“Fui como turista. Fiquei. Até hoje”, Salam Aldeen

“Ele é o anjo da guarda dos refugiados de Moria (campo de refugiados), uma espécie de guardião, principalmente das crianças e mulheres”, diz a portuguesa Dulce Machado sobre Salam Aldeen.

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Quando o empresário dinamarquês Salam Aldeen viu na televisão (Setembro, 2015) as imagens da criança de 3 anos, Alan Kurdi (o menino sírio que morreu afogado numa praia da Turquia e cuja fotografia correu mundo), tomou a decisão de partir no voo seguinte com destino a Lesbos, Grécia.

Salam estava prestes a celebrar o seu aniversário. A festa estava marcada com um grupo de amigos. Mas nunca chegou a realizar-se. Salam desmarcou os compromissos e avisou o sócio com que mantinha uma empresa na área da construção civil de que estaria ausente durante cerca de uma semana.

“Fui como turista. Mas quando cheguei e vi os barcos a chegarem, com crianças e mulheres em estado crítico de saúde e a correrem risco de afogamento, olhei em volta e não vi ajuda. Onde estão os polícias, os voluntários? Nada. Fiquei”.

Na Grécia, Salam tem visto o que nunca pensou ver na vida. Há suicídios no campo de refugiados de Moria, na Grécia, onde Salam está atualmente a maior parte do tempo, e onde estão neste momento nove mil refugiados, sendo que o campo foi pensado para 2500. Há violações – um dia, um médico recebeu uma menina de quatro anos, vítima de violação. Há insegurança e medo relativamente ao futuro.

“Após seis meses, o refugiado fica sem apoio e tem que ir procurar emprego. Mas ninguém na Grécia dá emprego a um refugiado. A Grécia é um país racista”, conta Salam.

Salam já esteve preso por ajudar refugiados a sobreviverem. As dificuldades acumulam-se. Mas Salam mostra-nos as suas duas mãos e simula uma balança com dois pesos: “são muitas as mortes, mas continuo aqui pelas vidas que consigo ajudar a salvar”.

Um dia Salam ligou para a sua empresa, na Dinamarca, e ficou a saber que o sócio se aproveitara da sua ausência. Salam, angustiado, recorda-se de ter desviado o olhar e de aperceber-se de que estava prestes a chegar mais um barco com refugiados a precisar de ajuda. “Desliguei e pensei – ‘não tenho tempo para isto'”, recorda.

Salam fundou a Team Humanity, reconhecida internacionalmente como um grande projeto humanitário que presta apoio a Refugiados e através do qual é convidado a intervir no Parlamento, em Berlim, para abordar os Direitos Humanos. Com fundos e donativos, criou um centro para mulheres, outro para crianças e tem planos para criar um espaço, uma escola, onde as crianças possam…simplesmente brincar, e as mulheres e os homens possam trabalhar.

NIB para apoiar um contentor de roupa e comida em destino às crianças, mulheres e homens do campo de refugiados, na Grécia (organizado por Dulce Machado, no âmbito da Exposição Amor em Tempos de Cólera num Campo de Refugiados)
NIB: 0036 0071 9910007918626

 

“Estou farto de combater. E quando olho para uma mulher sozinha com seis filhos, não vejo solução”, conta. Com uma força que um dia, uma psicóloga no campo de refugiados, considerou única. “A psicóloga disse-me que em 26 anos de profissão nunca tinha conhecido antes uma pessoa com tamanha força mental”.

Salam conta que é a necessidade de ajudar que faz a força.

Antes de vir para a Grécia, Salam também nunca tinha sido um bom nadador. Mas um dia, em tentativa desesperada para salvar crianças em risco de afogamento, nadou 450 metros. A jornalista estrangeira no local captou o feito e publicou a fotografia.

Salam é só um. A remar contra a maré. A lutar por tantos…

"Fui como turista. Fiquei. Até hoje", Salam Aldeen Salam-Aldeen-Parlamento

Salam Aldeen é frequentemente convidado para falar no Parlamento sobre assuntos dos refugiados e dos Direitos Humanos

Salam esteve dia 18 Fevereiro, à noite, em Portugal, uma curta paragem entre Berlim, Alemanha (onde esteve num encontro a falar sobre Direitos Humanos) e a Grécia. Em Lisboa, veio participar na inauguração da Exposição Amor em Tempos de Cólera num Campo de Refugiados – uma exposição de Dulce Machado, professora e voluntária, em Agosto passado, no campo de refugiados de Elefsina,  onde conheceu Salam, aquele que considera ser “o melhor ser humano que conheci até hoje”.

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