade sexual e de género, tendo trabalhos científicos publicados sobre a sexualidade.
Daniel Cardoso foi um dos convidados do programa Prós e Contras, emitido segunda feira, na RTP1, dedicado ao tema do assédio. E o exemplo que deu, quando se discutia o consentimento sexual, levantou uma onda de críticas que tem suscitado uma discussão acesa nas redes sociais.
Na base da controvérsia estão as seguintes declarações do professor universitário: “É preciso falar de educação de forma concreta. A educação é quando a avozinha ou o avozinho vai lá a casa e a criança é obrigada a dar o beijinho à avozinha ou ao avozinho. Isto é educação, estamos a educar para a violência sobre o corpo do outro e da outra desde crianças. Obrigar alguém a ter um gesto físico de intimidade com outra pessoa como obrigação coerciva é uma pequena pedagogia que depois cresce.”
“Não estou a perceber”, interveio a apresentadora Fátima Campos Ferreira. E reforçou a pergunta: “O beijinho da avó ou do avô é uma violência?”.
Faço a pergunta a Cristina Valente, psicóloga e coach parental.
Antes de mais, responde a psicóloga, “beijo e violência são duas coisas que não fazem sentido juntas. Beijo ou abraço é o contrário de violência”.
A psicóloga realça, contudo, que a questão de a criança querer ou não beijar os avós levanta algumas questões: “depende de como a criança foi educada a manifestar carinho pela família, como é que a criança entende o carinho, se os avós são pessoas presentes ou disponíveis para a criança, e depende ainda de como os seus pais demonstram carinho pelos seus respetivos pais, ou seja, pelos avós das crianças”.
Porque, na verdade, destaca a psicóloga, as crianças modulam os adultos que estão mais por perto, ou seja, os pais. E as crianças podem estar a modular efetivamente o comportamento que vêem nos próprios pais.
“Eu estou mais preocupada atualmente na forma como os pais ensinam a demonstrar carinho ou não”, refere.
“Uma criança na sua essência é amor. Portanto, quando uma criança não quer dar um beijo a uma avô ou avó, que são pessoas importantes na família, aqueles a quem chamo de papás com açúcar, a minha pergunta é por que razão uma criança não quererá demonstrar amor pelo pai ou pela mãe dos seu pais? Do ponto de vista da psicologia e da alfabetização emocional, é esta a questão que mais me preocupa.”
Onde poderá estar a resposta para o facto de as crianças não quererem demonstrar um gesto de carinho para com o avô? “Se as crianças modelam os adultos que sobre elas exercem mais poder, a resposta estará nos pais”.
“Dou um exemplo muito concreto: se uma criança presenciar o seu pai a conversar com a mãe, de uma maneira menos positiva acerca dos avós ou dos sogros, ela vai modular esse comportamento quando estiver com os avós”, explica a coach parental Cristina Valente.