Recentemente choveram críticas relativamente às laranjas importadas da África do Sul. A imprensa veio dar conta que o principal fornecedor de hortícolas de fora da União Europeia, a África do Sul, está a fornecer-nos laranjas com substâncias tóxicas. E o eurodeputado Carlos Coelho afirmou, que perante a veracidade destes factos, estamos perante “um caso grave de saúde alimentar e violação dos direitos dos consumidores”.
Como este (alegado) problema de citrinos afeta Portugal, Espanha e toda a comunidade europeia, pedimos à nutricionista Lydia Freire que nos ajudasse a retirar o sumo deste episódio.
Por Lýdia Freire
Recentemente foi publicado um estudo preocupante feito por uma Associação espanhola de agricultores da Valencia – Unió de Llauradors – onde se denuncia a detecção de cerca de 50 pesticidas proibidos na U.E., em laranjas com proveniência da África do Sul.
Em Portugal, basta fazer uma rápida pesquisa nos principais hipermercados para perceber que grande parte das laranjas vendidas são provenientes deste país. Deste estudo publicado foram detectadas substâncias como o Paraquat (um herbicida), Carbendazima (um fungicida), a beta-cipermetrina (um insecticida). O impacto na saúde humana inclui náuseas irritações cutâneas, diarreia e alterações respiratórias e consequências mais graves como alterações da estrutura genética, alterações cognitivas em bebés e crianças, alterações no fígado, distúrbios hormonais sobretudo nas hormonas da tiroide, redução da fertilidade e cancro.
Uma substância pesticida ou agrotóxico, tem como intuito evitar o desenvolvimento de pragas e proteger as plantações. No solo e nos cursos de água uma parte dos agrotóxicos podem ser degradados por vias bioquímicas. Contudo há moléculas perigosas e de alta resistência que permanecem no ambiente sem sofrer nenhuma alteração que acabam por atingir os lençóis freáticos, ou ainda, serem levadas para as águas superficiais. Para além disso, estas moléculas podem ser transportadas por longas distâncias pela atmosfera, tendo já sido encontrados restos de pesticidas em amostras de ar e de água da chuva no Ártico e Antártida e no Monte Evereste. Nos solos estes agrotóxicos levam, a longo prazo a um empobrecimento e poluição dos solos, que provoca que alimentos os produzidos venham consequentemente mais empobrecidos e contaminados. Encontrando-se no topo da cadeia alimentar, o Homem invariavelmente acaba por contactar com estas mesmas substâncias químicas que se vão acumulando nos alimentos, com consequências nefastas para a saúde.
Em 2018 saiu uma lista elaborada por especialistas da Environmental Working Group, com os 12 alimentos mais contaminados com pesticidas, onde se destaca o morango (com 22 tipo de químicos), as uvas, o tomate e a batata.
Apesar destas notícias alarmantes é fundamental que se tenha em mente que o consumo de frutas e vegetais deve ser mantido! No momento da escolha, compra e manipulação dos nossos frutos e vegetais há assim algumas regras importantes que devem entrar na nossa rotina diária:
- Optar por frutas e vegetais de produção biológica (ao serem cultivados em solos férteis, terão mais sabor, riqueza nutricional)
- Lavar muito bem as frutas e vegetais, pelo menos 1 minuto em água corrente de preferência morna.
- Mergulhar as frutas e vegetais durante alguns minutos em água com sal e vinagre.
- Descascar legumes e frutas pois é na casca que se acumula maior quantidade de pesticidas. Após tirar a casca é importante nova lavagem com água morna.
- Esfregar as frutas e vegetais com um pano, após a sua lavagem
- As folhas mais externas dos hortícolas devem ser sempre retiradas, pois é ai que se concentra a maior quantidade de contaminantes
- Diversificar o tipo de frutos e vegetais consumido, pois isso reduzirá a ingestão do mesmo contaminante.
- Optar sempre pelo sazonal e pela produção local : terão obrigatoriamente uma carga química muito menor, pois estão a ser produzidos em respeito com o ciclo da natureza.
- Comprar vegetais e frutas verdes, esperando alguns dias até os consumir, pois há alguns pesticidas que são aplicados com fins de conservação, no período final da maturação.
Cabe a cada um nós consumidores, mas acima de tudo aos produtores ganhar consciência alimentar e assim trabalhar para uma amanhã com maior segurança alimentar e protecção do planeta.
Lydia Freire é nutricionista no Centro de Diagnóstico de Tomar e no VilaFit em Ourém
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