“Como poderemos enfrentar as dificuldades (de um filho que nasce com lesão cerebral) e continuarmos a ser felizes?

Uma terapia diferente,
Por Ana B, mãe de uma criança “diferente”

Mãe de Bem com a Vida

Quando pensamos na maternidade, quando pensamos em ter um filho, imaginamos aqueles seres minúsculos, lindos, de olhos brilhantes e sorrisos abertos, com as mãozinhas pequenas, a pele muito suave e os pés de nenuco. Imaginamos aquele cheirinho a bebé, tão familiar e reconfortante. Imaginamos aquele ser pequenino sempre nos nossos braços, protegido, seguro, saudável e, sobretudo, feliz.

Mas a verdade é que nem sempre as coisas acontecem como nós sonhamos, nem sempre os acontecimentos correspondem às expetativas que criamos e temos de lidar com dificuldades que nunca imaginámos possíveis! E nesses momentos a pergunta surge na nossa cabeça (e nosso coração): como poderemos enfrentar essas dificuldades e continuar a ser felizes?

No meu caso, depois do choque inicial ao receber o diagnóstico, e de um sentimento de impotência por não conseguir, com o meu amor e terapia convencional, que os resultados na evolução fossem mais rápidos, houve um momento decisivo para mim. Houve um momento que marcou a diferença em relação aos sentimentos de desapontamento, de tristeza e de impotência que eu sentia pelo facto de pensar nas limitações que a minha filha poderia vir a ter na sua vida, e aquela que passou a ser a minha atitude a partir daí. Esse momento foi uma formação para pais de crianças com lesão cerebral, nos Estados Unidos, numa instituição designada The Institutes for de Achievement of Human Potencial – IAHP. Há muitas opiniões contrárias a esta instituição, especialmente por parte da comunidade científica. Mas no meu caso, o contacto com aquela entidade foi a melhor coisa que poderia ter acontecido naquele momento.

Posso dizer que me abriram os olhos, alteraram a minha perspectiva, e acima de tudo, mostraram-me o potencial que todas as crianças têm (com ou sem lesão cerebral) e que é nele que nos devemos centrar. Essa foi a motivação que eu precisava para mudar a minha atitude. Isso e a oportunidade de conhecer famílias maravilhosas e com uma determinação incrível.

É impossível resumir numa crónica em que consiste o chamado “Método Doman”, bem como todos os seus benefícios ou as polémicas que existem à sua volta. O que eu posso dizer , baseando-me na minha experiência pessoal, é que se trata de um universo onde as crianças com lesão cerebral são vistas como aquilo que era suposto elas serem se não tivessem essa lesão; e todo o trabalho parte daí. Da mesma forma que um pintor olha para uma tela vazia e vê um quadro com a mais bela paisagem imaginada, da mesma forma que um escultor olha para um bloco de mármore em bruto e vê as formas delineadas de uma figura humana, Glenn Doman* olhou para as crianças com lesão cerebral e viu as crianças saudáveis e brilhantes que elas deveriam ser.

E a partir dessa visão, e da sua experiência como fisioterapeuta ao lado do Prof. Temple Fay**desenvolveu um método de tratamento que a pudesse tornar possível. Muitas vezes consegue-se concretizar uma parte dessa visão, algumas vezes toda a visão, e noutras, ela não se consegue tornar realidade em nenhuma das suas vertentes. Mas, e se não tentarmos?

Nem todas as crianças, nem todas as famílias, podem enfrentar a intensidade deste programa. Muitas crianças continuam a precisar das terapias convencionais. Outras crianças adaptam-se bem e evoluem de forma muito favorável. No caso da minha filha, por exemplo, não é possível fazer todo o programa (seriam necessárias cerca de 12 horas de tratamento 7 dias por semana). Mas continuamos a fazer grande parte do programa nas suas várias vertentes (física, fisiológica – nutrição e respiração -, sensorial e intelectual). E a verdade é que, ao nosso ritmo (“sin prisa pero sin pausa”), os resultados vão surgindo. E cada momento de progresso é um passo em frente no caminho da recuperação!

 

 

*Glenn Doman (1919-2013)- Fundador e diretor do IAHP, Philadelphia, USA

**Temple Fay (1895-1963)- Neurologista e neurocirugião, professor e diretor do departamento de Neurocirugia na Temple University Medical School, Pensilvania, USA

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