Marcantónio del Carlo

“Numa relação devemos estar sempre atento aos pormenores”, Marcantónio Del Carlo

Marcantónio del Carlo, o italiano mais português, está a preparar a próxima novela da SIC e uma peça de teatro que irá estrear, em Janeiro, com João Didelet, no Teatro da Trindade. Ator, encenador, realizador, orientador de workshops sobre técnica em palco. São mais de 30 anos de carreira.

Mais de 30 anos de carreira. Ator em novelas, encenador, realizador. O que mais aprecias na tua carreira e faz com que continues apaixonado pelo teu trabalho?

Pelo desafio constante. Criar é para mim uma necessidade. O palco da vida por si só nunca me preencheu. Preciso de pintar a tela que há em mim, sempre com cores novas.

 

O Vidago Palace chegou às televisões dos Estados Unidos. Qual é a sensação de saber que o conde de Vimieiro atravessou fronteiras?

Foi dos projetos em que mais gostei de participar. Saber que o meu “conde” foi visto além-fronteiras é um motivo de orgulho e contar um pouco da história de Portugal ao mundo é uma honra. Foram dois meses de rodagem num dos hotéis mais bonitos do mundo. A equipa e o seu timoneiro, o Henrique Oliveira, foram maravilhosos. Foi uma rodagem difícil, complicada mas no fim do dia todos sabíamos que estávamos num patamar diferente. E parece que está a dar frutos. A série já foi comprada por vários países.

Até hoje, qual foi o trabalho mais desafiante? E o trabalho que até hoje te deu mais prazer fazer?

O próximo. Nunca olho para trás. Mas guardo com muito orgulho os ensinamentos de grandes mestres que tive como o Luís Miguel Cintra, Giorgio Barbiero Corsetti, João Mota, Imanol Uribe, Jorge Silva Melo, Nicolau Breyner e tantos outros que me ensinaram que esta arte é tão difícil.

 

Dizias numa entrevista que preferes fazer o papel de “mau”. Alguma história curiosa sobre o impacto de uma personagem “má” no público… 

É divertido quando te dizem: “você é tão bom rapaz e faz aquilo lá na televisão!” É bom saber que o teu trabalho é reconhecido. Mas nunca me deslumbrei e sei que nem sempre isso acontece. Por isso não me deslumbro quando sou abordado na rua ou quando me tecem elogios. Sinto uma enorme responsabilidade.

 

Falando em “mau”, o “Mau Vinho” é um trabalho escrito e realizado por ti. O objetivo deste projeto foi também divulgar a região? 

Já foi há muito tempo. Foi a primeira curta-metragem que escrevi e realizei. Tinha o Douro como paisagem e as gentes do Douro inspiraram a história. Foi uma encomenda do Douro Film Harvest e da faculdade de Trás-os-Montes e Alto Douro, onde dei aulas de cinema durante 15 anos. Desse projecto nasceram mais uma curta metragem e uma longa que até ganhou um prémio em Los Angeles. Foi uma época muito rica e pena tenho que não tenha dado mais frutos, até para divulgar uma das regiões mais bonitas de Portugal que tanto merece. Mas, na altura, os poderes vigentes que podiam ter dado continuidade a estas iniciativas estavam interessados noutras, que tinham mais a ver com cadeiras, urnas e etc. e tal. Para bom entendedor, meia palavra basta, certo? (risos).

 

Marcantónio Del Carlo. Nasceste na Rodésia e depois foste para Moçambique. Uma memória que guardes destes tempos de infância? Há algo de África que ainda inspire o teu modo de vida?

Julgo que a minha maneira de encarar a vida e o mundo tem muito a ver com o facto de ter nascido em África. O meu lado de sonhador tem tudo a ver com África, com o seu pôr do sol, que é único.

Dizes que herdaste muitas coisas boas dos teus pais. Podes falar-nos delas, das mais marcantes? Uma expressão de que te recordes dos teus pais?

Da minha mãe, herdei o prazer da escrita e do meu pai a forma sóbria de olhar para o que está à minha volta e saber ler nas entrelinhas da vida.

E os teus relacionamentos – o que te ensinaram eles? 

Ensinaram-me a acreditar que deves sempre querer lutar pelo dia de amanhã. O que hoje parece ser o fim, amanhã pode ser o recomeço de algo ainda melhor. Numa relação deves estar sempre atento aos pormenores. Uma flor oferecida num dia qualquer pode fazer a diferença. Uma palavra errada numa comemoração pode deitar tudo a perder.

Voltamos ao palco. Nos workshops que orientas, sobre “Técnica de Actor”, quais os principais conselhos/ensinamentos que transmites a quem pretende seguir a carreira de ator?

Não sou muito de dar conselhos. Nas muitas formações que dirijo ao longo do ano tento partilhar conhecimentos técnicos e não impor uma doutrina. Falo de tudo um pouco, mas acima de tudo tento explicar como eu me situo em palco ou em frente à uma câmara. Como encaro e me preparo para um casting. Como uso a minha voz e o meu corpo para dar vida a uma personagem. Quero que quem me procura como formador encontre o seu caminho através do meu.

Para as chamadas “brancas” em palco, existem “truques”? Como é que se dá a volta?

Não se dá! (risos)

Para alguém que acaba de pisar as tábuas e estrear-se no palco, como eu (Júlia Pinheiro), um bom conselho? 😊

Que não conseguimos nunca agradar a todos e é por isso que é tão difícil estar em cima do palco. Temos que saber lidar com a crítica, e levantar a cabeça quando percebemos que não estamos a agradar a uma plateia. Mas pelo que sei, não é o teu caso, pois o espetáculo que estás a fazer tem sido um grande sucesso. Já agora, parabéns por este novo passo na sua vida! Bem-vinda!

Próximos projetos? Profissionais e pessoais/sonhos?

O sonho comanda a vida! Eu vou atrás dele até a vida acabar. Por isso vou co-encenar e interpretar com o João Didelet no Teatro da Trindade/Fundação Inatel um grande texto do Javier Tomeo, Amado Monstro; vou começar a gravar este mês a próxima novela da SIC; e a dirigir já em setembro mais uma formação no âmbito do trabalho do ator perante uma cêmara de cinema/televisão. Podem ainda assistir em outubro à estreia do ultimo filme em que participei como ator, Submissão do Leonardo António.

 

Foto: Facebook Marcantónio del Carlo

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