Não é teu nem meu. Dia do Pai

“Com todo o respeito, já não foram poucas as vezes em que um bom ‘cresçam’ dirigido aos pais que usam os filhos em tribunal em processos de regulação de responsabilidades parentais me saiu quase da boca.”

 

Crónica de Magda Fernandes
Mulher, Mãe, Advogada… de Bem com a Vida
Não é teu nem meu. Dia do Pai Magda-Fernandes

 

Não é teu nem meu. Faz parte do meu repertório adolescente a célebre música da Ágata, segundo a qual o marido podia ficar com a casa e o carro e as jóias e o resto de bens materiais recolhidos pós-matrimónio, mas não ‘com ele’. Tem graça, que esta canção quase popular resume atualmente de forma absolutamente fiel o que se vem passando com os casais pós-separação.

Temos uns seres minúsculos e amorosos, sedentos de amor – quanto mais amor melhor – e temos os pais. Apetrechados com os melhores recursos legais, esgrimem-se em tribunal para ‘ficar com eles’. Pelo meio, ‘eles’, qual bola de ping pong, andam a ouvir do pai e mãe, presenteados com frases tão ajustadas a uma criança como: “se dizes que gostas do pai, nunca mais te falo, e vice versa”. Ora, não é preciso ser grande psicólogo ou ser humano em geral para perceber o que um motim destes no coração de uma criança lhe pode provocar.

Os dilemas de lealdade, a falta de autoestima, a incapacidade de se encontrar no meio de tal confusão em que pais parecem também eles crianças, mas das bem mazinhas. Pais e mães: não há atestados de propriedade.

O filho não é da mãe – passo o termo – nem é do pai, nem tão pouco é dos dois. O filho é um projeto de ser humano livre. Que não vai permanecer pequenino para sempre. E vai recordar como faca no estômago cada chantagem, cada ofensa feita ao outro pai, cada corrupção de sentimentos, cada palavrinha manhosa e cada momento de guerra judicial.

Com todo o respeito, já não foram poucas as vezes em que um bom ‘cresçam’ dirigido aos pais que usam os filhos em tribunal em processos de regulação de responsabilidades parentais me saiu quase da boca.

Cresçam, pais. Ele não é da mãe nem do pai. Não se compra com promessas nem pensa movido a medo e a ameaça. Ele é um ser livre. E se não aprendemos a respeitar o amor que ele tem que sentir por cada um dos seres que o criaram, deixando-o respirar no meio da confusão que são os nossos problemas pós-separação, posso garantir-vos: mesmo que insistamos muito em registar a sua propriedade em nosso nome, ele não vai querer ser nosso.

Comentários

comentários