“A minha chegada à faculdade é uma prova de que a Paralisia Cerebral na minha vida é apenas um pormenor”, Rita Bulhosa
Fotos: AosOlhosdaRita – Facebook
Há quem a conheça por Rita, a filha de Mário Augusto, incontornável nome no jornalismo do cinema. Há quem a conheça por Rita, a criança que nasceu antes do tempo e a quem foi diagnosticada paralisia cerebral. Há quem a conheça por ‘O Sorriso da Rita’, uma associação que defende os direitos dos portadores de Paralisia Cerebral e inspirada em Rita. Pois, como ela diz, “quero que saibam que estou sempre a sorrir”. A Rita, apaixonada pela escrita, já lançou um livro. E tem um blog sobre o mundo que a rodeia e no qual escreve o que lhe vai na alma. Aos Olhos da Rita tem mais de 30 mil seguidores no facebook. A Rita entrou na universidade. A Rita soma conquistas. Todos os dias. Desde que aprendeu a fazer ouvidos moucos aos prognósticos que lhe foram tecendo ao longo da vida. A Rita que escreve que “a minha chegada à faculdade é uma prova que a paralisia cerebral na minha vida é apenas um pormenor”. Há dias recebeu a notícia que entrou em Ciências da Comunicação. Uma etapa de cada vez. Ao sabor da sua determinação. Rita partilha que a sua única opção é ir à luta. Foi assim que atingiu mais uma grande conquista. “Pela primeira vez na vida, finalmente consegui cruzar as pernas. O que dizer, que estou cada vez mais perto de conseguir voltar a vestir-me completamente sozinha.” Rita conta-nos que teve de “lutar muito para que uma coisa tão simples como cruzar as pernas acontecesse”. Determinada. Sonhadora. Sorridente. Há quem conheça a Rita. E ainda bem.
Acabas de receber a notícia de que entraste em Ciências da Comunicação. É mais uma vitória?
Sim, sem dúvida, é uma grande vitória e algo com a qual já sonhava há muito. Este último ano frequentei o curso de Som e Imagem na Universidade Católica do Porto e, embora também seja na área do audiovisual, sentia que aquilo não era para mim… Por isso, decidi mudar, porque acho que vamos sempre a tempo.
Foste diagnosticada com paralisia cerebral. E,certamente, recebeste prognósticos médicos, uns menos otimistas que outros. Como lhes deste ‘a volta’?
Desde que nasci que me apresentam prognósticos médicos… Com os anos e à medida que fui crescendo fui tentando dar a volta a todos eles e, até agora, todos foram superados com sucesso. Há sempre aquele choque inicial, mas depois percebo que não há outra opção senão ir à luta.
Neste processo de superação e inspiração, o que tem feito a diferença?
Sem dúvida que a atitude dos meus pais para com a minha deficiência e a forma serena com que sempre transmitiram a questão de “ser diferente” contribuíram muito para a atitude positiva que mantenho em relação à minha diferença.
A minha chegada à faculdade é uma prova (que faz confusão a muita gente!) que a Paralisia Cerebral na minha vida é apenas um pormenor.
Alguém te disse um dia “Não vai ser fácil. Não vais conseguir”?
Ao longo da vida, até mesmo atualmente, sempre tive e tenho pessoas que, mesmo vendo que já cheguei ao patamar onde estou, continuam a duvidar das minhas capacidades e a interrogar-se (imagino eu!) como é possível que eu tenha chegado onde cheguei.
Podes apresentar-nos a associação “O Sorriso da Rita”?
“O Sorriso da Rita” é uma associação, sem fins lucrativos, formada por mães de crianças com paralisia cerebral. Ao longo destes anos tem vindo a ajudar jovens com paralisia cerebral, nas mais diversas áreas como o pagamento de propinas para a conclusão dos seus estudos universitários.
De que forma a tua história /força/garra tem inspirado outras?
Recebo, diariamente, mensagens de pessoas a dizer que os meus textos lhes dão motivação e fazem com que as pessoas percebam que não estão sozinhos neste caminho inglório e, por vezes, cruel… Já encaro este projeto de forma séria e percebo que é de uma enorme responsabilidade fazer os outros sorrir perante as adversidades. A verdade é que ao longo destes anos já fiz algumas amizades giras.
“Pela primeira vez, na vida, finamente consegui cruzar as pernas”, contaste no teu blog. É uma conquista enorme…
É uma enorme conquista! Tive de lutar muito para que uma coisa tão simples como cruzar as pernas acontecesse. Desde que fui operada à coluna (já faz dois anos e meio) tive de reaprender muitas coisas. E, atualmente, com a ajuda do ginásio e da fisioterapia tenho conseguido fazer progressos, que fazem toda a diferença na minha vida, pois aos poucos vou ficando cada vez mais independente. Fiquei mesmo muito feliz….É algo que desejei e lutei mesmo muito para que pudesse ser possível. É difícil descrever em palavras…
Qual a maior lição de vida que recebeste até hoje e que usas como lema?
Desde pequena, mesmo quando ainda não sabia o que isso significava, repetia vezes sem conta a palavra determinação…E, a verdade é que a determinação é o meu lema. Acho que sem ela não teria conseguido chegar a lado nenhum.
Clique para rever o programa “Júlia” com Rita Bulhosa e o pai, Mário Augusto