A Mulher de Ferro do Paquistão

“Não consegui encontrar um herói na minha vida e por isso tornei-me num”, Muniba Mazari, artista, ativista e Embaixadora Nacional da ONU Mulheres do Paquistão.

Muniba Mazari casou aos 18 anos. Por vontade do pai e por respeito à tradição das famílias baloches (grupo étnico), em que uma jovem não pode desrespeitar a vontade do seu pai. “Nunca foi um casamento feliz”, conta neste seu testemunho (vídeo).

Dois anos após a celebração, o casal teve um acidente de carro. O marido terá adormecido ao volante, mas conseguiu sair a tempo da viatura. Ao contrário de Muniba, cuja operação de salvamento acabou por resultar numa fratura grave na coluna vertebral.

“Os dias seguintes no hospital foram um massacre terrível”, recorda. O médico trouxe-lhe a má notícia: “nunca mais poderá andar”. Muniba respirou fundo. Mas o médico voltou a visitá-la, com mais um choque de realidade: os danos da coluna tinham hipotecado as probabilidades de vir a ser mãe no futuro. “E fiquei devastada. Foi a partir daqui que comecei a questionar a minha existência“.

Um dia, Muniba voltou-se para os irmãos e disse-lhes que estava cansada das roupas e paredes brancas do hospital. Estava cansada da falta de cor na sua vida. Os irmãos trouxeram-lhe lápis e Muniba começou a pintar. ‘Que pinturas lindas’, diziam-lhe. Muniba ainda era uma mulher cheia de medos. Com um papel e caneta, decidiu então escrevê-los um a um, e enfrentá-los a todos. “E sabem qual era o meu maior medo? O divórcio”, partilha Muniba.

“Quando o meu ex-marido voltou a casar, escrevi-lhe uma mensagem: “estou muito feliz por ti e desejo-te o melhor do mundo”.

O segundo maior medo: não poder ser mãe. “Mas há tantas crianças no mundo que gostariam de ser adotadas. Não valia a pena chorar. Podia adotar uma criança. Foi o que fiz. Dei o meu nome a várias associações e orfanatos. Dois anos depois, ligaram-me de uma pequena vila do Paquistão. Tinham um bebé para adotar e perguntaram-me se estava interessada. E quando disse ‘sim’, praticamente senti a dor do parto. Sim, eu buscar o bebé”. Ele tinha dois dias. Hoje tem oito anos.

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Muniba Mazari e o filho

“Comecei a pintar. Já fiz trabalhos como modelo, sou convidada para programas de televisão. E tornei-me embaixadora da ONU, em representação das mulheres e crianças do Paquistão”, refere.

Muniba foi também eleita entre as 30 mulheres mais influentes com menos de 30 anos, pela revista Forbes (2016).

“Tudo começa a partir de dentro. Quando te aceitas como és, o mundo reconhece-te”, diz Muniba, atualmente com 32 anos.

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