“Já me perguntaram se iria desistir da música. Desistir, eu? Desistir é morrer. E eu quero viver mais”, Lena d’Água, 62 anos

Lena d’Água sobe hoje ao palco do Teatro Villaret, para apresentar Desalmadamente, o nome do novo álbum e também do tema que esteve em cima da mesa para ser apresentado no Festival da Canção.

Desalmadamente é uma canção que nos conduz à imagem de um corpo que envelhece, mas que preserva a juventude interior. Lena D’Água completa 63 anos este mês. O que é surpreendente para nós, que continuamos a cantar de cor a letra de Sempre que o amor me quiser ou recordamos ao detalhe (mas alguém esquece o impacto do vestido amarelo na piscina?) o videoclip de Dou-te um doce.

Há pessoas que, desalmadamente, nunca envelhecem. Pelo menos, por dentro. “Já me perguntaram se iria desistir da música. Eu, desistir? Desistir é morrer e eu quero continuar a viver por mais uns anos”, responde Helena Águas, o seu nome.

Desalmadamente apaixonada pela vida, mas sobretudo pela música, Lena explica a quem lhe pergunta sobre a recente ausência, que na verdade nunca esteve afastada. “Nunca estive um tempo sem projetos. Tenho feito concertos. Ainda no ano passado estive na Feira da Luz, em Carnide. A grande diferença na minha vida foi a chegada do Pedro Silva Martins”, conta.

Pedro Silva Martins, autor de músicas e letras como as de Deolinda é “enorme”, como descreve Lena d’Água. Por isso, quando este a desafiou para integrar um projeto para o Festival da Canção, Lena d’Água poupou-lhe o tempo de espera: “Ele disse-me que não precisava de dar um resposta imediata, disse-me para pensar sobre o assunto. Mas um convite do Pedro é irrecusável”, partilha.

Pedro Silva Martins é o autor das letras de Desalmadamente, cada uma com uma história, uma nota biográfica de Lena d’Água, aquela que foi a “nossa rainha do pop e do rock”, escreveu recentemente Nuno Markl, quando a cantora partilhou nas redes sociais que passava por “dificuldades”

Opá, a canção que abre o disco, reflete exatamente o “novo dia”. Opá parte da interjeição que Lena repete com regularidade.  A letra “Põe o tempo no lugar, faz comigo o sol nascer, amanhã vais acordar. Na realidade” remete-nos para os tempos “de mágoa, abandono, muita espera. Tempos em que não fui chamada, não fui lembrada”. Lena recebeu a letra como um recado: “põe o tempo no lugar, amanhã é um novo dia”.

Este novo trabalho de originais é acima de tudo uma Grande Festa, o tema que deu origem ao videoclipe irreverente, arrojado ao estilo de Lena d’Água. “Na véspera, liguei à equipa. Estava insegura. Cheguei a chorar. Eram indumentárias muito fora do meu habitual…”, refere. “A Joana (Joana Lages, responsável pela realização do álbum) dizia-me: ‘eu vou proteger-te’, vais ficar com uma energia com este visual”.

A energia acabou por chegar, e de várias formas: “os elementos que entram no videoclipe, e que fazem parte da equipa de filmagem da Joana, fizeram-me autênticas declarações de amor. Senti-me tão amada. Diziam que era uma honra estarem ali comigo, chamavam-me à parte e diziam-me coisas muito bonitas… Nunca me senti tão amada nestes últimos tempos”.

“Sempre que o amor me quiser…”

Desalmadamente, quais são as pessoas que mais amas, perguntamos a Lena. Além dos músicos, que vão ficando para sempre no seu coração, “a minha filha (Sara) e o meu neto (Martim)”.

“Sou uma avô que se atira para o chão, uma avó que o meu neto acompanha ao microfone. Ele faz os coros. Aos seis anos, ele já tem ouvido para a música”, conta, orgulhosa.

A sempre jovem Lena d’Água é hoje avó. Uma avó que engravidou aos 19, “três anos depois de ter levado um estalo do meu pai, por ter saído à noite até às 23h. E estávamos de férias”. O futebolista José Águas era um pai galinha. Mas os “tempos também eram outros.” Eram os do 25 de abril: “o 25 de abril foi qualquer coisa de poderoso. De repente, parece que se tinham aberto todas as janelas. Nesse dia eu cheguei à Universidade (Lena d’Água estava no 1.º ano de Sociologia)  e a faculdade estava trancada. Um colega meu gritava: ‘ocuparam o Rádio Clube’. E nós, tantos quantos cabiam num carro, pusemo-nos a caminho da Baixa, passando pelo Castelo onde, diziam, estavam elementos da PIDE. Lembro-me de descer a Infante Santo e pensar: ’25 abril – esta data vai ficar na história'”.

Mais uma visita ao passado, para recuperar a festa de finalista em Sintra, onde Lena d’Água se estreou em palco com Ramiro (Ramiro Martins foi um grande amor e pai de Sara, filha de Lena d’Água), na banda de rock Beatnicks. Fez em maio 43 anos.

Há mesmo pessoas que nunca envelhecem. Lá na aldeia, Lena d’Água faz por isso: protege a garganta (voz) do sol, deixou de comer carne e de comprar tabaco e convive com os vizinhos que lhe oferecem alfaces, ovos e abóboras. “Estou convencida de que os meus vizinhos pensavam que iria ser uma confusão – festas e porches. Mas não, sou eu e os meus cães; os gatos, cães e eu. E de vez em quando, uma equipa de músicos”.

Desalmadamente. “Demorou até conseguir cantar este tema sem comover-me”. 
Desalmadamente. Encantados com o “regresso” de Lena d’Água. 

Agradecimentos: @lxway_
Apartamentos LxWay http://www.lxway.pt/

"Já me perguntaram se iria desistir da música. Desistir, eu? Desistir é morrer. E eu quero viver mais", Lena d'Água, 62 anos Hoje

Concerto de Apresentação de Desalmadamente

Comentários

comentários