Dia do Pai – Os 16 Conselhos que Pedro Rolo Duarte escreveu ao filho

Pedro Rolo Duarte, um dos maiores nomes do jornalismo português, deixou registado, num dos capítulos do livro “Não Respire” (livro publicado após a sua morte que aconteceu em novembro 2017), a altura em que o filho foi viver dois anos para a Austrália.

“Rendido àquela ideia, aparentemente louca, mas indiscutivelmente bem sustentada, construí, no velho PageMaker, um caderninho de conselhos. Como lhe chamei, ’16 ideias para um rapaz de 16 anos levar consigo para longe’. O caderninho foi com ele”.

Partilhamos aqui alguns desses Conselhos. Brilhantes. Comoventes. Não respire…

Dia do Pai - Os 16 Conselhos que Pedro Rolo Duarte escreveu ao filho Pedro-Rolo-Duarte-site

Dia do Pai

Conselho I

I

Sê tu mesmo e só tu mesmo

Todos temos ídolos e heróis, pessoas que admiramos e gente que gostávamos de ter sido. Eu acho que gostava de ter sido um Steve Jobs ou uma Tina Brown (a mulher da Vanity Fair e daquela mudança na capa da New Yorker de que falámos há tempos).

Mas não devemos confundir aqueles que admiramos, vivos ou mortos, nossos amigos ou distantes figuras, com aquilo que somos. Nós somos o que somos, na nossa circunstância e lugar. Tu és o que és.

Deves ser tu mesmo – porque, sendo tu mesmo, és produto original e único. Querer parecer é fingir. Seguir um ídolo é imitar – logo, é ser «segundo» em vez de primeiro. Ser o que alguém já foi está, no mínimo, fora de prazo.

Mesmo que te tente a ideia de seguir aquele tipo que é o cromo dos cromos, pensa duas vezes se preferes ser o segundo cromo daquela colecção ou o primeiro de uma nova colecção…

Ser o que somos tem duas grandes vantagens: quando erramos, prestamos contas aos outros mas aprendemos a não repetir o erro; e quando acertamos é tudo nosso!

 

II

Não tenhas medo de ter medo

O medo é, dizem os cientistas, uma reacção química ao desconhecido. É um sinal de vitalidade. É o mais notório sinal de alerta dos seres vivos. Quem não tem medo, está adormecido, é inconsciente ou já morreu e não tomou conhecimento…

A grande aprendizagem da vida é aprender a lidar com o medo e saber usá-lo a nosso favor – seja gritando pela polícia quando a isso o medo nos leva, seja manipulando quem nos quer meter medo de forma a virar o medo contra quem nos afronta.

 

III

Técnica número um para dominar o medo, a ansiedade e o stresse: respirar fundo, controlar a respiração

Há dias, em face de um momento de maior stresse – o medo muitas vezes traveste-se de coisas estranhas, como stresse ou ansiedade… –, um professor disse a um aluno:

– Respirar fundo também ajuda.

Quando sentires medo, pára para respirar fundo, ou seja, descer à terra e tentar diagnosticar o que te causa medo. Só esta atitude reduzirá para metade o receio.

O resto, na maioria dos casos, a polícia, um copo de água ou uma boa noite de sono podem resolver…

 

IV

Arrisca e experimenta – mas nunca te esqueças de que o risco tem um preço que pode chegar à vida

Houve um tempo, antes do meu, em que a educação era centrada na ideia de «jogar pelo seguro». Há imensas frases populares e provérbios sobre o tema, desde o «seguro morreu de velho» até ao «mais vale um pássaro na mão que dois a voar». Portugal viveu tempo demais sem ousadia e risco.

Felizmente esse tempo mudou. Hoje, o que se pede a quem chega de novo é que tenha capacidade de arriscar, que experimente, que viva. Até se popularizaram palavras horríveis como «experienciar». Sobre este tema, acho que na tua idade é incontornável a experiência, algum risco e a tentativa de te superares. Para o melhor e para o pior. Com sensatez, todas as experiências podem ser feitas. Nestas circunstâncias, sensatez é saber que os limites de um risco ou de uma experiência podem ser a própria vida. Nesses casos, não compensam – matam. Medir com algum cuidado o risco antes da experiência é meio caminho andado para o sucesso. É bom sobreviver, nem que seja para contar como foi…

 

V

Quando vires o copo meio vazio, pensa que ele pode estar, na verdade, meio cheio.

Diz-se que um optimista é um pessimista ignorante, mas não acho que seja verdade. Pode ser um pessimista distraído, pouco atento – mas é potencialmente um vencedor. Está provado que os optimistas vencem mais vezes os desafios do que os pessimistas. Acreditar que se consegue constitui a melhor mola para se conseguir mesmo. Por isso, mesmo nos dias em que achares improvável a vitória, pensa nisto: um copo meio vazio é também um copo meio cheio. Ou seja, tem ainda muito para dar.

 

VI

Aprende a confiar. Para isso, aprende a sentir os sinais da desconfiança.

É um dos dramas do nosso tempo: por causa dos políticos, dos aldrabões, dos intrujões, ganhámos uma carapaça de desconfiança semelhante a uma cebola – tiramos uma capa e vem outra capa atrás…

Viver entre a confiança e a desconfiança é viver no fio da navalha: só a nossa intuição não chega, mas sem ela não conseguimos confiar. A experiência ajuda, mas tu tens apenas 16 anos. E nem aos 100 vais acertar sempre nas pessoas em quem confias e merecem essa confiança. Por isso, num mar de dúvidas, uma só palavra: atenção aos detalhes. Uma pequena mentira esconde um mentiroso inteiro. Um acto de generosidade imprevista e não expectável revela uma pessoa generosa. O escritor Francis Bacon disse: «Não há melhor caminho para modelar as suspeitas do que acolhê-las como verdadeiras e refreá-las como falsas. Deve usar-se das suspeitas para providenciar a que não nos prejudiquem, no caso de serem verdadeiras. As suspeitas, que o espírito de si próprio gera, não são mais do que zumbidos; mas as que são artificialmente alimentadas com histórias e ditos maliciosos, essas possuem venenosos ferrões. Certamente, o melhor meio de abrir caminho na floresta das suspeitas é falar francamente com a pessoa de quem se desconfia; porque assim ter-se-á a certeza de conhecer melhor a verdade do que se conhecia antes, e conseguir-se-á que a pessoa de quem se desconfiou seja de futuro mais circunspecta e dê outros motivos de suspeição. Mas isto não pode ser feito com pessoas de natureza vil, porque essas, quando se sabem suspeitadas, nunca mais são leais. Os italianos dizem: sospetto licentia fede, como se a suspeita desse um passaporte à fidelidade; quando, pelo contrário, deveria ser motivo para se justificar.»

 

VII

Aprendemos por toda a vida e não temos tempo para determinar quando aprendemos.

Esta pequena história de um livro que me acompanha sempre (Tertúlia de Mentirosos) é muito boa:

Um adolescente japonês dirigiu-se a um mestre em artes marciais, grande especialista na prática da espada, e perguntou-lhe quanto tempo seria necessário para aprender essa arte.

– Dez anos – disse-lhe o mestre

– Dez anos! Mas é muito! É demasiado! Nunca terei forças para esperar!

– Então, no teu caso, vinte anos – disse o mestre.

 

(In “Não Respire”)

 

XVI

Acredita em ti mesmo

«O homem converte-se aos poucos naquilo que acredita poder vir a ser. Se me repetir incessantemente a mim mesmo de que sou incapaz de fazer determinada coisa, é possível que isso acabe finalmente por se tornar verdade. Pelo contrário, se acreditar que a posso fazer, acabarei garantidamente por adquirir a capacidade para a fazer, ainda que não a tenha num primeiro momento.»
Gandhi, The Words of Gandhi

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