“Chefes mais sádicos, que gostam de mostrar o seu poder sobre os outros, também possibilitam este tipo de acontecimentos (mobbing)”, Tânia Paias

5 perguntas sobre mobbing ou bullying laboral.  Respostas da psicóloga Tânia Paias.

Mobbing ou Bullying laboral – que principais tipos de mobbing existem? 

Existem o assédio ascendente, descendente, vertical, isto é, o assédio moral pode ser praticado entre colegas, de superiores hierárquicos para subordinados, ou ainda de inferiores hierárquicos para chefia.

E, de acordo com a sua experiência, quais as graves consequências desta prática?

Em casos graves, leva à incapacidade para desempenhar a sua atividade laboral. O sujeito que sente o seu local de trabalho constantemente hostil, e começa a perceber que está isolado, humilhado e desacreditado, desenvolve sentimentos de impotência, sente-se inseguro e começa a desenvolver níveis de stress patológicos, o que o impede de regressar ao trabalho.

Pode desenvolver síndrome de burnout, sintomatologia psicossomática, adquirir uma imagem negativa de si mesmo, não se valorizando e colocando em causa toda a sua competência profissional e pessoal. É que o assédio laboral não tem só repercussões na dinâmica profissional, começa desta forma, mas alastra para a dinâmica pessoal, o que faz com que as suas relações pessoais e amorosas também possam ficar afetadas.

“Não prestas para nada” – este tipo de frase pronunciada, repetidamente, por um superior hierárquico é “legal”?

De todo, se pensarmos que na constituição da república portuguesa está consagrado o direito à integridade moral e física das pessoas, já só por si estamos a ofender um bem constitucional, mas qualquer superior hierárquico deve ter um código e ética profissional que proteja a integridade moral dos trabalhadores e não o contrário. Do ponto de vista do enquadramento legal, o assédio moral contempla tratos que sejam objetivamente degradantes, humilhantes ou vexatórios que afetem a integridade moral, ora esta frase está enquadrada na definição de assédio moral.

Que atitude deve tomar uma vítima de bullying laboral? Quais os procedimentos que aconselha a vítima a adotar durante o trabalho, sob o bullying, e após, no sentido de defender-se e apresentar queixa?

Em primeiro lugar, acreditar em si e manter uma atitude de prudência para com possíveis agressores. Com isto quero dizer que deve assegurar-se de que todos os procedimentos laborais que dependam de si, devem ser datados e se passarem para outros colegas, ou até mesmo chefes, deve solicitar uma rubrica, como prova de que o assunto foi tratado, por exemplo.

Deve documentar todas as situações e procurar ajuda caso não esteja a conseguir lidar com a pressão. Aqui o desafio é ser capaz de lidar com todos os possíveis ataques, sem começar a achar que é culpa sua, pois em muitos dos casos, os agressores, que normalmente são intimidadores sociais, ou grandes dissimuladores da verdade, quase que convencem a vítima a assumir uma culpa pelo que está a acontecer e assim começa a confusão e a dúvida quanto à sua competência laboral. Para que isto não aconteça, é necessária uma atitude segura, confiante e resiliente.

Autores defendem que não existe um tipo particular de pessoa mais susceptível. Tal como não existe um perfil típico do agressor. Concorda? Mas existem ambientes de trabalho mais suscetíveis a este tipo de comportamentos?

Sim, não podemos traçar um perfil de vítima, pois qualquer trabalhador pode-se tornar num alvo, mas a verdade é que de facto existem ambientes de trabalho e temperamentos mais suscetíveis. Ambientes extremamente competitivos, (mas entenda-se aqui competitivo com a conotação pejorativa) por exemplo, são propícios a estas condutas menos adequadas. Trabalhadores mais inseguros, ou ansiosos, extremanente perfecionistas e chefes mais sádicos, que gostam de mostrar o seu poder sobre os outros, também possibilitam este tipo de acontecimentos.

"Chefes mais sádicos, que gostam de mostrar o seu poder sobre os outros, também possibilitam este tipo de acontecimentos (mobbing)", Tânia Paias foto-portalbullying-2017

Tânia Paias (n. 1978) é formada em Psicologia Clínica no ISPA, tendo uma pós-graduação em Neuropsicologia. Mestre em Saúde Escolar pela Faculdade de Medicina de Lisboa. Doutoranda em Ciências Forenses, a investigar a área das atitudes face à violência no contexto educativo. Exerce clínica privada e é diretora do Portalbullying.

 

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