Crónica, Mãe de S., uma criança especial

Às vezes precisamos de um balanço

O final do ano letivo: o balanço
por Ana, mãe de S., uma criança especial
Ana*, Mulher e Mãe, De Bem com a Vida

É impossível não recordar aquele primeiro dia de escola… é impossível não me lembrar dos receios, das dúvidas, das expetativas, em relação à entrada da S. no colégio que frequenta. Neste dia, em que termina o ano letivo, percorro a entrada daquele edifício que agora se tornou tão familiar e esboço um sorriso… Afinal a adaptação não foi tão difícil quanto seria de esperar e neste momento a S. não só desfruta da sua rotina na escola como evoluiu na compreensão, na sociabilidade e na comunicação.

Observo as caras à minha volta. Estes pais, com quem convivo agora diariamente, são pessoas extraordinárias que eu provavelmente não teria tido oportunidade de conhecer se a S. não tivesse o seu problema. Pessoas que têm uma vida familiar igual à de tantas famílias, mas que, para além de tentar conciliar a vida laboral com a vida familiar (muitos pais têm de deixar de trabalhar devido a constantes faltas por assistência em doença, consultas, tratamentos ou terapias) têm ainda uma preocupação acrescida: a da falta de autonomia de um dos filhos. E talvez por isso, têm também como que uma dose extra de energia, de proatividade, e, a maioria deles, de alegria.

Ouvem-se vozes e canções: são os professores, terapeutas e auxiliares a desfilarem até ao recinto de saída com os alunos. Foi um dia diferente na escola, de festejos de final de ano com jogos e brincadeiras. As crianças trazem uma medalha para assinalar o cumprimento dos objetivos; um prémio simbólico pelo esforço que desenvolveram ao longo do ano.

É impossível recordar aquele primeiro dia escola e não esboçar um sorriso… penso na evolução da minha filha ao longo deste ano: os choros no momento de se separar de mim, que ao início eram diários e pouco a pouco se tornaram a exceção; a expressão de curiosidade dos últimos tempos quando chegava à escola, como quem está a pensar “Hum… o que será que vamos fazer hoje?”, em vez da testa franzida de preocupação que expressava nos primeiros meses; a carinha feliz quando me mostrava o carimbo da cara sorridente pelo bom comportamento ao final do dia…

Reconheço ainda que foi agradável poder partilhar algumas responsabilidades relacionadas com a reabilitação da minha filha. Antes da entrada na escola, desdobrava-me entre as terapias externas e os exercícios que fazíamos em casa. Era uma angústia quando não conseguia cumprir o nosso plano. Com a entrada na escola, passei a ter mais tempo de mimos e brincadeiras porque parte dos exercícios já são feitos na escola. E isso faz diferença na dinâmica familiar.

Analisados os prós e os contras,partilho que o balanço deste primeiro ano escolar é muito positivo! É difícil sair da nossa zona de conforto, foi difícil a separação por várias horas do dia, e reconheço que também não foi fácil deixar entrar pessoas novas nas nossas rotinas.

Mas é um facto que as boas decisões não são necessariamente as mais fáceis. E  é tão bom quando às vezes intervalamos o papel de terapeuta para… sermos só mãe!

 

*Pedimos a Ana, mãe de S., uma criança de 4 anos com uma doença rara, que fosse partilhando connosco os seus passos, dificuldades, alegrias, tristezas . Este é uma forma de acompanhar situações de tantas outras Anas que existem pelo país fora. É uma forma de aprendermos a diferença e de contribuirmos para a educação da tolerância.

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