No Reino Unido, o Parlamento debate se as aulas nas escolas secundárias deverão atrasar para as 10h da manhã.
Tudo porque a sugestão de Hannah Kidner, 16 anos, transformou-se numa petição, assinada por 176 000 pessoas, o número que permitiu chegar ao Parlamento e ter resposta do Governo.
“Os adolescentes estão muito cansados por terem que acordar muito cedo, todos os dias, para irem para a escola”, diz a petição.
A petição tem conquistado visibilidade e o interesse dos media por vários motivos. O primeiro prende-se com a história do documento e a respetiva autora. Hannah Kidner tem 16 anos, e no final do ano passado, durante uma aula, escreveu no seu computador um desabafo que, ainda sem imaginar, daria origem a uma petição: “A escola deveria começar às 10h porque os adolescentes estão muito cansados”.
A frase pode gerar desdém ou risota. A verdade é que Hannah sentia-se realmente cansada. Naquele dia o alarme tinha tocado às 6h15, para, na aldeia remota onde vive, Hannah ter tempo de apanhar dois transportes distintos, de forma a chegar, em passo de corrida, à escola. Uma rotina esgotante e diária, que a adolescente analisou melhor na aula de biologia, quando o professor falou sobre a importância do sono. Hannah aprofundou a pesquisa e descobriu que o relógio biológico dos adolescentes é diferente e mais “tardio”. Descobriu ainda escolas em outros países que tinham já feito a experiência de atrasar o toque de entrada. E pôs-se a trabalhar. Ou seja, a escrever uma petição – uma ideia inspirada pelo professor de política que durante uma aula apresentou esta forma de contributo.
Problema? A petição necessitava de cinco apoiantes. Solução? Não foi difícil encontrar cinco alunos da turma que partilhassem da sua opinião. Dias depois, recebeu a notícia de que a petição tinha sido aceite. E deu o assunto como arrumado, até receber uma mensagem no instagram de um estanho que falava sobre a sua petição. Foi quando decidiu visitar pela primeira vez o site das petições online e deparar-se com aquela que era na altura a petição mais popular. A sua petição.
As mais de 176 mil assinaturas colocaram a petição no Parlamento e o Governo pronunciou-se há dias. Segundo relevou o gabinete de educação à imprensa, “o governo tem dado a todas as escolas a possibilidade de estabelecerem o seu horário, de forma a que as escolas tenham a autonomia de tomar decisões sobre os seus horários e duração do dia escolar”.
Vicki Dawson, CEO da associação The Children’s Sleep Charity, é uma das vozes pró-petição. “Na adolescência, há alterações no relógio biológico, os adolescentes tendem a libertar melatonina, a hormona do sono, mais tarde do que os adultos, o que significa que adormecem mais tarde também”.
Vicki explica que defende o horário das 10h por várias outras razões: além do sono e do consequente bem-estar e produtividade dos adolescente, este horário concilia-se melhor com os transportes e os horários dos empregos dos pais.
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