Espaço Júlia

Espaço Júlia – Júlia, a vítima de violência doméstica que deu nome ao Espaço

“Perguntei aos vizinhos sobre Júlia. Todos me diziam que era uma excelente senhora. Mas quando lhes fiz perguntas sobre o relacionamento do casal, encolheram os ombros, manifestando que ‘entre marido e mulher não se mete a colher'”, Chefe João Sousa Dias.

Espaço Júlia – RIAV (Resposta Integrada de Apoio à Vítima)

25 Setembro 2011. O Chefe João Sousa Dias está de serviço quando recebe uma chamada de um homem a dar conta de uma morte, numa habitação localizada a dois minutos da esquadra. Sem perder tempo, desloca-se à casa visada e é o primeiro oficial a presenciar o crime de violência doméstica. Júlia, uma idosa de 77 anos, foi assassinada, na sequência de uma discussão ao pequeno-almoço, pelo seu marido, com quem vivia há 30 anos, tendo sido o próprio a contactar a polícia e a identificar-se como homicida.

Espaço Júlia - Júlia, a vítima de violência doméstica que deu nome ao Espaço Espaço-Julia

Espaço Júlia

João Sousa Dias conta que nunca esqueceu o cenário que presenciou. Um crime sem qualquer alerta emitido antes para a polícia mas do conhecimento da vizinhança: “perguntei aos vizinhos sobre Júlia. Todos me diziam que era uma excelente senhora. Mas quando lhes fiz perguntas sobre o relacionamento do casal, encolheram os ombros, manifestando que ‘entre marido e mulher não se mete a colher'”.

O episódio de Júlia marcou toda a população envolvente. E atualmente há um antes e depois de Júlia. Nasceu em 2015, graças à vontade e à iniciativa da Junta de Freguesia de Santo António, com o Comando Metropolitano de Lisboa da Polícia de Segurança Pública e com o Centro Hospitalar Lisboa Central.

O Espaço Júlia, em homenagem a Júlia, fica na mesma rua da casa onde vivia a idosa, e foi pensado para dar uma resposta integrada às vítimas de violência doméstica. Uma resposta que falta em muitas esquadras do país é aqui uma realidade: apoiar e acompanhar as vítimas de violência doméstica, 365 dias por ano, 24 horas por dia, com técnicos especializados.

No Espaço Júlia, trabalham 10 agentes das PSP – 5 agentes masculinos e 5 agentes femininos com Formação na área da Violência Doméstica e em Atendimento de Vítimas; o signatário (Chefe da PSP e Formador da PSP  na área da Violência Doméstica); dois técnicos de Apoio à Vítima da Junta de Freguesia de Santo António (com Formação TAV da Comissão de Cidadania e Igualdade de Género), nos quais se inclui a Directora Técnica do Espaço Júlia, Inês Carrolo.

Desde julho de 2015, data de abertura do Espaço Júlia, foram recebidas 1573 denúncias. Só em 2019 (1 setembro a 19 setembro) foram já recebidas 285 denúncias – a maior parte delas (224) são mulheres entre os 25 e os 44 anos, sendo que há ainda uma percentagem de menores de 18 anos (10 denuncias em 2019). 

“As ocorrências do Espaço Júlia, por norma, são complexas e sensíveis, uma vez que envolvem vítimas especialmente vulneráveis de diversas idades, de diversos estratos sociais. As ocorrências mais complicadas são as que envolvem abusos sexuais e violações de crianças, não só pela natureza do crime mas também pelos procedimentos técnicos e pelas medidas de polícia que é necessário adoptar com urgência”, referem os responsáveis do Espaço.

É para o Espaço Júlia que são conduzidos todos os casos de Violência Doméstica, Violações, Abusos Sexuais sinalizados pelas unidade de saúde das Urgências de Pediatria do Hospital Dona Estefânia e Urgências do Hospital de São José. “No entanto qualquer pessoa que que se dirija a este espaço será atendida. Se necessário, a vítima será encaminhada para um local seguro, gerido por entidades com as quais mantemos parcerias”, acrescenta a Junta de Freguesia de Santo António.

 

Foto: Banco de Imagem Photo by Cristian Newman on Unsplash

 

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