Aos 66 anos, Helena Isabel publica um livro, cria um canal de youtube, e continua a fazer coisas pela primeira vez. Mais madura, experiente. Mas o seu coração continua sonhador. Continua a correr atrás… E os jeans continuam a assentar-lhe que nem uma luva. É um detalhe da sua eterna juventude. Porque Helena Isabel aprendeu com Miguel Torga a “nascer todas as manhãs”!
“Envelhecer não significa diminuir os nossos interesses ou não aproveitar os prazeres que a vida nos dá diariamente. Significa que podemos desfrutar desses prazeres mais intensamente com a sabedoria que um longo passado de experiências nos deu”, Helena Isabel, em A Idade não me Define, Manuscrito
Uma coisa que herdou da sua mãe: o gosto por se arranjar. É verdade que nunca viu a sua mãe de pijama o dia inteiro?
Sim, sempre vi a minha mãe arranjada. Não era pessoa de grandes luxos, mas tinha muito cuidado na sua apresentação. Não sei se essas coisas se herdam, mas pelo menos influenciaram-me no sentido de não me desleixar. Não quer dizer que me maquilhe todos os dias, nem que ande sempre muito produzida, mas gosto de me sentir bem, nem que seja para ir ao supermercado. Em termos comportamentais, da minha mãe herdei a consideração que tinha pelos que nos rodeiam. “A nossa liberdade acaba onde começa a dos outros” foi sem dúvida o seu grande ensinamento.
Londres, 1974, E depois do Adeus. Pode contextualizar-nos esta capa do Século Ilustrado (que vem também numa das páginas do seu livro “A idade não me define”).
A capa do Século Ilustrado tem a ver com a vitória de Paulo de Carvalho no festival da canção de 1974. Nesse ano o Festival teve lugar no Teatro Maria Matos. Eu era uma das concorrentes, e já na altura, grande amiga do Paulo. Ele foi o vencedor com a canção “E Depois do Adeus” que viria a ficar célebre por ser uma das senhas para a Revolução de Abril. Como era de calcular, fiquei muito feliz por ele e a foto nessa capa registou a altura em que lhe dava os parabéns.
A nível profissional, o Tal Canal é sempre o tal… projeto. Há alguma cena que, tantos anos depois, nunca tenha esquecido e possa partilhar connosco?
O Tal Canal é uma grande referência para todos os que participámos nesse programa, que viria a revolucionar a forma como se fazia humor em Portugal. Mas é também uma enorme referência para várias gerações. Ainda hoje jovens de várias idades me dizem que se lembram de mim dos tempos de “O Tal Canal”. Não consigo precisar um episódio porque todos foram tão marcantes. Mas há frases que ainda hoje digo, como “Está aí alguém?” ou “Com os olhos olhando em paralelo o infinito”.
Uma das viagens que a marcou mais foi ao Rio de Janeiro, onde passou o Natal. E este Natal, como será?
O meu Natal é quase sempre passado da mesma maneira. Em família. Gosto especialmente desta época porque é a oportunidade de estarmos todos juntos, o que nem sempre conseguimos fazer ao longo do ano. Faço normalmente o jantar da véspera de natal em minha casa. Não dispenso o bacalhau e, apesar de não ser muito apreciadora dos doces típicos da quadra, não podem faltar. O meu preferido é, sem dúvida, as rabanadas. Não dispenso. Os natais da minha infância e juventude desapareceram quando perdi os meus pais, mas outras pessoas juntaram-se à família. É a lei da vida e poder desfrutá-los com saúde já é um privilégio.
Presentes: que presentes já comprou ou já planeou?
Já comprei alguns presentes, este ano tenho tido mais tempo. Faço os possíveis por não me deixar tentar pelo consumismo e gosto de oferecer presentes úteis e personalizados. Apesar do natal ser muito mais do que isto, gosto da troca de presentes. É uma demonstração de carinho entre as pessoas, não podemos é deixar que se torne uma “obrigação”, nem entrarmos em gastos desnecessários.
A Helena conta no seu livro que esteve casada 16 anos com Paulo de Carvalho.
E que hoje ainda mantêm uma boa relação de amizade. O que nem sempre acontece com os casais que se separam.
Qual foi o segredo, no vosso caso, para manterem a amizade quando o amor terminou?
Costumo dizer que tive um casamento feliz, apesar de não ter durado a vida toda. Foi muito bom enquanto durou e isso é que conta. Ficámos com uma ligação para a vida que é um filho em comum. Acho que, quando há filho,s os casais têm que manter uma ligação pacífica, para bem deles.
A nossa separação foi gerida com grande discrição, como aliás o nosso casamento. Acho que a imprensa só “descobriu” quando já estávamos separados há um ano. Apesar de uma separação ser sempre dolorosa para o casal, especialmente com filhos, tentámos que ela fosse o menos traumatizante possível.
Quem é a Helena Isabel, a mãe Helena Isabel?
Sou uma mulher comum com uma profissão diferente. Não tenho horários certos, nem emprego certo. A vida dos atores tem altos e baixos, mas no fundo sou uma mulher como as outras, com as mesmas lutas, as mesmas preocupações… Como mãe, não sou muito possessiva. Sou muito independente e tentei transmitir isso ao meu filho. Mas amamos-nos de paixão e sabemos que estamos sempre lá um para o outro.
O que é envelhecer bem, para si?
Envelhecer bem, para mim, é não ficar agarrado ao passado. Viver o dia de hoje como se não houvesse amanhã. Aceitar o que de positivo a idade nos traz e desvalorizar o negativo. Tirar o melhor proveito do que temos e não deixar que aquilo que já não temos nos envenene a existência. Manter a nossa curiosidade sobre o que nos rodeia e tentar acompanhar o novo tempo.
Ao longo do tempo, que boas e menos boas coisas lhe trouxe a idade?
Uma coisa boa que me trouxe foi o desenvolvimento da minha auto-estima e a confiança em mim. Sinto muito menos a pressão de tentar agradar, de mostrar que sou capaz. Outra coisa boa foi a capacidade de dizer não ao que não me interessa. Fiz muita coisa que não me agradava por não conseguir impor-me, ou por timidez ou por medo de ferir alguém. Hoje tenho a noção de que não tenho tempo a perder, por isso tento não fazer nada contrariada.
As menos boas são: o futuro cada vez mais curto (tento não pensar nisso para não ficar triste) A falta de mobilidade e de impulso que nos leva a experimentar coisas novas (felizmente não me posso queixar, ainda) as rugas que teimam em aparecer (às vezes é preciso um esforço enorme para as aceitar)
“Gostava de ter outra vez 20 anos e NÃO saber o que sei hoje”, costuma dizer. Pode comentar?
Se soubesse o que sei hoje evitaria uma série de disparates que fiz com os quais aprendi e que me formaram como pessoa. As asneiras fazem parte da juventude e da nossa aprendizagem. Se soubesse o que sei hoje, não iria viver a minha juventude em pleno.
“Menopausa, esse grande tabu de que temos de falar” é o título de um dos capítulos do seu livro. Na sua opinião, qual o grande mito associado à menopausa.
Há vários mitos, desaparece o desejo sexual, começamos a envelhecer, sentimos-nos menos mulheres só porque já não podemos procriar… Na minha opinião, nada de mais errado. É uma etapa da nossa vida e não mais do que isso. A nossa vida sexual, às vezes, até melhora, começamos a envelhecer desde que nascemos e quem é que quer ter filhos depois dos cinquenta?
Neste capítulo fala ainda de vários tratamentos estéticos. Pode dizer-nos quais recomenda?
Sou adepta dos tratamentos estéticos porque podem atrasar senão evitar as cirurgias, que são mais invasivas e que nem sempre correm bem. Aconselho uma consulta com um bom especialista porque cada caso é um caso. O que resulta em mim pode não resultar noutra pessoa. As peles não são todas iguais, nem a estrutura óssea e só um médico é que nos pode dizer o tratamento mais adequado para o nosso caso.
Estar de Bem com a Vida é… Achar que, apesar de tudo, vale a pena. Desfrutar de tudo o que de bom ela nos pode dar e tentar desvalorizar as fases menos boas. É “Nascer todas as manhãs” (Miguel Torga).