A Rute era mesmo uma princesa

Hoje não contava escrever sobre a Rute Cruz. Tenho-a guardada num local dourado do meu coração.

Era corajosa, brava e determinada. Nada lhe metia medo. E era uma campeã da generosidade. Trabalhámos lado a lado, na TVI. Fez uma dupla magnífica com o José Carlos Araújo.

Um dia, numa manhã muito triste para mim, aproximou-se de mim, na sala de maquilhagem da TVI e sussurrou: “não se preocupe, a sua filha vai sobreviver, eu sei porque todos os dias, a partir de hoje, vou ter uma prece para ela”. Neste dia, ninguém sabia que o destino da Rute seria trágico. Muito menos ela, tão inteligente e lúcida. Alguns anos, mais tarde chegou a leucemia.

Rute casou com o amor da sua vida, muito doente, e ainda assim, otimista e cheia de fé. Também lhe ofereci todas as minhas preces trapalhonas, porque falo com Deus num dialeto muito meu e, depois,  fomos tendo as notícias de um longo estertor de dor e de tristeza. José Carlos Araújo, seu colega de antena, parecia amputado e desnorteado. Adorava-a, porque era impossível não sucumbir ao encanto de uma mulher com tanto caráter e dignidade.

Fui despedir-me dela, num dia muito difícil, na Basílica da Estrela. A mãe olhava-a com o espanto de quem não acredita que o destino tem isto para nos dar: a partida de um filho. E o pai, num meio de um abraço muito apertado, disse-me: ela era a nossa princesa. Reitero aqui estas palavras com uma década: era mesmo uma princesa!

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