A moda está relacionada com um mundo de temas. Além do bom gosto, quando falamos de moda, também abordamos cultura, economia, religião, preconceito e liberdade.
A minha conversa com o stylist Filipe Carriço parte de dois temas polémicos e atuais, para as tendências da moda em 2019.
Recentemente, a marca italiana de roupa Gucci retirou do mercado uma camisola de lã, que, segundo as críticas, fazia lembrar a blackface, um termo referente a uma prática antiga usada no teatro, em que os atores pintavam a sua pele de carvão para interpretar personagens negras.
A marca, acusada de racismo, retirou das lojas esta camisola que se encontrava à venda por 785 euros.
A tua opinião sobre este episódio, Filipe?
Eu sou contra extremismos, no geral, em todas as áreas. O preconceito, o racismo, a xenofobia começam sempre na cabeça das pessoas. Eu adoro o trabalho do Alessandro Michele, diretor criativo da Gucci, e como peça de vestuário acho muito interessante e especialmente divertida. Eu usaria sem problema. Respeito obviamente quem se sente tocado por alguma ligação a essas práticas e grupos extremistas, mas o Alessandro, sendo um contador de histórias, e um criativo incrível não deu por isso, é a chamada liberdade de expressão criativa. Se a marca decidiu retirar a camisola de venda a camisola, foi mera política economista. Esta é a minha opinião.
No início deste mês, a deputada brasileira Ana Paula Silva foi alvo de ofensas nas redes sociais pela roupa que usou na tomada de posse da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, no Brasil. A deputada vestiu um macacão vermelho muito decotado e, perante as críticas sobre o vestuário desadequado, Ana Paula reagiu, dizendo que as pessoas, em vez de focarem as suas atenções nos temas em debate, como as longas filas de espera nos hospitais, estavam a dar atenção a “coisas que não são relevantes”. A Assembleia Legislativa pronunciou-se, esclarecendo que a roupa da deputada estava de acordo com o regulamento interno e a deputada falou em preconceito na política, num ambiente que é dominado por homens.
O teu comentário, enquanto stylist, quanto à opção do outfit da deputada Ana Paula Silva, durante a assembleia legislativa de Santa Catarina, Brasil?
Aqui já tenho uma opinião um pouco diferente, só por uma razão muito específica. Quem se senta nestas posições políticas deve ter o sentido de responsabilidade mais apurado, ou estar melhor informado sobre as consequências que um look mais ousado pode causar. O que me faz mais confusão é o facto de esta senhora, que pertence ao partido do Bolsonaro, um católico assumido extremista e radical, presidente de um país tão problemático como o Brasil, não ter pensado nesta questão de pelo menos, estar em harmonia com o pensamento e prática retrógrada da igreja católica, especialmente neste país.
Resumo, não me causa algum prurido esta senhora estar com o peito mais a descoberto. Faz-me impressão, palém do que já escrevi, a falta de bom gosto, isso sim!
E agora as tendências: peças que vão estar na moda em 2019?
Peças com muitos folhos, penas, volumes até exagerados, calções de ciclista em vários tecidos, macacões, rendas pretas!
Peças que não serão uma boa aposta em 2019?
A esta pergunta, eu não consigo responder de maneira tão assertiva, porque sou absolutamente contra “ditaduras da moda”. O mais importante, sempre, é as pessoas sentirem-se bem com elas próprias! Nunca é a roupa que faz as pessoas, mas sim o contrário. As pessoas é que fazem a roupa! Mas posso dar uns exemplos de peças que não ficam bem a ninguém, e com as quais implico imenso (risos): corsários, a cor turquesa, leggings usadas como calças
As cores – quais as cores que vão dominar a estação?
Bege, preto, amarelo, encarnado, sempre em look total!