Como uma mulher deve ser.
Fui ver Monólogos da Vagina.
Crónica de Magda Fernandes*
Mulher, Mãe, Advogada… De Bem com a Vida
Já há muitos anos, no tempo da Guida Maria, fui ver a peça. Na altura, lembro-me de ter achado o texto absolutamente revolucionário. Ver uma mulher, em palco, sozinha, sem rede, sem cenários, sem música, sem muitos adereços, falar por mais de uma hora sobre as angústias e felicidades de ser mulher, apelando ao amor e ao respeito das nossas partes íntimas – vulgo, a vagina, vamos lá dar nome às coisas – e pondo o dedo na ferida nos casos em que mulheres como nós são vítimas de delapidação, era algo novo, assertivo, meio chocante e profundamente viciante.
Nessa altura, achei que ninguém superaria ou se aproximaria sequer de uma Guida Maria. Entretanto, ontem fui ver a peça. Muitos anos depois da primeira vez. Com a Júlia Pinheiro, a Paula Neves e a Joana Pais de Brito.
E digo-vos (jurando a pés juntos que não é troca de galhardetes, que não sou disso): brilhante.
Em resumo: temos três mulheres vestidas de negro, três cadeiras e um chão de felpudo veludo vermelho. E temos um discurso de arrepiar pela verdade dura, crua de preconceitos e de falsos puritanismos. Com muita ironia, na exata medida da tristeza que em alguns segundos nos assola. Toca no mais profundo que uma mulher tem de si própria. Vai de um polo superficial ao lado exactamente oposto. Como nos vemos? Como vemos a nossa qualidade de mulheres, centrada na nossa vagina? E se nos violassem? E como nos vê a sociedade? Não quero nem vou revelar mais detalhes, e a culpa não é do mordomo. A culpa disto tudo é do produtor, que encontrou três mulheres lindíssimas, fortíssimas, divertidíssimas, que sabem falar da sua qualidade de mulheres sem qualquer pudor, como deve ser.
Mulheres e homens deste fórum, façam-me um favor: vão ver. E mais não digo. Por agora.