“Estou sempre a dizer aos meus filhos: Eu te amo, eu te amo, eu te amo”, Marcello Antony

“O Francisco era mestiço e apresentava problemas de saúde, pelo que estava praticamente rejeitado na adoção. Mas eu corri atrás dele, lutei por ele e em pouco tempo, consegui a paternidade”, Marcello Antony

Marcello Antony, ator brasileiro, trocou o Rio de Janeiro por Lisboa aos 54 anos. E trouxe a família (numerosa) consigo. Uma entrevista sobre família e palco.

Diz que a paternidade o salvou. Pode explicar-nos melhor?

Eu costumo dizer que, antes de nascerem os meus filhos, a minha vida era a preto e branco. E passou a ser colorida. Desde que sou Pai, tenho aprendido muito mais do que tenho ensinado – e essa é a grande surpresa. É uma constante transformação a vida paterna. A vida ganha outra dimensão, porque tornamo-nos responsáveis de pessoas que precisam mesmo do cuidado de pessoas responsáveis. A paternidade é o grande salto e é muito bom que tenha acontecido na minha vida.

Dois dos seus 5 filhos são adotados. Pode partilhar connosco como nasceu a decisão da adotação? No Brasil, a adoção é uma questão fácil?

Sim, dois dos meus filhos são adotados. Eu decidi adotar o Francisco e a Stephanie, que são os meus dois primeiros filhos, porque eu e a minha ex-mulher tínhamos uma incompatibilidade sanguínea que não permitia gerar filhos. Tentámos a gravidez por várias formas. Mas quando percebemos que não iria ser possível, optámos pela adoção. O Francisco veio com nove meses de idade. E a Stephanie com cinco anos e meio, uma adoção que, por ter acontecido numa idade mais avançada, tem os seus prós e contras. Mas com amor, tudo é ultrapassável. No Brasil, a adoção é muito difícil. Com o Francisco, foi mais tranquilo – o Francisco era mestiço e apresentava problemas de saúde, pelo que estava praticamente rejeitado na adoção. Mas eu corri atrás dele, lutei por ele e em pouco tempo, consegui a paternidade. Com a Stephanie, tive que passar por dois processos distintos até conseguir a guarda completa.

Ainda falando sobre Marcello, enquanto pai, há algo que tenha recebido dos seus pais e que transmita hoje aos seus filhos?

A resposta é muito simples – é o amor. O meu pai transmitiu-me muito amor e isso reflete-se no amor que sinto pelos meus filhos. Eu estou sempre a transmitir-lhes amor. Estou sempre, a toda a hora, a dizer-lhes: “eu amo você”; “Eu te amo, eu te amo, eu te amo”. É isso que lhes procuro transmitir. E, claro, ter caráter, dignidade, valores básicos que lhes passo e que recebi dos meus pais.

 Sobre a vinda para Portugal – como é mudar de país aos 54 anos? O que mais tem gostado de Portugal e o que menos gosta no país?

 Realmente é uma aventura mudar de país aos 54 anos. Mas a vida ofereceu-me esta oportunidade e eu abracei-a com carinho. E eu trouxe toda a minha família para cá, para Portugal, com o objetivo de ampliar o campo de visão dos meus filhos, em todos os sentidos – profissional, moral, cultural, gastronómico. E é um sítio muito agradável. Já viajámos praticamente por todo o país. As gravações da novela decorreram em Guimarães, o que nos permitiu visitar o norte, o Porto. Aqui não existe um local de que menos gosto. Portugal é uma surpresa a cada esquina.

Quais são os seus lugares secretos em Portugal? O que fazem nos seus tempos livres?

 Lugares secretos não temos. Muito pelo contrário, são locais bem expostos (risos). Nós moramos em Belém, junto ao Mosteiro dos Jerónimos, e da Torre de Belém. Estamos sempre por ali. Muito perto, fica Monsanto, o pulmão de Lisboa – sempre que temos tempo livre, gostamos de caminhar em Monsanto, andar de bicicleta, correr e apreciar aquela vista sensacional para a cidade.

Marcello foi Eron na novela Amor à Vida e à imprensa disse que “Foi muito interessante fazer um gay, porque descobri várias coisas novas”. Que coisas? Sentiu críticas?

 Foi interessante descobrir coisas novas, no sentido da interpretação. A intenção não era fazer uma personagem estereotipada, mas uma pessoa comum. Porque as pessoas homossexuais não precisam de manifestar/mostrar  que são homossexuais. E foi nesse sentido que, ao longo das gravações, ao interpretar a personagem “fora da curva” ao nível da minha carreira, fi-lo de forma absolutamente normal. Críticas, não senti. Acho que a tolerância está a crescer. Apesar de a violência estar também a crescer, o que é algo paradoxal.

Valor da Vida – conte-nos como tem sido participar nesta novela.

 Não imaginava que fosse tão gostoso contracenar com atores portugueses numa novela em Portugal. Eu fiquei muito grato, senti-me muito bem acolhido pelos atores portugueses, muito talentosos. E nós que vivemos sete meses a um ritmo muito forte de gravações de novela, era fundamental que o elenco fosse harmonioso para haver também harmonia no set da gravação. E na verdade, realço, foi uma surpresa bastante agradável desfrutar desta troca de amizade, companheirismo e profissionalismo com os atores portugueses.

Diferenças entre fazer novela no Brasil e em Portugal?

Sim, as diferenças existem. Até porque o Brasil tem 200 milhões de habitantes e Portugal tem 10. E estes valores, por si só, já mudam sensivelmente o mercado. Porém, o mecanismo de fazer novela é o mesmo: na construção das cenas, dos cenários, dos figurinos, direção de atores, câmara, luz, estúdios – nestes aspetos não sinto praticamente quaisquer diferenças. A diferença está na expertise (conhecimento/experiência) que os brasileiros têm em fazer novela há muitos e muitos anos, e com a possibilidade de investirem em cenários e figurinos sumptuosos. Mas basicamente, o jeito de fazer novela é o mesmo.

Foto: Instagram Marcello Antony – 13 agosto 2017, Dia do Pai, que no Brasil é comemorado em agosto

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