“Quando eu não consigo vender, diz-me que não presto para nada e vou para a rua. Já me senti mal e tiveram que chamar o INEM”, Rosa, vítima de mobbing laboral

“Não prestas para nada”, “Não vendes, vais para a rua” – é o tipo de comentários usados no dia a dia, no local de trabalho de Rute. “O INEM já foi chamado à empresa por várias vezes. Da última vez, por minha causa. Senti-me mal.”

Ver também – como reagir em caso de bullying laboral? Como denunciar à ACT?

Ver também – “Chefes mais sádicos, que gostam de mostrar o seu poder sobre os outros, também possibilitam este tipo de acontecimentos (mobbing)”, Tânia Paias

Mobbing, bullying laboral, assédio moral ou terrorismo psicológico. São termos usados para designar comportamentos persecutórios no ambiente de trabalho. É uma prática prolongada com efeitos sociais identificados (absentismo, quebra de produtividade, baixa por doença) e com consequências psíquicas muitas vezes irreparáveis. Baixa auto-estima, stress, casos de depressão e suicídios. Recorda-se do caso France Télécom, em França? Entre 2007 e 2010, 60 trabalhadores suicidaram-se, muitos deles no próprio local de trabalho, saltando pela janela do escritório. Alguns deixaram cartas sobre o motivo do seu desespero. Segundo o tribunal, a empresa implementou uma política de desestabilização para os seus trabalhadores. A empresa passava por dificuldade financeiras e terá convocado reuniões, para pressionar os seus colaboradores a trabalharem mais. A empresa foi acusada de assédio moral.

É disso que falamos hoje, Dia Mundial do Trabalhador. De assédio moral/mobbing. Porque a saúde mental do trabalhador também é um direito que deve ser protegido.

Tipos de Mobbing mais comuns:
Humilhação, minimização de esforços, isolamento do colaborador, sobrecarga de trabalho, gritos intimidantes, difamação.

É disso que falamos hoje. Com a Luísa, 23 anos, ex-colaboradora de um call-center. Luísa não é o seu nome verdadeiro. Mas, embora já não pertença à empresa por sua própria iniciativa, prefere o anonimato para preservar o emprego do irmão, atual colaborador da empresa em questão.
De acordo com os investigadores sobre mobbing, esta prática é propiciada por alguns fatores presentes em atuais relações laborais, nomeadamente: “intensificação dos ritmos de trabalho, gestão por objetivos, pressão competitiva, a fungibilidade da mão-de obra, o distanciamento e anonimato da direcção da empresa e os vínculos precários”.

O caso de Luísa é a confirmação da regra. Num posto de trabalho marcado pelo alcance de objetivos comerciais (venda de produtos), Luísa conta que era constantemente chamada à atenção: “vê se acordas para a vida e dás corda aos sapatos”. Num mau dia de campanha, a superior tinha por hábito elevar o tom de voz e, em frente ao grupo, gritar alto e a bom som: “Se não estás aqui para vender, não estás aqui a fazer nada. Não prestas para nada”. A ladainha era constante e Luísa não aguentou a pressão. Cansada de ir chorar para a casa de banho, começou a dormir mal e, um dia, há cerca de dois meses, despediu-se sem conseguir dar dias à casa. Foi um alívio. Mas o desemprego tem-lhe trazido dores de cabeça pois tem um filho para alimentar.

“A pressão que a team leader exerce é tão forte e tão cruel que o INEM já foi chamado por várias vezes ao local”, recorda Luísa.

Rute é mais uma das vítimas de mobbing vertical (quando o assédio moral é exercido por um agente hierarquicamente superior) desta empresa de telecomunicações. O seu primeiro ano de trabalho é marcado por uma boa produtividade e vendas. Mas desde que a jovem agressora team leader está no comando, diminuíram as vendas e aumentaram as queixas. “Não vales nada Rute”, “Não prestas para nada”, “Não vendes, vais para a rua” – é o tipo de comentários usados no dia a dia, no local de trabalho. Rute conta-nos que tem 59 anos, fala três línguas, é licenciada. “Sinto-me apta e com capacidades para trabalhar mas, em Portugal, a idade é um fardo pesado quando se procura emprego”, conta.
Está neste call center porque precisa de trabalho. Atualmente toma comprimidos para conseguir dormir, passou a sofrer de pressão arterial elevada e, há um mês, foi um das pessoas a ser analisada pelo INEM. “Estava no local de trabalho e, de repente, comecei a sentir falta de ar. Chamaram o INEM e colocaram-me a oxigénio. Estava numa crise de ansiedade”, recorda.

“Aquela figura a que deram o cargo de team leader passa os dias a mal-tratar os trabalhadores. Eu nunca tratei assim ninguém na minha vida”, lamenta Rute.

As queixas sobre a agressora acumulam-se nos Recursos Humanos. Também há quem tenha apresentado reclamação no Tribunal de Trabalho. Mas a agressora “continua no seu posto de trabalho”, conta Rute, que pede anonimato para preservar o seu posto de trabalho.    

 

 

 

 

Comentários

comentários