Michelle-Obama-Becoming

“Senti-me como se tivesse falhado”, Michelle Obama

A certa altura, no seu livro de memórias publicado recentemente e o qual adorei ler, a ex-primeira dama norte-americana Michelle Obama partilha: “senti-me como se tivesse falhado“. Michelle refere-se às dificuldades em engravidar, seguidas de um aborto espontâneo, uma situação que ocorre a 10-25% das gravidezes: “na altura eu não sabia o quão comuns eram os abortos, porque não falamos deles”.

Michelle revela agora neste seu livro que as suas duas filhas são resultado de Fertilização In Vitro, um tratamento de fertilidade que consiste na fertilização dos óvulos pelos espermatozóides em laboratório, no subsequente desenvolvimento embrionário e posterior transferência dos embriões assim obtidos para o útero. A terapia data de 1978, ou seja o primeiro bebé proveta nasceu 20 anos antes de Malia e Sasha, hoje com 20 e 17 anos respetivamente.

Este é um capítulo importante nas memórias de Michelle Obama: Michelle recorda as injeções hormonais do tratamento, o cancelamento de reuniões, a angústia de um processo pelo qual tantas outras mulheres passam… em silêncio.
“Só quem passa pela situação consegue entender”, conta-nos Elsa Gomes. Depois de seis cirurgias para retirar miomas, depois de três inseminações artificiais e mais três Fertilizações In Vitro (FIV), Elsa engravidou e esteve às portas da morte. Mas, agarrada a um sonho que passou a chamar-se Clarinha, está cá hoje para contar a sua história.

Estima-se que a infertilidade afeta 10 a 15% dos casais em idade reprodutiva. E as razões são diversas. No caso de Elsa, numa consulta de rotina aos 23 anos, a médica traçou-lhe de imediato o problema, aconselhando que passasse a ser seguida no Hospital de Santa de Maria. A presença de miomas no endométrio obrigou a uma cadatupa de cirurgias (seis ao todo) e quando o crescimento destes estabilizou, Elsa iniciou os tratamentos de fertilidade. Mas ao fim de três inseminações artificiais, o resultado positivo não chegou. Passaram a depositar as esperanças na etapa seguinte: FIV. Ao terceiro tratamento, os médicos optaram por recorrer a embriões congelados, mas o resultado manteve-se.

E os 40 anos chegaram a passos largos. O acesso às técnicas de Procriação Medicamente Assistidas no serviços públicos estão balizados pela idade (o que tem por base custo-eficácia – recorde-se que em mulheres com 40 ou mais anos, a FIV tem uma taxa de sucesso de menos 20% por ciclo) e, quando Elsa completou 40 anos, deixou de ter espaço na lista de espera.

Elsa conta que, ao longo do processo, nem todos estavam a par das razões por detrás das ausências no trabalho: “Filhos, para quando, perguntavam-me muitas vezes. Mas o que é que se responde?”.

Última tentativa: “falaram-nos de uma clínica (CEMEARE) com uma médica excecional (Dra. Maria José Carvalho). Resolvemos tentar. Mais euros, menos euros, pensámos”.

Elsa conta que, após fazer a quarta FIV, ganhou coragem e no dia das análises, fez um teste de gravidez que tinha em casa: deu positivo. Nunca contou ao marido, até a médica confirmar que os valores eram significativos. Ainda assim, Elsa manteve a gravidez em segredo, para aliviar expetativas e escondeu a barriga dos futuros avós: “recordo-me de a minha mãe perguntar por que andava sempre com uma mochila à frente da barriga”.

A Clarinha nasceu. Não sem mais um susto. Elsa conta que o parto era arriscado para quem, como era o seu caso, apresentava miomas que acabaram por contribuir para uma grande hemorragia. “Não feche os olhos, pediam-me. Mas os meus olhos só viam médicos em pânico”.

Elsa sobreviveu. Os médicos dizem-lhe que foi um milagre. Elsa sabe que esse milagre chama-se… Clarinha.

 

 

 

 

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